Guerra no leste europeu

Guerra na Ucrânia: Civis fogem por 26 corredores humanitários

Pelo menos 150 mil civis deixaram a Ucrânia por meio das passagens abertas em quatro localidades. Em Mariupol, no sul do país, comboio de 210 veículos conseguiu atravessar bloqueio russo e abandonar a cidade, que contabiliza 2 mil mortos

Eles deixaram para trás um cenário de filme de terror. Mais de 2 mil corpos sepultados em covas coletivas; civis trancados, na escuridão de suas casas, sem aquecimento; bombas caindo sobre áreas residenciais; moradores obrigados a derreter o gelo ou a buscar a água acumulada nos telhados. Depois de quase duas semanas de cerco militar russo, centenas de pessoas conseguiram fugir do pesadelo no qual se transformou a cidade portuária de Mariupol, no sul da Ucrânia. Às 13h de ontem (8h em Brasília), pelo menos 210 carros particulares saíram em comboio em direção à cidade de Zaporizhzhia. Quase 150 mil pessoas deixaram a Ucrânia por corredores humanitários desde que a Rússia começou a invasão ao país.

"Ativamos 26 corredores humanitários. Graças a eles, os ônibus conseguiram evacuar um grande número de pessoas. Podemos dizer que são cerca de 150 mil pessoas", disse o vice-diretor do gabinete presidencial ucraniano, Kyrylo Tymoshenko, citado pela agência de notícias Interfax-Ucrânia. Esses corredores estão operando nas regiões de Kiev, Sumy (350km a nordeste da capital), Kharkiv (nordeste do país) e Zaporizhia (leste), de acordo com Tymoshenko. Além disso, nas regiões de Donetsk e Lugansk, dois territórios controlados por separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia, civis também conseguiram fugir dos combates usando corredores humanitários, relatou ele.

Somente ontem, 4 mil ucranianos tiveram êxito em utilizar os corredores humanitários. As tropas russas têm sido acusadas de bombardear essas rotas de fuga — o que configura uma violação do direito de guerra. Se o comboio que partiu de Mariupol foi bem-sucedido, o mesmo não ocorreu com outros carros com ajuda humanitária que faziam o caminho inverso e tentavam chegar à cidade. Mais uma vez, foram bloqueados por soldados russos, em Berdiansk, a 85km de Mariupol, segundo autoridades ucranianas.

Em conversas com o primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zolonsky, sublinhou a necessidade de assegurar o funcionamento dos corredores humanitários, especialmente em Mariupol.

Saiba Mais

Grávida

As imagens de uma grávida sendo resgatada de uma maternidade em Mariupol, após bombardeio russo, rodaram o mundo e se tornaram um símbolo dos horrores da guerra iniciada pelo presidente Vladimir Putin. Ontem, a agência Associated Press informou que a mulher e o bebê não resistiram.

A gestante foi levada às pressas para outro hospital, bem próximo à linha de frente, onde os médicos trabalharam para mantê-la viva, depois que o bebê nasceu morto, no sábado, dois dias depois do ataque aéreo. O cirurgião Timur Marin encontrou a pélvis da mulher esmagada e o quadril descolado. "Mais de 30 minutos de reanimação da mãe não produziram resultados", lamentou Marin. "Ambos morreram."

Mansões invadidas

Alvo de sanções da comunidade internacional, magnatas russos também têm enfrentado, nos últimos dias, ações de manifestantes indignados com o alinhamento deles ao governo de Vladimir Putin. Em Londres, um grupo ocupou, ontem, uma mansão que pertenceria a um "oligarca", localizada em bairro nobre. "Temos a intenção de usar esse prédio para acolher refugiados", disse um dos invasores.

Quatro manifestantes, três deles com o rosto parcialmente coberto, foram a uma das varandas e se apresentaram sob o nome de London Makhnovists, um grupo anarquista. Eles penduraram duas faixas — uma azul, com a frase "esta propriedade foi liberada", e outra vermelha, dizendo "f.. Putin" — em duas sacadas do imponente edifício na Belgrave Square. Em uma janela, uma bandeira ucraniana se destacava.

A mansão foi cercada por um cordão policial e protegida por meia dúzia de veículos policiais. Situada perto do Hyde Park, a propriedade pertence a uma empresa registrada nas Ilhas Virgens Britânicas. É administrada por Graham Bonham Carter, um empresário britânico, cujas contas bancárias foram congeladas no início do mês pela Justiça britânica.

Carter cuida do portfólio de Oleg Deripaska no Reino Unido. Deripaska foi um dos sete milionários russos alvo das sanções anunciadas na quinta-feira passada, pelo governo britânico, por laços com o Kremlin.

Detenções

Em Biarritz, na França, três homens foram detidos por ocupação de uma mansão de propriedade do ex-genro de Putin. Os invasores hastearam a bandeira ucraniana. A mansão de Kirill Shamalov está situada na vila Alta Mira. Segundo a mídia internacional, o empresário foi casado com Yekaterina Tikhonova, a caçula do presidente russo.

No fim de fevereiro, a área externa de uma propriedade em Anglet, perto de Biarritz, foi destruída. A casa pertence a uma empresa imobiliária não comercial de Liudmila, ex-mulher de Putin, e de seu atual marido.