Solteiro, sem filhos, está em um relacionamento de quase três anos com a cientista política Irina Karamanos. Leitor compulsivo, fã de poesia no país de Gabriela Mistral e Pablo Neruda, não hesita em defender a estrela pop mundial Taylor Swift em suas redes sociais, ou falar do futuro do planeta e da justiça social com o ex-presidente uruguaio José "Pepe" Mujica. Esse é Gabriel Boric, o jovem esquerdista que assume o comando do Chile.
"Se o Chile foi o berço do neoliberalismo na América Latina, também será sua tumba", disse ele em julho quando proclamado candidato presidencial. Desde então, seu discurso foi atenuado.
Ex-líder estudantil, Boric se distanciou dos líderes da esquerda latino-americana e dos governos bolivarianos. "A Venezuela é uma experiência que fracassou e a principal manifestação são os seis milhões de venezuelanos na diáspora", comentou em janeiro.
Também repudiou a invasão russa da Ucrânia e a repressão a opositores na Nicarágua.
Novo visual
Agora, Boric vai liderar uma nação que redige sua nova Constituição em uma Convenção Constituinte, criada após os protestos sociais de outubro de 2019. Também terá que lidar com a crise econômica derivada das restrições sanitárias de combate à pandemia do coronavírus.
Boric não tem medo de mudar de direção. Durante os quase sete meses de campanha, ele foi de um discurso de menino rebelde que liderou os protestos estudantis de 2011 exigindo "educação pública, gratuita e de qualidade" para o de um social-democrata.
Sua transformação política anda de mãos dadas com a mudança de aparência. Pouco resta do jovem barbudo e despenteado que chefiou a Federação dos Estudantes da Universidade do Chile (FECH) e que, em 2014, aos 27 anos, assumiu seu primeiro mandato como deputado. Hoje ele usa paletó e camisa, cabelo mais curto, barba bem cuidada e óculos.
Boric nasceu na cidade austral Punta Arenas em uma família de classe média de bisavós croatas e catalães. Na campanha eleitoral, pediu que "a esperança vença o medo" diante das críticas que o classificam como "extremista" por sua aliança com os comunistas.
O novo presidente vai morar em uma mansão no centro de Santiago, no Yungay, bairro com passado glorioso e presente enferrujado. "É um bairro popular, tem gente que se dedica a tatuar, gente que se dedica à música, gente que vende na rua, tem estrangeiros, chilenos, venezuelanos, colombianos, ou seja, vivem a realidade do país hoje", diz Felipe Fuentes, vendedor ambulante que será vizinho do presidente e, por isso, se diz "ansioso e animado".
A casa de 500m² que Boric vai ocupar com a namorada, Irina, foi um albergue, um centro médico e uma pizzaria, cuja placa na fachada nenhum vizinho parece disposto a tirar: "Sensato".
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