As delegações podem ser as mesmas, mas o cenário é outro. Nesta quarta-feira (2/3), quando sentarem à mesa de negociações, russos e ucranianos terão um quadro bem diferente do de segunda-feira (28/2), quando se reuniram pela primeira vez para tentar um acordo.
Desde então, os ataques da Rússia se intensificaram, com alvos civis atingidos por mísseis, entradas nas principais cidades do país, cerco a Kiev e vários mortos e feridos. Na outra ponta, a ameaça ucraniana ao governo Putin aumenta com a proximidade, cada vez maior, do país à União Europeia, a solidariedade internacional crescente e aumento das sanções a Rússia.
Desde segunda-feira, ações do exército russo atingiram as duas principais cidades da Ucrânia, Kharkiv e Kiev (capital), deixando pelo menos 18 mortos e 30 feridos, segundo informações do Ministério do Interior ucraniano.
Em Kiev, depois de uma madrugada com toque de muitas sirenes e a informação de que uma coluna militar de 64 quilômetros estava a caminho, durante a terça-feira a torre de TV estatal foi atingida, matando cinco pessoas e ferindo cinco. O sinal de televisão ficou comprometido e alguns canais deixaram de transmitir.
No fim do dia, o Ministério do Interior (MI), admitiu a entrada de soldados russos na cidade de Kherson, no sul do país. No entanto, o conselheiro do MI garantiu que há resistência e que o edifício da administração local ainda está na mão dos ucranianos.
Mas se os ataques das últimas horas poderiam fragilizar o governo de Volodymyr Zelensky na negociação desta quarta, isolaram a Rússia ainda mais. Desde o último encontro na segunda-feira de manhã, a Ucrânia apresentou a candidatura formal para entrada na União Europeia (UE), que conta com apoio cada vez maior dos países membros.
Conseguiu a aprovação do bloco para fornecimento de armas, que o Tribunal Penal Internacional investigue a Rússia por crimes de guerra e que países dos quatro cantos do mundo aprovassem o fechamento do espaço aéreo a aviões russos, proibissem operações de bancos russos e congelassem bens de autoridades, empresários e banqueiros mundo a fora. A Rússia ganha a guerra e perde ao mesmo tempo as batalhas de mídia e apoio mundial.
*Correspondente especial em Portugal