Os países signatários da Convenção sobre Biodiversidade propuseram a realização de uma reunião adicional em junho em Nairóbi, antes do encerramento, nesta terça-feira (29), das negociações em Genebra sobre a preservação da diversidade biológica.
Há dois anos, dezenas de chefes de Estado e de Governo prometeram proteger a natureza até 2030, mas esse compromisso político enfrenta muitos obstáculos para se traduzir em resultados concretos.
Reunidos na Suíça desde 14 de março, negociadores dos países signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), entre os quais estão todos da América Latina, União Europeia, China e Rússia, mas não Estados Unidos, tentam completar o parte científica do pacto, bem como as deliberações políticas.
Este é o primeiro encontro presencial desde fevereiro de 2020 e a missão é complicada, já que a biodiversidade é afetada por muitas atividades humanas, incluindo agricultura intensiva, mineração, pesca excessiva, urbanização desenfreada, etc.
"A biodiversidade não se limita a uma área. Está em toda parte, é a vida", resume o ganense Alfred Oteng-Yeboah.
Após o fracasso dos membros da CDB em cumprir seus compromissos na última década, a negociação atual "é nossa última chance", explica.
A covid-19 representou um desafio adicional. A CBD "passou por um período sem precedentes em sua história com o impacto da pandemia", disse sua secretária executiva, Elizabeth Maruma Mrema.
As negociações por videoconferência deram origem a um texto preparatório que é a base das discussões na cidade suíça. Dois outros órgãos, os conselhos científico e decisório, também se reuniram. O resultado tem sido uma agenda carregada, de acordo com um participante.
Dez dias de intenso trabalho permitiram que as delegações apresentassem suas ideias, sem resumi-las, para traçar um consenso, estima Brian O'Donnell, diretor da ONG Campaign for Nature. O trabalho está "pela metade".
"Temos que passar às negociações", insistiu a representante da Nova Zelândia na sessão plenária de encerramento, enquanto outras delegações ressaltaram a importância dos trabalhos pendentes.
Mais tempo
Os delegados concluíram que precisam de mais tempo para um texto a ser adotado na COP15 da ONU sobre a Convenção sobre Biodiversidade, a ser realizada este ano em Kunming, sul da China, possivelmente no final de agosto ou início de setembro, segundo várias fontes.
Para isso, os países sugeriram a realização de uma nova reunião na capital queniana de 21 a 26 de junho para "continuar as negociações" sobre o texto e outros assuntos, segundo documento no site da COP15.
O objetivo mais emblemático é a proteção de 30% das terras e oceanos do mundo até 2030. É apoiado por cada vez mais países, mais de 90 atualmente.
Segundo fontes próximas às negociações, África do Sul e China têm dúvidas, enquanto o Brasil defenderia a ideia de um objetivo nacional em vez de global.
Todos concordam que é preciso gastar mais dinheiro na proteção da biodiversidade, mas as opiniões variam quanto aos montantes e fontes desse financiamento.
Na plenária de encerramento, o grupo africano, representado por Gabão, Brasil, Índia, Paquistão, Argentina e outros países latino-americanos, pediu aos países desenvolvidos que aportem "pelo menos 100 bilhões de dólares ao ano inicialmente e mais adiante 700 bilhões de dólares ao ano até 2030 e além" para os países em desenvolvimento.
Os países desenvolvidos defendem a ideia de mobilizar todos os recursos - nacionais, ajuda pública ao desenvolvimento, fundos privados -, enquanto os países em desenvolvimento esperam, sobretudo, fundos públicos adicionais dedicados exclusivamente à biodiversidade.
O Brasil e os países africanos exigem um novo fundo, pois julgam que o atual Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) é ineficiente. Mas os países do norte se opõem.
De qualquer forma, será preciso ajudar as nações em desenvolvimento, que abrigam muito do que resta da biodiversidade, argumenta um delegado da América Latina.
"Para superar esse obstáculo, é urgentemente necessário um processo de construção de confiança" entre agora e a COP15, comenta a organização civil global americana Avaaz, que se pergunta como muitos sobre a posição da presidência chinesa.
Se Pequim não quiser tratar do assunto, "deveria confiar a tarefa a outro. Não podemos esperar mais", afirma a ONG.
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