Sete meses após a tomada do poder pelos talibãs no Afeganistão e a consequente proibição de aprendizagem a adolescentes entre 12 e 19 anos, o regime ditador permitiu a volta do funcionamento das escolas de ensino médio nesta quarta-feira (23/3). No entanto, após poucas horas da chegada das alunas nas instituições, o governo voltou atrás e determinou o retorno das jovens para casa.
Uma equipe da Agência France-Presse (AFP) estava em um colégio em Cabul, um dos maiores da capital, e viu o momento em que um professor ordenou que as alunas retornassem para a casa. As alunas deixaram o local às lágrimas.
"Vejo minhas estudantes chorando e relutantes em deixar a aula", afirmou Palwasha, professora na escola para mulheres Omra Khan de Cabul, à France-Presse. "É muito doloroso ver as suas estudantes chorando", acrescentou.
O porta-voz do talibã, Inamullah Samangani, se limitou a confirmar os fatos. “Sim, é verdade”, disse à AFP. Já o porta-voz do ministério da Educação, Aziz Ahmad Rayan disse que ele não estava “autorizado a comentar”.
As escolas de ensino médio para mulheres foram as únicas que permaneceram proibidas após o retorno das aulas presenciais em setembro de 2021, dois meses após a tomada de poder do talibã — o grupo passou a liderar o país em 16 de agosto de 2021.
Na época, as instituições de ensino estavam fechadas devido à pandemia da covid-19 e após a flexibilização das medidas restritivas, apenas o ensino básico para meninas foi permitido pelo regime.
A ONU e outras instituições de ensino pressionaram o talibã para liberar as escolas e não repetir a repressão ocorrida durante o mandato anterior dos talibãs, entre 1996 e 2001, no qual foi proibida qualquer grau de educação para meninas e mulheres.
Após a pressão internacional, o regime afirmou, ainda em setembro do ano passado, que iria, sim, permitir o acesso educacional às mulheres, mas em espaços diferentes dos homens.
Desde o início do regime, o talibã excluiu as cidadãs afegãs de empregos públicos, impôs maneiras de se vestir e proibiu-as de viajarem sozinhas para fora da cidade em que moram.