Carros particulares conseguiram sair da cidade ucraniana de Mariupol na segunda-feira (14/3), de acordo com a Prefeitura.
Tentativas de evacuar os civis presos em Mariupol - que tem uma população de 400 mil pessoas - falharam na semana passada. Os planos tiveram que ser adiados devido aos contínuos bombardeios russos.
Mas, às 13h do horário local (7h de Brasília), 160 carros deixaram a cidade pelo corredor humanitário que dá acesso à cidade de Berdyansk, ocupada pelos russos. A informação foi divulgada pela Prefeitura em um post no Telegram.
Mariupol está cercada há quase duas semanas. O importante centro portuário, localizado no sudeste do país, vem sofrendo constantes bombardeios.
O coordenador de emergência da organização Médicos Sem Fronteiras na Ucrânia, Alex Wade, descreveu as condições em Mariupol no final de semana como "horripilantes", com pouco acesso a comida ou água corrente.
A estimativa de Kiev é de que, só em Mariupol, mais de 2,5 mil civis tenham sido mortos até agora.
O drama de Mariupol
Mariupol está sofrendo "constantes ataques aéreos, bombardeios e alguns confrontos diretos nas rua", disse o vice-prefeito, Serhiy Orlov, à BBC.
Milhares de civis estão presos na cidade, enquanto as tropas russas seguem disparando foguetes e bombas. Muitos edifícios já foram destruídos.
Autoridades da cidade dizem que há uma necessidade desesperada de comida, água, remédios e eletricidade. "A crise humanitária e o genocídio continuam", diz Orlov.
Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), desde a semana passado os moradores brigam entre si por comida e roubam combustível dos carros de outros.
Todas as lojas e farmácias foram saqueadas e, como não há abastecimento de gás e a temperatura à noite cai bastante, é muito difícil se manter aquecido.
A equipe do CICV em Mariupol alertou que as pessoas já estão ficando doentes.
Na quarta-feira passada (9/3), três pessoas - incluindo uma criança - foram mortas e 17 ficaram feridas em um ataque que destruiu uma maternidade e uma ala infantil de um hospital.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, diz que o ataque foi um crime de guerra.
Mariupol é um alvo estratégico importante para a Rússia, porque tomá-la permitiria que rebeldes apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia unissem forças com tropas na Crimeia, península anexada pela Rússia em 2014.
Valas comuns
Os constantes bombardeios russos estão forçando moradores de algumas cidades ucranianas a enterrar seus mortos em valas comuns improvisadas. Muitas vítimas não foram sequer identificadas.
"Não podemos enterrar [as vítimas] em covas particulares, porque elas estão fora da cidade, e o perímetro é controlado por tropas russas", relatou Serhiy Orlov à BBC sobre a situação em Mariupol.
Em Bucha, no subúrbio de Kiev, 67 corpos foram enterrados em uma vala, disse um parlamentar local à BBC. Um médico postou um vídeo do enterro no Facebook.
A cidade sitiada de Chernihiv, no norte do país, também está usando valas temporárias, já que os combates tornaram o cemitério principal inacessível.
Os enterros sem qualquer tipo de celebração são chocantes para a população ucraniana, que valoriza ritos cristãos no momento da morte e tem lembranças amargas dos massacres da 2ª Guerra Mundial.
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