Como forma de encontrar alternativas de fornecimento de petróleo a curto prazo, os Estados Unidos reabriram conversas com países considerados inimigos, como Venezuela, na América Latina, e o Irã, no Oriente Médio. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, já disse que está pronto para ofertar mais de 3 milhões de barris por dia no mercado.
Para Henrique Costa, CEO da Accell Solutions, a aproximação de Biden com a Venezuela tem o objetivo de "testar" a posição dos venezuelanos no conflito. "O que vai haver agora é uma polarização. Não acho que seja uma aproximação para realmente importar petróleo", afirma.
Vitelio Brustolin, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador da Universidade de Harvard, explica que Maduro não pode arriscar a se indispor com os Estados Unidos. "Na Venezuela, a economia é bem dependente do petróleo. Qualquer distanciamento e restrição dos Estados Unidos e de outros países a afetam bastante. A Rússia também depende muito dos recursos naturais, então, se formos analisar a conjuntura, os russos praticaram atos de força contra a Ucrânia para tentar se fortalecer, mas no final das contas eles estão perdendo aliados", descreve.
Antônio Jorge Ramalho, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), avalia, no entanto, que concretizar o fornecimento alternativo de petróleo não é uma tarefa tão fácil. "O país está longe de oferecer um ambiente atraente a investimentos. Em janeiro deste ano, a Venezuela extraiu menos de 700.000 barris. Dez anos antes, produzia mensalmente cerca do triplo disso. Não é factível o país realizar tamanho aporte no curto prazo", disse.
No caso do Irã, Ramalho considera que seria mais atingível uma retomada da distribuição do insumo. Segundo dados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), antes de seguidas sanções da Casa Branca, o país persa chegou a exportar cerca de 2,8 milhões de barris de petróleo e derivados por dia. "[Venezuela e Irã] São casos muito distintos. As negociações com o Irã estão avançadas no que concerne à questão nuclear, mas sobre isso os interesses de EUA e Rússia convergem. Reduzir as sanções ao Irã afetaria positivamente a oferta global de petróleo, pois sua capacidade industrial de ampliar a oferta no curto prazo é muito superior à da Venezuela", finaliza.