Rússia

Opositor russo é condenado a nove anos de prisão por fraude e desacato

Um dos principais adversários políticos do Kremlin, ativista é sentenciado a nove anos de prisão, em "colônia penal de regime severo", por fraude e desacato. "Putin tem medo da verdade", reagiu

Correio Braziliense
postado em 23/03/2022 06:00
 (crédito: AFP)
(crédito: AFP)

Em meio ao recrudescimento das ações contra os críticos ao Kremlin, o opositor russo Alexei Navalny foi condenado, ontem, a nove anos de prisão por "fraude" e "desacato". A essa pena, a juíza Margarita Kotova acrescentou um ano e meio de liberdade condicional e uma multa de 1,2 milhão de rublos (em torno de R$ 54,2 mil). A sentença anula e substitui os dois anos e meio de outra pena em curso e inclui o ano já cumprido.

Salvo no caso de uma improvável vitória do recurso de apelação, Navalny será transferido do presídio de Podrov, próximo a Moscou, para uma "colônia penal de regime severo" — uma penitenciária isolada, com condições de detenção muito mais duras.

"Putin tem medo da verdade, eu sempre disse isso. A luta contra a censura, levando a verdade ao povo da Rússia, continua sendo nossa prioridade", tuitou a equipe de Navalny, após o anúncio de sua condenação. O ativista anticorrupção e ex-advogado, de 45 anos, é a principal voz contra o presidente russo atualmente.

Na semana passada, o Ministério Público havia solicitado que a pena de dois anos e meio de detenção, que Navalny cumpre desde fevereiro do ano passado, fosse aumentada para 13 anos de prisão. Ontem, já sabendo que seria novamente condenado, ele compareceu à audiência com o uniforme de presidiário e ouviu o veredicto com as mãos nos bolsos, entre sorrisos e conversas com os advogados.

Como era esperado, a juíza Margarita Kotova declarou-o culpado desde o início da leitura da sentença. "Navalny cometeu uma fraude, o roubo da propriedade de outras pessoas por parte de um grupo organizado", disse Kotova. O ativista é acusado de desviar milhões de rublos em doações a suas organizações e de desacato num processo anterior.

Mais de 100 jornalistas acompanhavam a transmissão da audiência na sala de imprensa instalada na colônia penitenciária. O opositor estava acompanhado apenas por dois advogados, em um momento de grande intimidação às vozes críticas do Kremlin no contexto da invasão russa da Ucrânia.

Em um mês, mais de 15 mil pessoas foram detidas por participação em protestos contra a guerra na Rússia. Mesmo da colônia penitenciária, Navalny continua divulgando mensagens contra o governo Putin, convocando manifestações contra o conflito.

Para reprimir qualquer crítica ao Exército russo, as autoridades reforçaram ainda mais o arsenal jurídico, com fortes penas de prisão. Na terça-feira (22/3), deputados aprovaram uma lei que prevê duras sanções para punir as "notícias falsas" sobre as ações da Rússia no exterior, no marco de medidas impostas para controlar a informação sobre a ofensiva na Ucrânia.

É um complemento à lei adotada no início de março, que prevê até 15 anos de prisão pela publicação de "informações falsas" sobre o exército russo. O novo texto, adotado na terceira leitura, prevê penas de até três anos de prisão, ou de até cinco anos se for uma atividade em grupo, por um "abuso de posição oficial", uma "criação artificial de provas" ou se o ato está "motivado pelo ódio ou pela hostilidade política, ideológica, racial, nacional ou religiosa". E pode chegar a 15 anos, se as informações gerarem "consequências graves".

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