A Rússia segue dando sinais de que não tem a intenção de recuar na invasão à Ucrânia. No sábado (19/3), soldados russos ganharam território em cidades estratégicas do país vizinho, e o presidente Vladimir Putin anunciou que passou a usar mísseis hipersônicos na guerra que completa 25 dias. Segundo o titular do Kremlin, trata-se de um armamento "invencível", até então só usado em treinamentos militares. Kiev, por sua vez, acusa Moscou de criar deliberadamente "uma catástrofe humanitária". O presidente Volodymyr Zelensky disse que é "hora de conversar" com Putin "para evitar mais derramamentos de sangue" e "retomar a integridade territorial e a justiça para a Ucrânia".
De acordo com Moscou, o míssil Kinjal desafia todos os sistemas de defesa antiaérea porque sua velocidade (cerca de 12 mil quilômetros por hora) e sua grande manobrabilidade fazem com que seja impossível ou muito difícil interceptá-lo. O Ministério da Defesa russo relata que, nos testes, em 2018, o Kinjal, uma palavra russa que significa "punhal", atingiu todos os seus alvos a uma distância de mais de mil quilômetros. Na última sexta-feira, ele foi lançado contra um depósito de armamentos.
"Em 18 de março, o complexo aeronáutico Kinjal, com seus mísseis balísticos hipersônicos, destruiu um importante depósito subterrâneo de mísseis e munições da aviação ucraniana na cidade de Deliatin, na região de Ivano-Frankivsk", relatou o porta-voz do ministério da Defesa da Rússia, Igor Konashenkov. A região está localizada a cerca de 50 quilômetros da fronteira com a Romênia, país-membro da Otan.
Preocupados com a escalada na ofensiva, os Estados Unidos anunciaram que vão ajudar a reforçar a defesa aérea da Ucrânia, estratégia, segundo especialistas, que pode não sair facilmente do papel. O armamento ideal para isso é um sistema de baterias antiaéreas do tipo Patriot, cuja eficácia foi amplamente demonstrada, nos últimos anos, no Iraque e no Golfo Pérsico. Porém, os militares ucranianos não são treinados para operar o sofisticado armamento americano.
Há suspeitas de que Moscou esteja exagerando no potencial bélico do artefato. De qualquer forma, para o especialista militar russo Pavel Felgenhauer, há um efeito psicológico nesse tipo de estratégia. "No fim, não muda nada no campo de batalha, mas fica claro que tem um efeito na propaganda psicológica, para assustar a todos", afirma.
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Sitiados
Em terra, o aumento na intensidade dos ataques se repete — principalmente em Mariupol, que tem sofrido ataques há mais de duas semanas. Soldados russos tomaram o centro da cidade, que tem o principal porto marítimo da região, e destruíram a usina metalúrgica, uma das maiores da Europa. O prefeito, Vady Boychenko, declarou que as forças inimigas estão em maior número que as locais, e que as tentativas de apoio aéreo falharam.
Com os ataques, o governo ucraniano perdeu o acesso ao Mar de Azov e também teve um estratégico posicionamento terrestre comprometido. Mariupol liga a península da Crimeia, que foi anexada pelos russos em 2014, à região de Donbass, onde estão Donetsk e Lugansk — as dua repúblicas separatistas que tiveram sua independência reconhecida por Putin no mês passado. "É imaginável que Putin tenha dado pessoalmente a ordem para destruir toda a cidade. O objetivo não é desmilitarizar a Ucrânia, mas desindustrializá-la. Teremos que reconstruir as nossas usinas nas próximas décadas", disse o ministro do Interior, Vadym Denysenko.
Outra cidade muito atingida, Mikolaiv, localizada no sul, foi alvo de ataques aéreos em um ritmo vertiginoso, um dia depois de dezenas de soldados terem morrido em decorrência de bombardeio no quartel em que estavam dormindo. "Não conseguimos dar o alerta: quando anunciamos a onda, ela chegou", escreve o governador da região, Vitali Klim, nas redes sociais. Cerca de 200 soldados estavam no local. "Pelo menos 50 corpos foram removidos, mas não sabemos quantos ficaram sob os escombros", contou à agência France-Presse de notícias (AFP) um soldado de 20 anos.
Em um novo vídeo divulgado, ontem, nas redes sociais, o presidente Volodymyr Zelensky acusou Moscou de tentar submeter as cidades ucranianas à fome e alertou que a manutenção da guerra também implica em consequências para a Rússia. Segundo ele, a aposta puramente militar não resolverá o conflito na região e pode até ser uma faca de dois gumes para Putin, acusado por ONGs e líderes ocidentais de cometer "crimes de guerra". Para Zelensky, as negociações são "a única chance que a Rússia tem de minimizar os danos causados por seus próprios erros".
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