Confrontadas ao pior surto epidêmico em dois anos, provocado em grande parte pela variante ômicron do coronavírus, as autoridades chinesas ordenaram nesta sexta-feira (11/3) o confinamento dos nove milhões de habitantes da cidade de Changchun, no nordeste do país.
Assim, os habitantes desta cidade terão de permanecer em suas casas e apenas uma pessoa por lar poderá sair uma vez a cada dois dias, informou a prefeitura, que prevê submeter toda a população a testes de detecção da covid.
Este é o maior confinamento anunciado pela China desde o imposto na metrópole de Xi'an (norte), quando 13 milhões de habitantes foram postos em quarentena no final do ano passado por um mês.
A prefeitura ordenou o fechamento de escolas e lojas e a interrupção do transporte público. É proibido sair da cidade, que registrou centenas de casos nos últimos dias.
Changchun, a cidade da "primavera eterna", é a capital da província de Jilin, que faz fronteira com a Coreia do Norte.
A China, onde o vírus foi detectado pela primeira vez no final de 2019, interrompeu a epidemia rapidamente, na primavera de 2020, adotando medidas de confinamento muito rígidas que afetaram cidades inteiras.
O gigante asiático conseguiu controlar, em grande medida, o avanço dos contágios, chegando a um balanço oficial de pouco mais de 100.000 casos - 4.636 deles fatais - em dois anos.
A variante ômicron provocou, no entanto, surtos localizados. Nas últimas 24 horas, 1.369 casos foram registrados, segundo o Ministério chinês da Saúde.
Trata-se de um valor ainda muito baixo em comparação com o restante do mundo, mas é o mais alto registrado pela China desde a primeira fase da pandemia, no início de 2020.
Desse total, as autoridades registraram 158 casos importados e 814 casos assintomáticos que fazem parte de uma contagem em separado.
Dado o aumento de casos, o país anunciou que vai introduzir pela primeira vez a utilização de testes rápidos de antigênios, que podem ser adquiridos em hospitais, "farmácias, plataformas de vendas online e outros canais".
"Refinar medidas"
O pico epidêmico ocorre enquanto em Hong Kong (sul) as infecções estão fora de controle, com hospitais transbordando de pacientes e a população local saqueando supermercados, em pânico, com medo do confinamento.
Na cidade, 73% dos refugiados e requerentes de asilo têm "sérias" dificuldades para se alimentar, pois não conseguiram comprar alimentos entre o final de fevereiro e o início de março, segundo um estudo publicado nesta sexta-feira pela organização Refugee Concern Network (RCN).
"Essa situação sugere que os 14.000 refugiados e requerentes de asilo em Hong Kong estão enfrentando uma situação humanitária catastrófica", disse o RCN em comunicado. Cerca de 120 refugiados participaram do estudo.
Um cientista chinês declarou na semana passada que o país deveria tentar conviver com o vírus e que as autoridades poderiam abandonar sua estratégia de covid zero em "um futuro próximo".
Pouquíssimos chineses foram infectados com a covid e a imunidade coletiva vem quase inteiramente de vacinas fabricadas no país, segundo o especialista Zeng Guang, que considerou que a China seria mais fraca contra o vírus do que os países ocidentais.
No entanto, as autoridades não parecem dispostas a abandonar sua estratégia. "Devemos aperfeiçoar constantemente as medidas" contra a epidemia, disse o primeiro-ministro Li Keqiang durante um discurso aos deputados em 5 de março.
As medidas foram reforçadas em muitas partes do país, como em Xangai, a cidade mais populosa da China (25 milhões de habitantes), onde os alunos devem acompanhar as aulas online.