O presidente Volodimir Zelensky pediu nesta quinta-feira (24) à Otan que "salve" a Ucrânia com uma "ajuda militar sem restrições" para permitir ao país passar da resistência ao ataque contra as tropas russas, que há exatamente um mês iniciaram a ofensiva.
Zelensky fez o pedido por mensagem de vídeo divulgada durante uma cúpula extraordinária da Otan em Bruxelas e interveio também nas reuniões do G7 de potências econômicas e da União Europeia (UE) realizadas na capital belga.
Aos líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Zelensky denunciou o uso de bombas incendiárias e os ataques indiscriminados contra zonas civis pelo exército russo.
A Rússia "usa sem restrições todo seu arsenal contra nós" e, consequentemente, "para salvar seu povo e suas cidades, a Ucrânia precisa de uma ajuda militar sem restrições", completou.
Ao G7, Zelensky afirmou ver um risco "real" do presidente russo, Vladimir Putin, contrariado pelas dificuldades que suas tropas têm encontrado no campo de batalha, autorizar o uso de armas químicas.
Os países da Otan, que se disseram igualmente "preocupados" pelo possível uso deste tipo de arsenal, "concordaram em dar equipamentos para ajudar a Ucrânia a se proteger contra ameaças químicas, biológicas, radiológicas e nucleares", informou o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarou que a Otan está "mais unida que nunca" e que "responderá" caso a Rússia recorrer a armas químicas.
Em Nova York, a Assembleia Geral da ONU pediu pela segunda vez o "cessar imediato" das hostilidades russas na Ucrânia e o fim dos ataques contra civis. A resolução, não vinculante, foi adotada por 140 votos a favor, 4 contra e 38 abstenções, evidenciando o isolamento diplomático de Moscou.
"Grande erro"
Zelensky quer que a Otan entregue à Ucrânia aviões de combate avançados, sistemas de defesa antimísseis, tanques, veículos armados e mísseis antinavios.
"Nestas três cúpulas veremos quem é amigo, quem é parceiro e quem nos traiu por dinheiro", declarou o líder ucraniano.
Os membros da Otan mantêm um envio constante de armas à Ucrânia, mas principalmente de dispositivos defensivos.
Os Estados Unidos indicaram que os aliados poderiam fornecer mísseis antinavios e anunciou que doará US$ 1 bilhão a mais em ajuda humanitária à Ucrânia. Também propuseram acolher 100.000 refugiados ucranianos.
Na Ucrânia, o Parlamento aprovou um projeto de lei que prevê 12 anos de prisão para qualquer pessoa que "coopere" com a Rússia, "o inimigo".
No campo de batalha, os movimentos militares importantes pareciam interrompidos, uma pausa atribuída pelo Instituto americano para o Estudo da Guerra (ISW) à necessidade russa de reforçar seus efetivos e reorganizar suas operações.
No leste, as forças russas estão presentes nas imediações da cidade de Kharkov, mas ainda não conseguiram cercar a cidade.
Os bombardeios contra essa localidade mataram nesta quinta-feira pelo menos seis civis e feriram mais de um dúzia, de acordo com as autoridades ucranianas.
Pelo menos quatro pessoas, incluindo duas crianças, morreram em outros ataques no leste da Ucrânia, indicou o governador de Lugansk, Serguii Gaidai, que acusou as forças russas de usar bombas incendiárias contra a população de Rubizhne.
A marinha ucraniana garantiu que destruiu um navio de transporte militar russo no mar de Azov, perto da cidade assediada de Mariupol.
A Rússia "enfrenta uma maior resistência do que se esperava", disse Stoltenberg, para quem Putin cometeu um "grande erro" ao ordenar a invasão.
"Triste realidade"
Desde o início da invasão, mais de 10 milhões de ucranianos -cerca de um quarto da população do país- precisou abandonar seus lares. Entre os deslocados há 4,3 milhões de crianças, segundo a Unicef.
"É uma triste realidade que corre o risco de ter consequências duradouras para as próximas gerações", declarou a diretora-geral da Unicef, Catherine Russell.
Dos 10 milhões de deslocados, 3,7 milhões fugiram para o exterior, de acordo com dados da ONU.
"Una nova fase de terror" em Mariupol
De acordo com Zelensky, há cerca de 100.000 pessoas presas em Mariupol sem comida, água ou eletricidade, submetidas a bombardeios russos.
O ministro ucraniano de Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, tuitou que Moscou iniciou "uma nova fase de terror contra Mariupol", deportando à força cerca de 6.000 residentes.
O líder da República Russa da Chechênia, Ramzan Kadyrov, garantiu no Telegram que seus militares assumiram o gabinete do prefeito da cidade, embora essa informação não possa ser verificada de forma independente.
Em Zhytomyr, uma cidade a oeste de Kiev, um bombardeio russo atingiu uma escola.
"É difícil, é muito difícil", disse Vasiliy Kravushuk, funcionário de uma organização de turismo cujo filho de 6 anos deveria começar a estudar na instituição no próximo ano.
"Todos os dias, 20 ou 30 vezes vamos ao porão [para nos abrigar]. É muito difícil porque minha esposa está grávida, tenho um filho pequeno", explicou Kravshuk, com lágrimas nos olhos.
Contra o ouro russo
Estados Unidos e Reino Unido anunciaram mais sanções contra deputados, magnatas e entidades russas.
A Bolsa de Moscou reabriu parcialmente, pela primeira vez desde o início da invasão. Os membros do G7, depois da reunião desta quinta-feira, se disseram prontos para adotar "sanções adicionais" contra a Rússia.
O G7 e a UE concordaram em bloquear as transações que envolvam as reservas de ouro do Banco Central da Rússia, para impedir que Moscou se esquive das sanções ocidentais, indicou a Casa Branca.
Na Rússia, os cidadãos já começam a notar a escassez de alguns bens e o repentino desaparecimento de marcas ocidentais.
Mas são os civis ucranianos que sofrem o maior impacto da guerra.
"Será preciso mais ajuda maciça para a Ucrânia nas próximas semanas", alertou Michael Ryan, diretor de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS).
"Nunca havia visto necessidades tão complexas e repentinas em uma crise, que se desenvolveu muito rapidamente", completou.
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