Enquanto as atenções do mundo se voltavam para a Ucrânia, a Coreia do Norte elevou a tensão na Península Coreana ao disparar um míssil balístico intercontinental (ICBM). O teste mais potente de Pyongyang desde 2017 provocou indignação da vizinha Coreia do Sul, do Japão, dos Estados Unidos e da Organização das Nações Unidas (ONU). Ao condenar "com veemência" o lançamento, a Casa Branca afirmou que o teste "acirra, de maneira inútil, os ânimos na região" e se comprometeu "a adotar todas as medidas necessárias para a segurança do território norte-americano" e dos aliados Coreia do Sul e Japão. A agência de notícias estatal norte-coreana KCNA informou que "o teste de lançamento de um novo tipo de míssil balístico intercontinental Hwasongpho-17 (...) foi realizado sob a supervisão direta de Kim Jong-un".
O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou o regime de Kim Jong-un a "desistir de tomar qualquer ação contraproducente". Por meio do porta-voz Stephane Dujarric, Guterres frisou que o disparo do ICBM foi "outra violação" da "trégua anunciada pela Coreia do Norte em 2018 sobre lançamentos dessa natureza e uma clara transgressão das resoluções do Conselho de Segurança". Em Seul, o Exército sul-coreano anunciou que disparou uma série de mísseis por terra, ar e mar como resposta. O Japão considerou "escandaloso e imperdoável" o lançamento do projétil norte-coreano, que caiu dentro da zona econômica marítima exclusiva do país.
A Coreia do Norte realizou uma dezena de testes de projéteis desde o começo do ano — uma série sem precedentes que desafia as sanções da ONU contra o desenvolvimento de seu programa armamentista e nuclear. O regime de Pyongyang suspendeu oficialmente os testes de longo alcance, enquanto Kim participava de negociações com o então presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Mas as conversações fracassaram em 2019.
Por meio de comunicado, o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, admitiu "uma grave ameaça à Península da Coreia, à região e à comunidade internacional. "Foi uma violação da suspensão dos lançamentos de mísseis balísticos intercontinentais prometida pelo presidente Kim Jong-un", declarou. Moon também considerou que o teste norte-coreano é uma "clara violação" das resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
Trajetória
O míssil foi lançado por volta das 16h de ontem (4h em Brasília) a partir do distrito de Sunan, provavelmente o mesmo local em que aconteceu, na semana passada, um teste fracassado, e estabeleceu uma parábola de 6.200 quilômetros, indicou o Estado-Maior Conjunto de Seul. De acordo com o vice-ministro da Defesa do Japão, Makoto Oniki, o projétil voou durante 71 minutos e caiu a 150km ao oeste de sua costa norte, dentro da zona econômica exclusiva nipônica.
A Coreia do Norte está ameaçando "a paz e a segurança do Japão, da região e da comunidade internacional (...) Isto não pode ser aceito", afirmou o primeiro-ministro nipônico, Fumio Kishida. "Isto é um ato escandaloso e imperdoável", acrescentou o chefe de governo, que está em Bruxelas para o encontro de líderes do G7.
Há muitos anos, a Coreia do Norte aspira ter um ICBM com capacidade de transportar várias ogivas e, de acordo com os governos dos Estados Unidos e da Coreia do Sul, está testando o Hwasong-17, um poderoso míssil intercontinental apresentado pela primeira vez em outubro de 2020. Apesar das sanções financeiras internacionais mais severas, Pyongyang se aferra ao programa de Kim Jong-un para modernizar suas Forças Armadas.
Na semana passada, o país executou um teste fracassado com o que, segundo os analistas, seria um Hwasong-17 que explodiu em pleno voo sobre a capital do país. Estados Unidos e Coreia do Sul alertaram este mês que Pyongyang estava se preparando para disparar um ICBM e que testou componentes do Hwasong-17 camuflados como satélites espaciais.
Os lançamentos acontecem às vésperas do 110º aniversário do nascimento do fundador da Coreia do Norte e avô do atual líder do país, Kim Il-sung. O regime costuma usar as efemérides para demonstrar sua capacidade militar. Além disso, Pyongyang aproveita a instabilidade internacional provocada pela invasão da Ucrânia, que provocou o aumento da disputa de Washington com Moscou e Pequim, assim como a transição na Coreia do Sul até a posse do presidente eleito Yoon Suk-yeol, em maio.
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