O presidente francês, Emmanuel Macron, candidato à reeleição em abril, apresentou nesta quinta-feira (17) seu projeto para uma França "mais independente" em nível energético, agrícola e militar, inspirado nas lições da pandemia e da guerra na Ucrânia.
Reduções de impostos de 15 bilhões de euros (16,6 bilhões de dólares), atraso da idade da aposentadoria... Macron também retomou seu perfil mais liberal, que deixou de lado durante seu mandato devido às crises sociais e à pandemia.
"É um programa cujo o objetivo é proteger nossos cidadãos, nossa nação e emancipar a todos", resumiu o político de centro, em coletiva de imprensa nos arredores de Paris, alertando para as eventuais "futuras crises".
Macron se tornou em 2017 aos 39 anos o presidente mais jovem da França com uma agenda reformista, europeísta e liberal, mas as crises sociais, a pandemia e a guerra na Ucrânia o obrigou a mudar seu espectro político.
Sua visão para um próximo mandato até 2027 aprofunda a já adotada nos últimos meses: avançar até transformar a França em um país menos dependente de países terceiros, dentro de uma União Europeia (UE) "mais forte".
Macron reiterou sua intenção de alcançar a neutralidade de carbono até 2050 e reduzir sua dependência de gás e petróleo, impulsionando sua principal fonte de eletricidade, a energia nuclear (70% em 2020), e as renováveis.
Impulsionar o interesse dos mais jovens pela agricultura e produzi-la mais do que atualmente produz são outros dos seus objetivos, além disso, o desenvolvimento de indústrias "100% francesas" em setores estratégicos como as renováveis e os veículos elétricos.
Sobre as lições da guerra na Ucrânia, Macron comemorou sua política de retomar o aumento do gasto militar, que superou em 2020 os 2% do PIB - objetivo da OTAN -, e prometeu elevá-lo mais para "poder enfrentar uma guerra de alta intensidade".
Um programa de 50 bilhões
O ex-banqueiro, a quem a ofensiva russa na Ucrânia reforçou a imagem de favorito, busca, ainda, retomar sua agenda reformista, começando por sua controversa proposta de retardar a idade da aposentadoria para os 65 anos.
"É normal, sobretudo tendo em vista a situação atual das contas públicas e da realidade, que trabalhemos mais", assegurou Macron, após responder a 350 jornalistas sobre a qualidade dos cuidados em uma sociedade que envelhece.
A referência às finanças não é trivial. A pandemia de covid deu origem a um plano de resgate maciço no nível da UE, mas deteriorou as contas públicas. A França prevê uma dívida de 113% do PIB e um déficit de 5% em 2022.
Ex-ministro da Economia, Macron prometeu saná-las, reduzindo o déficit abaixo do limite europeu de 3% para 2027, apesar de que suas promessas eleitorais custem 50 bilhões de euros anuais (55,5 bilhões de dólares).
Quase € 15 bilhões correspondem a reduções de impostos a empresas e famílias - "meio a meio" -, explicou o líder do A República em Marcha (LREM), que busca responder à preocupação sobre a perda do aquisitivo.
As reformas trabalhistas e de pensões, e a simplificação administrativa permitirão economizar 15 bilhões de euros cada uma. Os € 20 bilhões restantes seriam usados para reduzir o custo do funcionamento da administração.
"Pleno emprego"
O mercado de trabalho paira sobre suas propostas sociais, especialmente quando Macron pretende alcançar o "pleno emprego" nos próximos cinco anos. A educação, com maior liberdade para os centros de ensino, e a saúde serão duas de suas prioridades.
O acesso à permissão de residência de longa duração será endurecido com uma prova de francês e a necessidade de provar uma integração profissional. Ele também propôs reforçar o controle fronteiriço.
O dirigente de centro, que reconheceu "erros" durante seu primeiro mandato, revelou seu programa a 24 dias do primeiro turno da eleição presidencial, em um contexto de favoritismo para sua reeleição no segundo turno de 24 de abril.
Segundo uma pesquisa recente da Harris Interacive publicada na quarta-feira, Macron liderava no primeiro turno com 30% das intenções de voto, seguido pela candidata da extrema direita Marine Le Pen (19,5%) e pelo esquerdista Jean-Luc Mélenchon (13,5%).
Seus rivais, porém, alertam para o risco que corre a "legitimidade" de seu programa por sua negativa de participar de debates, optando por "conversas" com franceses e coletivas de imprensa de quatro horas.
Seu primeiro comício será em 2 de abril, em Paris.