Guerra na Europa

Exército russo fecha o cerco a Kiev e Mariupol

Cidades resistem como podem ao avanço das tropas invasoras. Presidente Zelensky diz que 79 crianças morreram até agora

As forças russas se posicionaram em torno de Kiev, na manhã de sábado (12/3), bombarderam áreas civis de outras cidades ucranianas, incluindo um hospital de Mykolaiv e bairros civis de Mariupol, cidade portuária do Sudeste sob ataque há duas semanas.


Bombas e mísseis russos atingiram o aeroporto de Vasylkiv, a cerca de 40km ao sul de Kiev, onde um depósito de gasolina pegou fogo, segundo o prefeito da cidade. Os subúrbios do noroeste da capital, como Irpin e Busha, estão sob ataque russo há dias, enquanto os blindados de Moscou avançam ao longo do eixo nordeste. O assessor da Presidência ucraniana, Mikhailo Podolyak, afirmou que a capital “está sitiada”.


O exército ucraniano indicou que as tropas russas concentram seus esforços na capital, em Mariupol e em cidades da região central do país, como Krivói Rog, Nikopol e Zaporizhzhia. A mídia local também informou a ativação de sirenes antiaéreas em Odessa, Dnipro e Kharkiv.


Em uma transmissão para milhares de pessoas que se reuniram em uma praça de Florença (Itália) para apoiá-lo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, destacou a morte de 79 crianças vítimas da guerra. Depois, em entrevista coletiva, informou que cerca de 1,3 mil militares ucranianos foram mortos desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.


Zelensky disse ainda que o exército russo perdeu “cerca de 12 mil homens”, o que representa uma “relação de 1 para 10 (em relação aos soldados mortos do lado ucraniano), o que, no entanto, não me deixa feliz”, declarou. Em 2 de março, o exército russo — que mobilizou cerca de 150 mil soldados para a guerra — divulgou ter perdido 500 militares em combate, número que não foi atualizado desde então. O Pentágono, por sua vez, estimou as baixas russas entre 2 mil e 4 mil combatentes.
Flagelo


Após 12 dias sob ataque, os habitantes de Mariupol, no Mar de Azov, estão incomunicáveis, sem água, gás ou eletricidade. Há briga até para conseguir comida. É uma situação “quase desesperadora”, alertou a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF).


“O inimigo ainda está bloqueando Mariupol”, disse o presidente ucraniano Volodimir Zelensky. “As tropas russas não deixaram nossa ajuda entrar na cidade”, criticou, prometendo uma nova tentativa para levar suprimentos e retirar moradores.


“Mariupol atacada é atualmente a pior catástrofe humanitária do planeta. São 1.582 civis mortos em 12 dias, enterrados em valas comuns, como esta”, disse o diplomata-chefe da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em um tuíte acompanhado da foto de uma vala com cadáveres.


Enquanto isso, na cidade de Mykolaiv, no Sul, um hospital foi incendiado e muitos moradores tiveram que fugir. “Eles estão atacando áreas civis, sem nenhum alvo militar. Aqui há um hospital, um orfanato e uma clínica oftalmológica”, disse o chefe do hospital, Dmytro Lagochev.


A crise humanitária está se agravando, com quase 2,6 milhões de pessoas exiladas da Ucrânia desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro, segundo dados da ONU. A eles devem ser adicionados cerca de dois milhões de deslocados internos, disse o chefe da Agência da ONU para Refugiados (Acnur), Filippo Grandi.


Por sua vez, o presidente russo, Vladimir Putin, sem apresentar provas, acusou as forças ucranianas de “violações flagrantes” do direito humanitário e, em conversas telefônicas, pediu a seu homólogo francês, Emmanuel Macron, e ao chanceler alemão, Olaf Scholz, que pressionem Kiev a acabar com elas. Segundo nota do Kremlin, Putin citou como exemplo de violações “assassinatos extrajudiciais de opositores”, “tomada de reféns por civis” e seu “uso como escudo humano”.


Macron e Scholz também conversaram por telefone com Zelensky, que pediu ajuda para libertar o prefeito da cidade de Melitipol, no Sul, que, segundo as autoridades locais, foi sequestrado por soldados russos no dia anterior.


Vodca e caviar


Os Estados Unidos e seus aliados ocidentais continuam exercendo pressão econômica sobre Moscou, abrindo a porta para tarifas punitivas e menos comércio com o país. A União Europeia e o G7 uniram-se a Washington para revogar o status de “nação mais favorecida” da Rússia, que facilita a troca de bens e serviços. Além disso, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou a proibição das importações de peixes, frutos do mar, vodka e diamantes russos. Além da pressão econômica, os países ocidentais enviaram equipamentos militares para a Ucrânia, mas evitam um confronto direto entre a Otan e Moscou, o que, nas palavras de Biden, provocaria a “Terceira Guerra Mundial”.


A Rússia avisou, ontem, que poderá atacar comboios que levem armamento para a resistência ucraniana. “Nós alertamos os Estados Unidos que a entrega de armas que eles estão orquestrando, de vários países, não é apenas um ato perigoso, mas, também, transforma esses comboios em alvos legítimos”, alertou o vice-chanceler russo, Sergei Ryabkov.

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