Entrevista Anatoliy Tkach | Encarregado de negócios da Embaixada da Ucrânia

"Precisamos de mais pressão sobre Putin", diz encarregado da Embaixada da Ucrânia

O diplomata cobrou mais medidas da comunidade internacional para forçar o Kremlin a parar com a guerra

Rodrigo Craveiro
postado em 09/03/2022 06:00
 (crédito: Embaixada da Ucrânia/Divulgação)
(crédito: Embaixada da Ucrânia/Divulgação)

Em entrevista ao Correio, Anatoliy Tkach, encarregado de negócios da Embaixada da Ucrânia em Brasília, acusou o presidente russo, Vladimir Putin, de desejar a destruição do Estado ucraniano e garantiu que Kiev não aceitará condições e ultimatos. Também chefe da missão da representação diplomática, Tkach lembrou que a integração à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) é prioridade do presidente Volodymyr Zelensky. O diplomata cobrou mais medidas da comunidade internacional para forçar o Kremlin a parar com a guerra. 

A Rússia exigiu que a Ucrânia desista da Otan e que reconheça a independência de Donbass e da Crimeia. Como o senhor vê essas demandas?

A intenção do Putin é a destruição do Estado ucraniano. As negociações devem basear-se no bom senso e levar em consideração a posição da Ucrânia. O presidente Volodymyr Zelensky, categoricamente, não aceita quaisquer condições e ultimatos inaceitáveis para a Ucrânia. Apenas negociações completas. Neste momento, precisamos parar a guerra e garantir a segurança da Ucrânia, enquanto a integração à Otan e à União Europeia são prioridades previstas pela Constituição da Ucrânia.

Como a comunidade internacional precisa agir para dar uma resposta mais forte contra a agressão sofrida pela Ucrânia?

Precisamos continuar fazendo pressão sobre a Rússia para que termine a guerra logo. Gostaríamos que a comunidade internacional adotasse as seguintes medidas para ajudar a conter a agressão russa: estabelecer uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, a fim de cessar o bombardeio de civis pela Rússia e garantir a segurança de infraestrutura crítica, como usinas nucleares; contribuir para o fortalecimento do sistema de defesa aérea da Ucrânia, inclusive fornecendo aeronaves militares; desconectar todos os bancos russos do Swift; expandir as sanções ao regime de Aleksandr Lukashenko em Belarus; instituir um embargo comercial à Rússia, inclusive no setor de petróleo e gás, bem como as vendas de ouro; impedir que a Rússia use criptomoedas para contornar sanções; fechar portos para navios russos (seguindo o Reino Unido, Canadá e Chipre); apoiar a Ucrânia com armas, equipamentos de proteção, munições, combustível e tudo o que for necessário para combater as maiores forças armadas do continente; e fornecer apoio financeiro à Ucrânia.

De que forma a abertura dos corredores humanitários vai aliviar a tragédia humanitária na Ucrânia? Esses corredores funcionaram na terça-feira (8/3)?

Os corredores humanitários ajudariam muito a resgatar a população civil que está sofrendo imensamente devido a ataques incessantes por parte das Forças Armadas russas. As áreas residenciais de cidades estão sendo intensamente bombardeadas, deixando diariamente dezenas de civis inocentes mortos e feridos. Três rodadas de negociações foram realizadas, em 28 de fevereiro, em 3 e em 7 de março. Como resultado, foram acordados corredores humanitários, planejados para 5, 6 e 7 de março, que falharam devido ao fogo contínuo da Rússia. Hoje (ontem), foi aberto um corredor humanitário de Sumy. Apesar de vários casos de violações do cessar-fogo, civis estavam deixando a cidade. No entanto, em Mariupol, os ocupantes russos não deixaram as pessoas saírem da cidade e lançaram um ataque na direção do corredor humanitário. A situação na cidade é crítica. Quase toda a cidade de Mariupol ficou sem aquecimento, luz e água. Nenhuma ajuda humanitária pode chegar ao destino devido aos bombardeios. Na cidade, uma criança morreu de desidratação.

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