A Ucrânia não deve fazer esquecer a grave crise de fome no Iêmen, país assolado por uma guerra devastadora desde 2014 e agora à beira de uma "catástrofe" humanitária, alertou a ONU nesta quarta-feira (16) em uma conferência de doadores.
"O Iêmen pode não estar mais nas manchetes, mas o sofrimento humano não diminuiu. Hoje, a falta de fundos ameaça causar uma catástrofe", alertou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, na abertura da conferência virtual.
"Milhões de pessoas sofrem de fome extrema e o Programa Mundial de Alimentos teve que cortar as rações pela metade por falta de fundos. Outras reduções são iminentes", alertou.
À medida que as necessidades humanitárias aumentam no Iêmen e a guerra na Ucrânia eleva os preços das matérias-primas, incluindo o trigo, o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, pediu aos doadores que liberem "quase US$ 4,3 bilhões" para ajudar 17,2 milhões de pessoas no Iêmen.
Dois em cada três iemenitas - 20 milhões de pessoas - vivem em extrema pobreza.
Quase três quartos da população precisarão de assistência humanitária em 2022, disse Griffiths, observando que a situação no Iêmen "está entre as piores do mundo".
Os serviços básicos e a economia do Iêmen estão entrando em colapso e, para agravar este quadro, o conflito na Ucrânia encareceu as matérias-primas no mundo, incluindo o trigo.
Sem injeções rápidas de liquidez para as organizações humanitárias, quase 4 milhões de pessoas não terão água potável para beber.
"A Ucrânia é uma grande preocupação, mas é essencial que nenhuma outra crise seja esquecida", comentou Manuel Bessler, chefe do Corpo de Ajuda Humanitária da Suíça.
Segundo a ONU, em torno de 161.000 iemenitas se verão em situação de "insegurança alimentar catastrófica, uma prévia do que pode acontecer com outros 7,1 milhões de pessoas que estão a apenas um passo deste último estágio de uma crise humanitária".
A invasão russa da Ucrânia aumenta o temor de que o fornecimento mundial de alimentos seja afetado. A guerra "poderá provocar importantes perturbações nas importações, afetando ainda mais os preços dos alimentos", alertou a ONU.
o Iêmen depende quase completamente das importações de alimentos, com quase um terço do fornecimento de trigo procedente da Ucrânia e Rússia.
As avaliações divulgadas pela ONU usam a Classificação Integrada de Fases da Segurança Alimentar (CIF), que qualifica os níveis de fome de um a cinco.
Nesse sistema, o quinto nível está classificado como "catastrófico" e, quando se chega a 20% da população, é considerado como situação de escassez.
Na segunda-feira, os resultados da classificação mostraram que 17,4 milhões dos 29 milhões de habitantes no Iêmen enfrentam altos níveis de insegurança alimentar aguda, e é provável que este dramático total aumente para 19 milhões este ano.
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