Um post na rede social Reddit em que um homem expressa choque e preocupação após saber que sua mulher espera receber dele quase US$ 50 mil (R$ 250 mil) como compensação financeira caso o casal decida ter um filho dividiu opiniões e reacendeu discussões sobre desigualdade de gênero.
O homem de 34 anos, que não revelou sua identidade, levantou o assunto em um post intitulado: "Ela me pediu para pagar quase US$ 50 mil para ter nosso filho, e não tenho certeza do que fazer."
No post, que já foi excluído, mas compartilhado novamente pela conta do Twitter @redditships, o homem disse que ele e sua esposa, de 29 anos, namoram há seis anos, sempre dividiram todas as despesas igualmente e estavam iniciando discussões sobre ter um filho.
I am [M34] and my wife is [F29]. She has asked me to pay her almost $50,000 to have our child, and I'm not quite sure what to do. https://t.co/1yAug8ZnkN pic.twitter.com/WL52gGMEgj
— relationships.txt (@redditships) March 3, 2022
Foi quando ela propôs que ele pagasse US$ 50 mil (R$ 250 mil) a ela como compensação financeira.
Segundo a esposa, esse valor cobriria sua perda salarial, uma vez que, embora seu empregador autorize licença-maternidade de até um ano, ela receberia apenas metade do salário pelos seis primeiros meses em casa — os seis restantes não seriam remunerados.
Ela também propôs que, se ela ficasse fora do trabalho durante um ano, a "indenização" poderia subir para até US$ 100 mil (R$ 500 mil).
No Twitter, o post detalhando o dilema do homem foi curtido mais de 16 mil vezes — e dividiu opiniões, com milhares de usuários compartilhando comentários.
Para muitos deles, a proposta da mulher é totalmente justa, considerando que ela perderá uma parcela significativa de seu salário quando estiver de licença-maternidade.
"Esta mulher é icônica e revolucionária", tuitou uma usuária, enquanto outra disse: "Sinto muito, mas isso faz sentido para mim".
Uma terceira acrescentou: "Isso soa desconfortável para nós apenas porque a perda financeira que as mulheres sofrem quando têm filhos nunca foi discriminada e expressa em termos monetários. Mas faz sentido que esse prejuízo seja compartilhado. Ela elencou pontos válidos e acho que seria egoísta discordar (dela)."
"Se você é essa mulher, posso ter suas 16 páginas para usar como modelo? Muito obrigada", brincou uma usuária.
Nos EUA, as mulheres ganham 83% dos ganhos dos homens, uma diferença salarial que pouco mudou nos últimos 15 anos. A discrepância aumenta quando elas se tornam mães, recebendo apenas 75 centavos para cada dólar pago aos pais, segundo um levantamento de 2021 da ONG National Women's Law Center com base nos dados do Censo americano.
No Brasil, a realidade também é desfavorável a mulheres. Em 2021, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as mulheres receberam 78% do que os homens ganharam.
Enquanto muitos apoiaram a proposta da mulher para que seu marido a compensasse por ter seu filho, outros concordaram com as preocupações do homem sobre o acordo.
"Nem conseguiria passar por isso. Nunca pensei ter um bebê como uma espécie de transação…", tuitou uma usuária.
Outra pessoa sugeriu que o casal parece estar se preparando para um divórcio inevitável.
"Tudo em suas vidas parece organizado para facilitar o divórcio inevitável", escreveu. "Questiono o motivo de trazer uma criança ao mundo assim."
Uma terceira acrescentou: "Esse relacionamento parece duas pessoas que apenas vivem juntas, mas decidem tudo separadamente e têm zero intimidade emocional. Isso é bizarro."
"Alguém mais sente pena dessa criança? Espera-se que ela compense a mãe pelo tempo necessário para cuidar dela? Nem tudo deve ser transacional. Parece que sou minoria aqui, mas achei essa história horrível", completa outra usuária.
No post, o homem descreveu a si mesmo e a sua esposa como "indivíduos de alta renda", com ambos ganhando um salário líquido anual de mais de US$ 175 mil (R$ 880 mil). Ele acrescentou que, desde o início do relacionamento, dividem todos os gastos igualmente.
"Nossos pagamentos de hipoteca eram 50-50 e agora possuímos nossa casa confortavelmente. Muito de nossa renda vai para economias, investimentos, melhorias na casa e gastos discricionários", explicou ele.
Segundo o homem, ele e sua esposa são "pessoas altamente independentes" e "muito orientadas para a carreira", o que, em suas palavras, explica por que se sente "tão atraído" por sua companheira.
No post, o homem explicou que, inicialmente, o casal planejava passar seus dois primeiros anos de casados viajando, mas a pandemia de covid-19 e os lockdowns mudaram seus planos. Começaram, então, a conversar sobre ter filhos.
"Há alguns meses, conversamos e decidimos que poderia ser um bom momento para ter filhos, em vez de esperar por condições de viagem melhores ou mais seguras", explicou. "Sem uma discussão muito séria sobre isso, decidimos parar de usar a contracepção e deixar as coisas acontecerem naturalmente."
Foi quando, segundo o usuário do Reddit, sua esposa pediu que eles discutissem sobre os gastos relativos à maternidade.
Depois de conversar sobre a logística da licença-maternidade, o homem disse que sua esposa foi "muito direta" e explicou que gostaria que ele a compensasse pelos US$ 50 mil (R$ 250 mil) que ela "perderia" durante os seis meses em que estivesse fora do trabalho.
"Ela está me pedindo para compensá-la por esses US$ 50 mil, além de dividir quaisquer custos inesperados relacionados à gravidez e ao parto", escreveu ele.
"Sua postura é que ela está fazendo algo para nós começarmos uma família, mas não é uma verdadeira divisão de 50-50 se ela vai sofrer um impacto financeiro por isso e eu não, já que nossas finanças são separadas", acrescentou.
"Ela tinha uma lista impressa de expectativas em termos do que esperava financeiramente (e) listou algumas coisas que seu seguro pode não cobrir."
Embora o homem tenha reconhecido que vê "lógica" no argumento da esposa, também disse que está "realmente muito desanimado" com a situação porque sente que ela está "essencialmente me pedindo para pagar a ela para ter nosso filho (ou filhos)".
Segundo o marido, apesar de sua hesitação inicial, sua esposa revelou que também esperava que ele a compensasse caso ela decida tirar um ano de licença-maternidade.
Nesse caso, a mulher propunha receber US$ 50 mil dele, relativos ao salário que deixaria de ganhar durante os primeiros seis meses, e depois metade de sua remuneração pelo restante do ano.
"Como seu trabalho não a remuneraria, e como essa perda é algo que ela está fazendo pela família, ela está 'confortável dividindo a perda de sua renda' e me pedindo apenas 50% de seu salário em vez de 100% pelos seis meses (durante os quais ela não terá renda)", continuou, acrescentando que "a ideia, eu acho, é que nós dois 'soframos' metade da perda de renda pelo segundo semestre da licença-maternidade".
Além da "indenização" financeira, o homem disse que o plano detalhado de sua esposa também incluía detalhes sobre a divisão das tarefas domésticas, bem como sobre a economia que o casal faria para cuidar dos filhos e bancar uma empregada doméstica.
"Não estou brincando, é um fichário de 16 páginas que ela me entregou com notas detalhadas, algumas explicações e listas de despesas", disse ele. "Mas o elemento imediato e essencial aqui é que ela quer que eu pague US$ 50 mil a US$ 100 mil para compensá-la pela perda de seu salário por seis a 12 meses como resultado de ela ter nosso filho."
No post, o homem disse que está tentando dificuldades para lidar com o pedido de sua esposa, e que sua primeira reação foi de choque porque o valor é muito alto.
Ele também revelou que acha a ideia de remunerá-la para ter um filho "simplesmente nojenta", embora reconheça "que muitos casais conseguem fazer isso sem pagar suas esposas para ter filhos".
No entanto, observou que muitos casais que decidem ter filhos são casados legalmente e "a perda da renda de uma pessoa é uma perda para todos". "Então, em nossa situação, faz sentido lógico, mas há algo tão transacional nisso que me deixa com um mal-estar", acrescentou.
Segundo o homem, ele não brigou nem discutiu com a esposa sobre a proposta, mas está pensando no assunto. Observou, no entanto, que se concordar com os termos do acordo, sua esposa quer que eles redijam uma espécie de contrato e procurem um advogado.
O homem disse que está sendo especialmente cauteloso porque sua esposa já havia feito um aborto no início do relacionamento e não contou a ele até um ano depois.
Embora tenha reconhecido que apoiou a escolha dela, ele admitiu que "o fato de ela tomar decisões como essa de forma tão independente me deixa incrivelmente cauteloso agora", e que está ciente de que, se ela estiver grávida, sua reação à proposta poderia ter "consequências reais".
Por fim, o homem disse que, enquanto analisa a proposta da esposa, planeja perguntar se ela, de fato, está grávida.
"Definitivamente uma conversa que devemos ter, mas não sei se isso deve influenciar minha resposta aqui", concluiu.
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