Guerra na Ucrânia

Um dia após a promessa de diminuir ataques, Rússia volta a bombardear Ucrânia

Autoridades ucranianas relataram novos ataques nos arredores de Kiev e na cidade de Chernihiv

Agência Estado
postado em 30/03/2022 17:59 / atualizado em 30/03/2022 18:00
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

Um dia depois que as negociações de paz deram esperança de uma diminuição do ataque da Rússia à Ucrânia, autoridades locais relataram novos ataques nesta quarta-feira, 30, nos arredores de Kiev e na cidade de Chernihiv, no norte - duas áreas onde a Rússia prometeu reduzir as operações. Os ataques sinalizam que Moscou não tem pressa em encerrar a guerra, agora com cinco semanas, apesar das declarações dadas nesta terça-feira. Outras localidades do país também sofreram ataques russos.

Em Chernihiv, no norte, um ataque durante a madrugada deixou 25 pessoas feridas. A cidade, assim como Kiev, é justamente onde a Rússia disse que ia reduzir sua presença militar. Em entrevista à CNN, o prefeito, Vladislav Astroshenko, disse que os ataques são provas de que "a Rússia sempre mente". "Eles estão dizendo que reduziram a intensidade, na verdade aumentaram a intensidade dos golpes", disse.

Na região de Kiev, alarmes aéreos foram disparados durante a madrugada e armadilhas foram encontradas em Irpin, subúrbio da capital. A informação é de Vadim Denisenko, assessor do ministro do Interior da Ucrânia. Ele também citou outras regiões, principalmente no leste, com alertas de ataques.

"Na verdade, não havia áreas do país sem sirenes. De manhã eles se repetiram. Em particular, em Donbas - Kramatorsk, Bakhmut - a cidade de Kiev, região de Kiev, etc. Houve bombardeio em Chernihiv. Houve bombardeio em região de Khmelnytsky. Em Kiev, vários foguetes foram abatidos sobre a capital", declarou.

Em seu discurso na noite desta terça-feira, 29, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelensky, disse que as negociações entre os países em guerra ocorrida pela manhã foram "positivas, mas não abafam as explosões de bombas russas". Ele acrescentou que a Ucrânia não tem intenção de reduzir seus esforços militares - que começam a dar resultado em algumas contraofensivas.

Zelensky ainda afirmou que os ucranianos "não são pessoas ingênuas" e que não viu "nenhuma razão para confiar nas palavras de certos representantes de um Estado que continua lutando por nossa destruição".

Os ataques russos foram observados em outras regiões da Ucrânia mesmo durante a reunião diplomática ocorrida na Turquia, depois da qual os russos afirmaram que iriam reduzir as operações militares. Um ataque russo destruiu grande parte de um prédio do governo regional na cidade portuária de Mikolaiv, no sul do país, deixando pelo menos 12 pessoas mortas e mais de 30 feridas, segundo o governador, Vitali Kim. Outro ataque com mísseis russos destruiu um depósito de petróleo na região de Khmelnitski, no oeste da Ucrânia, segundo autoridades locais.

Cruz Vermelha

Em Mariupol, as forças russas atacaram nesta quarta-feira uma instalação da Cruz Vermelha, de acordo com a ex-ministra da Ucrânia, Ludmila Denisova. "Aeronaves e artilharia inimigas dispararam contra um edifício marcado com uma cruz vermelha sobre fundo branco, indicando a presença de feridos, civis ou de ajuda humanitária", afirmou nas redes sociais. Entretanto, Denisova não especificou quando os ataques ocorreram e disse que ainda não havia confirmação sobre vítimas.

O jornal inglês The Guardian afirmou que o ataque a um prédio da Cruz Vermelha foi confirmado por um porta-voz da organização. "Podemos confirmar que a imagem que circula mostra o depósito do CICV em Mariupol. Não temos uma equipe no terreno em Mariupol, portanto não temos outras informações, inclusive sobre possíveis vítimas ou danos. Podemos dizer que já distribuímos todos os suprimentos de ajuda no armazém", declarou o porta-voz ao jornal.

Tropas russas também foram vistas cruzando a fronteira entre a Ucrânia e Belarus. Outras foram vistas retornando a própria Rússia. Segundo informações da inteligência britânica, no entanto, estas tropas irão se reabastecer e se reorganizar.

Negociações

O porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, afirmou nesta quarta-feira que as negociações entre as delegações russa e ucraniana em Istambul não resultaram em qualquer avanço - apesar das declarações feitas após a reunião, que davam esperanças do progresso para o fim da guerra. "No momento, não podemos informar nada muito promissor ou um avanço. Há muito trabalho por fazer", declarou Peskov à imprensa.

Ainda assim, Peskov considerou "positivo" o fato de que a delegação ucraniana "tenha finalmente começado a formular de maneira concreta suas propostas e colocá-las por escrito". "Evitamos cuidadosamente fazer declarações públicas sobre o teor das questões que são objeto de discussões, porque acreditamos que as negociações devem ser acontecer de forma discreta", acrescentou.

Rússia e Ucrânia haviam classificado nesta terça-feira as conversas de Istambul como "significativas", ao contrário das rodadas anteriores, o que gerou esperanças após mais de um mês guerra, que deixou milhares de mortos e milhões de deslocados.

O país já havia afirmado após a reunião que a promessa de retirada de tropas do norte não significaria um cessar-fogo. Entretanto, era esperado que os ataques se concentrassem na região Leste da Ucrânia. "Este não é um cessar-fogo, mas esta é a nossa aspiração: alcançar gradualmente uma desescalada do conflito, pelo menos nestas frentes", disse o chefe da delegação russa, Vladimir Medinski.

Medinski voltou a reafirmar nesta quarta-feira, após os novos ataques próximos a Kiev e em Chernihiv, que a Rússia tem interesse em um acordo de paz nos moldes do proposto nas negociações em Istambul. "Ontem, as autoridades de Kiev, pela primeira vez em todos esses últimos anos, declararam sua prontidão para chegar a um acordo com a Rússia", disse o negociador em um comunicado televisionado. As mensagens, entretanto, contradizem as declarações de Peskov.

Logo após as negociações em Istambul, líderes ocidentais, como o primeiro-ministro Boris Johnson e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, viram a promessa russa de diminuição de ataques com desconfiança. Eles afirmaram que iriam manter as sanções impostas contra o país - em retaliação à invasão - até que a Rússia fizesse o que prometeram fazer.

Alguns membros da Otan se reuniram virtualmente nesta terça-feira, depois das negociações entre Ucrânia e Rússia. Segundo a Casa Branca, Biden conversou durante uma hora com o presidente francês Emmanuel Macron, o chanceler alemão Olaf Scholz, o primeiro-ministro italiano Mario Draghi e o primeiro-ministro britânico Boris Johnson. Até o momento, não há informações sobre o que foi discutido na chamada.

De acordo com Joe Biden, houve um consenso entre esses países de aguardar os próximos passos da Rússia para avaliar o que fazer. "Mas, enquanto isso, continuaremos a manter fortes sanções", disse Biden. "Vamos continuar a fornecer aos militares ucranianos a capacidade de se defenderem. E vamos continuar atentos ao que está acontecendo." (Com agências internacionais).

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