Petrobras segura reajuste da gasolina

Para conter repasses imediatos diante da crise internacional do petróleo por causa da guerra envolvendo Rússia e Ucrânia e as sequelas da pandemia de covid-19, a Petrobras tem segurado os reajustes — a estatal também aproveita seus lucros recordes. Desde 12 de janeiro, registra-se uma defasagem de mais de 25%, de acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), para a gasolina e o diesel em paralelo com a disparidade externa e com o que deveria ser repassado ao mercado interno.

Outra preocupação com os valores deu-se após os Estados Unidos, a União Europeia e o Reino Unido romperem ou reduzirem a exportação de petróleo russo. Ontem, o preço do barril do tipo Brent chegou a ser negociado a US$ 132,78 em Londres. De acordo com a Abicom, se a petroleira brasileira corrigisse os valores hoje, baseando-se na política de Preço de Paridade Internacional (PPI), a gasolina poderia passar a valer R$ 8 o litro, e o diesel, R$ 7,50.

Bruno Zaballa, coordenador dos Departamentos de Drawback e Operações Tributárias na Efficienza Negócios Internacionais, avaliou que as novas sanções contra a Rússia devem agravar a situação do preço do petróleo. "Veremos uma oscilação ainda maior, que será repassada ao consumidor final."

O especialista explicou que os conflitos internacionais atingem o consumidor brasileiro pelo fato de a Petrobras praticar o Preço de Paridade de Importação (PPI), que considera, nos cálculos dos reajustes dos combustíveis, as variações cambial e da cotação do petróleo internacional, além dos custos logísticos.

Para Zabella, a Petrobras, por si só, não consegue contornar a situação. "Hoje, a única maneira possível para que o consumidor final não pague a conta é uma intervenção na política de preços praticados", disse. A opção, no entanto, não agradaria aos acionistas da estatal. "As opções que o Brasil tem são ou manter a política de preços e ficar refém do tornado de oscilações no preço internacional do petróleo, além do aumento galopante da inflação que virá, ou intervir nessa política, colocando em risco a saúde financeira da Petrobras."

De acordo com César Bergo, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Brasília (UnB), o que torna o mercado de combustíveis brasileiro tão dependente do internacional, é, na verdade, sua falta de estrutura para refinamento. "A questão maior é a seguinte: o Brasil é superavitário na produção de petróleo, pois o país extrai mais petróleo do que necessita. Então, esse petróleo é exportado. O problema maior está internamente: o Brasil não tem refinaria suficiente para refinar o petróleo e transformá-lo em gasolina e diesel", disse. (CN, FS e Gabriela Bernardes, estagiária sob a supervisão de Rodrigo Craveiro)