Três imagens marcaram o sexto dia da invasão do Exército da Rússia à Ucrânia. A explosão da base de uma torre de TV, no centro de Kiev, deu cores e sons ao alerta feito, pouco antes, por Moscou: "Pedimos aos habitantes de Kiev que moram perto dos centros de retransmissão que abandonem suas residências", disse o porta-voz do ministério russo da Defesa, Igor Konashenkov.
O ataque deixou cinco mortos e cinco feridos, e tirou do ar canais de TV locais, informou o Ministério ucraniano do Interior.
Enquanto Kiev e Kharkiv, principais cidades ucranianas, eram atingidas por bombas, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, recebia, na Europa, os louros de mais uma importante vitória diplomática. Por longos minutos, o presidente foi aplaudido de pé no Parlamento Europeu, reunido na Bélgica, após um discurso por videoconferência, um dia depois de assinar o pedido formal de ingresso da Ucrânia na União Europeia (UE).
Na batalha da imagem, Zelensky já é considerado herói da resistência, enquanto ao presidente da Rússia foi destinado o papel de vilão número um do planeta. Não há mais tolerância da comunidade internacional com a Rússia.
Enquanto Zelensky mobilizava corações no Parlamento Europeu, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, enfrentava dois grandes boicotes que geraram imagens constrangedoras, o que ilustra o isolamento diplomático de Moscou.
O primeiro ocorreu quando representantes de cerca de 50 países deixaram o plenário da Conferência sobre Desarmamento da ONU, em Genebra (Suíça), no momento em que Lavrov começou a discursar, por videoconferência. Poucos permaneceram, incluindo o representante brasileiro. Menos de uma hora depois, o boicote se repetiu na reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, também em Genebra.
Antes de Zelensky discursar ao Parlamento Europeu, a China, em uma mudança de postura em relação aos últimos dias, declarou solidariedade à "dor" dos ucranianos, em um telefonema do ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, para seu homólogo da Ucrânia, Dmytro Kuleba. Wang Yi disse que Pequim "lamenta profundamente este conflito que eclodiu entre Ucrânia e Rússia e presta extrema atenção à dor sofrida pelos civis" e pediu uma resolução negociada do conflito por meio de negociação.
Falando de um local secreto, Zelensky reforçou aos europeus o pedido que fez de adesão imediata à União Europeia, uma demanda que encontra apoio político, mas esbarra em dificuldades diplomáticas e burocráticas.
"A Europa será mais forte com a Ucrânia nela. Sem vocês, a Ucrânia estará sozinha. Provamos nossa força. Provem que estão do nosso lado, provem que não vão nos abandonar", declarou Zelensky.
"O destino da Ucrânia está em jogo, mas nosso próprio destino também. Devemos mostrar o poder que jaz em nossas democracias", disse a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, após o discurso. Sobre o pacote de sanções à Russia, a diplomata reconhece que haverá impacto na economia mundial. "Proteger a nossa liberdade tem um preço. Mas este é um momento decisivo. E este é o preço que estamos dispostos a pagar."
Depois, pelo Twitter, Zelensky revelou que teve uma conversa telefônica com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para falar de sanções e pacote de ajuda.
O governo ucraniano ainda divulgou um vídeo de uma entrevista de Zelensky, na qual falou sobre as negociações para um cessar-fogo, que dependem do fim dos bombardeios. Há a expectativa de que negociadores dos dois países se encontrem em uma segunda rodada de negociações na próxima sexta-feira.
Front
No início da noite de ontem, imagens de satélite da identificaram uma coluna de mais de 60 quilômetros de extensão formada por veículos russos, em movimento, no rumo de Kiev. Uma fonte do Pentágono disse que o avanço é muito lento, com muitas paradas, devido à resistência ucraniana e à escassez de combustível e alimentos. "Sentimos que o movimento em direção a Kiev está, no momento, em ponto morto", disse a alguns jornalistas, acrescentando que há informações de rendição sem resistência de militares russos.
Pelo menos dez pessoas morreram em um bombardeio à praça central de Kharkiv, que deixou mais de 20 pessoas feridas. As explosões quebraram todos os vidros das janelas da sede do governo, que denunciou "crime de guerra". A Rússia nega qualquer ataque a alvos que não sejam militares, mas um bairro residencial também foi alvejado, com saldo de oito mortos.