A explosão sacudiu Lviv (oeste), a apenas 70km da fronteira com a Polônia, por volta das 6h (1h em Brasília). "Foi o primeiro ataque dentro da cidade. Houve um anterior nos arredores. Dessa vez, eles bombardearam uma fábrica de reparo de aeronaves", contou ao Correio a jornalista ucraniana Iryna Matviyishyn, 29 anos, moradora da periferia de Lviv. "Na hora, eu estava no porão de casa, pois as sirenes antiaéreas tinham acabado de soar. Amigos que vivem perto do aeroporto escutaram uma série de explosões, e meu irmão viu uma coluna de fumaça na área", acrescentou. Para ela, a ofensiva inédita em Lviv sugere uma tentativa das forças russas de destruírem a infraestrutura e se insere em um componente psicológico. "Querem que nós, ucranianos, nos sintamos inseguros em qualquer lugar", disse Iryna, por telefone.
A voz transparecia o cansaço pelas noites maldormidas. "Temos que acordar no meio da madrugada com as sirenes antiaéreas. É uma tática muito cínica de Vladimir Putin atacar durante a escuridão ou nas primeiras horas da manhã. Um terror psicológico", denuncia a jornalista, que nem sequer cogita deixar a cidade. "Lviv é minha terra natal. Espero ficar aqui, e me manter relativamente segura. No começo da guerra, eu tinha medo. Agora, não mais", desabafou.
O prefeito de Lviv, Andriy Sadovyi, explicou que a fábrica de reparo de aeronaves tinha sido desativada e, por isso, não houve baixas. O bombardeio é visto com preocupação especial pela comunidade internacional por ter ocorrido às portas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), da qual a Polônia é país-membro. Um ataque a qualquer nação integrante da aliança militar ocidental poderia desencadear uma reação em cadeia.
Natural de Sumy (leste), a gerente de projetos Karine Makarian, 30, mora em Lviv há um ano. "Lviv, assim como outras cidades da região mais ocidental da Ucrânia, tornou-se um lugar onde as pessoas que abandonaram suas casas por causa da agressão russo poderiam se sentir seguras e 'normais'. Mas a guerra não se resume mais apenas a leste, ao sul ou perto de Kiev. Os russos querem destruir nosso país, nossa nação, todos nós. Eles não vão parar", disse ao Correio.
Quando escutou as sirenes antiaéreas, no início da manhã de ontem, Karine correu imediatamente para o abrigo e entrou em contato com amigos. "Dessa vez, não fiquei assustada. Senti medo quando ouvi o som das sirenes pelas primeiras vezes. Quando oito dos 30 foguetes atingiram um alvo militar nas imediações de Lviv. Eu sabia que não seria a última vez, que haveria mais."