GUERRA NO LESTE EUROPEU

Diplomata ucraniano volta a cobrar posicionamento do Brasil em relação à guerra

O diplomata lamentou a falta de interlocução com a cúpula do governo brasileiro, assinalando que a representação ucraniana está aberta ao diálogo

Em mais uma tentativa de pressionar o governo brasileiro a ter uma posição efetiva em relação à guerra deflagrada por Moscou, o encarregado de negócios da Ucrânia em Brasília, Anatoliy Tkach, cobrou, ontem, uma definição. "Gostaríamos de uma posição mais forte do Brasil, de apoio e condenação da Rússia."

O diplomata lamentou a falta de interlocução com a cúpula do governo brasileiro, assinalando que a representação ucraniana está aberta ao diálogo. Na véspera, Tkach sugeriu que o presidente Jair Bolsonaro conversasse com o colega ucraniano, Volodymyr Zelensky. "Eu acho que ele poderia começar com uma palavra de solidariedade com o povo ucraniano", disse Tkach.

O representante da ex-república soviética acrescentou não compreender o que o Bolsonaro chama de neutralidade em relação ao conflito. "Nós agora sabemos quem é o agressor e quem é a vítima. Então, não entendo como se pode aplicar a imparcialidade nessa situação. Nós estamos abertos para o diálogo", insistiu.

Na segunda-feira, Tkach afirmou que o posicionamento de Bolsonaro decorreria de falta de informação. "O presidente do Brasil se pronunciou neutro. Eu acho que ele pode ser mal informado, não sabe a situação atual que acontece na Ucrânia", disse Tkach em entrevista de ontem.

Apesar da decisão de Bolsonaro de garantir vistos humanitários para ucranianos que fogem da guerra, Tkach afirmou que, até a noite de ontem, não havia recebido informações sobre o número de pessoas eventualmente beneficiadas. Mas elogiou a iniciativa. "É um gesto de hospitalidade. Agora, os ucranianos têm mais um lugar para ir", afirmou. Ele disse que também aguarda uma resposta sobre o pedido de ajuda enviado ao governo brasileiros, que abrange desde alimentação a produtos de primeiros-socorros.

Ao classificar a Rússia como "tóxica", o diplomata ucraniano pediu que todos os países rompam vínculos com a potência. "Apelamos a todos que cortem os laços comerciais com a Rússia, todos os laços. Fazer negócios com a Rússia, agora, significa financiar agressão, crimes de guerra, desinformação, ataques cibernéticos e até mesmo o líder russo, Vladimir Putin", disse.

O recado também foi direcionado a Bolsonaro que, em entrevistas recentes, tem se mostrado preocupado com os negócios entre os países, principalmente com o fornecimento de fertilizantes para o Brasil para abastecer o agronegócio nacional.

O encarregado de negócios ucranianos lembrou que países historicamente conhecidos pela imparcialidade em conflitos começaram a ajudar a Ucrânia, como a Noruega e a Áustria. Além desses, citou também a Finlândia e a Suécia, que, assinalou, providenciaram armas para Kiev. "Todos que preservam a neutralidade se uniram para preservar o sistema de segurança e paz no mundo", ressaltou.