A Shell defendeu sua decisão de comprar um carregamento de petróleo bruto com desconto da Rússia na última sexta-feira (4/3), apesar da invasão e bombardeio da Ucrânia.
Em comunicado, a companhia afirmou que a decisão foi "difícil" — e que "não teve alternativa".
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O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, criticou a empresa de energia, questionando no Twitter: "O petróleo russo não cheira a sangue ucraniano para vocês?"
Até agora, os países ocidentais não impuseram sanções às importações de petróleo russo, temendo que isso aumente os preços já recordes de energia em todo o mundo.
No entanto, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que os EUA estão "discutindo ativamente" com parceiros europeus a possibilidade de proibir as importações russas de petróleo e, ao mesmo tempo, garantir uma "oferta global estável".
A Rússia é o segundo maior produtor mundial de petróleo bruto depois da Arábia Saudita, e fornece cerca de um terço da demanda da Europa.
Ao comentar sua decisão, a Shell disse que foi forçada a comprar petróleo da Rússia para manter o fornecimento oportuno de combustível para a Europa.
A empresa afirmou ainda que continua "horrorizada com a guerra na Ucrânia" e interrompeu a maioria das atividades envolvendo petróleo russo, mas acrescentou que a situação relativa ao abastecimento é "altamente complexa".
O petróleo russo representa atualmente cerca de 8% dos suprimentos ativos da Shell. Uma das refinarias da empresa, que produz diesel, gasolina e outros produtos, também está entre as maiores da Europa.
"Para ser claro, sem um fornecimento ininterrupto de petróleo bruto para as refinarias, o setor de energia não pode garantir o fornecimento contínuo de produtos essenciais para as pessoas em toda a Europa nas próximas semanas", disse um porta-voz.
"As remessas de fontes alternativas não teriam chegado a tempo de evitar interrupções no abastecimento do mercado."
"Não tomamos essa decisão facilmente e entendemos o forte sentimento em torno dela."
A empresa também disse que tentará escolher alternativas ao petróleo russo "sempre que possível", e que os lucros do petróleo russo irão para um fundo dedicado destinado a ajudar as pessoas na Ucrânia.
Isso aconteceu logo após a empresa anunciar que encerraria todas as suas parcerias comerciais com a companhia de energia russa Gazprom diante da invasão da Ucrânia. Isso envolverá a venda de sua participação de 27,5% em uma grande usina de gás natural liquefeito e uma participação de 50% em dois projetos de campos petrolíferos na Sibéria.
A companhia também encerrará sua participação no oleoduto Nord Stream 2 entre a Rússia e a Alemanha. O gasoduto de 1.200 km sob o Mar Báltico já havia sido suspenso pela Alemanha.
Em comunicado, a Shell disse que a previsão é de que a medida, que também se aplicará a quaisquer "entidades relacionadas" à Gazprom, custaria cerca de US$ 3 bilhões. Os custos associados serão registrados em seu balanço ainda este ano.
A decisão da Shell seguiu empresas como a multinacional BP (British Petroleum), que já havia anunciado que venderia sua participação na gigante petrolífera estatal russa Rosneft — com um impacto potencial de US$ 25 bilhões.
A BP informou na semana passada que era muito cedo para dizer como ou para quem sua participação na Rosneft seria vendida.
A produtora norueguesa de petróleo e gás Equinor também anunciou sua saída da Rússia, dizendo que o conflito tornou sua posição atual "insustentável".
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