A invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro estremeceu o mundo e o presidente Vladimir Putin não dá sinais de recuo.
A seguir, uma lista de possíveis cenários para as próximas semanas e meses, com base em opiniões de fontes de governos de países ocidentais e analistas.
1) Atoleiro militar
As forças ucranianas resistiram até o momento à invasão russa, derrotando uma tentativa de tomada da capital Kiev nos primeiros dias da ofensiva, mas sofrem um duro cerco na segunda maior cidade do país, Kharkiv, e no porto estratégico de Mariupol.
Embora a Rússia afirme ter plena superioridade aérea, a defesa aérea da Ucrânia ao redor de Kiev e outras zonas parece ter sido atingida, mas ainda está funcionando, segundo autoridades ocidentais.
"Isso provocou muitos problemas", disse uma fonte europeia, que pediu anonimato, na sexta-feira.
Muitos ucranianos se uniram às unidades de defesa territorial e há dúvidas sobre a moral do exército russo e seu apoio logístico.
Apoiado pelos serviços de inteligência dos países ocidentais e um fluxo de mísseis antitanque e terra-ar, as forças ucranianas poderiam resistir na capital e forçar uma estagnação militar.
As crescentes sanções ocidentais que asfixiam a economia russa poderiam obrigar Putin a modificar seus cálculos.
"O Ocidente poderia adotar algumas sanções para pressionar Putin a abandonar sua meta militar de decapitar o governo ucraniano e instalar um fantoche pró-Rússia", escreveu esta semana Samuel Charap, do centro de estudos americano RAND Corporation.
Também pode ser necessária uma pressão da China, grande aliada do Kremlin na presidência de Xi Jinping.
2) Mudança interna russa
Putin monitora de perto a dissidência interna. A repressão à imprensa independente e aos meios de comunicação internacionais eliminou qualquer fonte alternativa de informação sobre a guerra, consolidando o controle da imprensa estatal leal a Putin.
Porém, pequenas manifestações contra a guerra foram organizadas em várias cidades, de São Petersburgo a Moscou, com pelo menos 6.000 detidos, de acordo com grupos de direitos humanos.
Também foram registradas fissuras entre a elite governante, com alguns oligarcas, legisladores e até mesmo o grupo petroleiro privado Lukoil que pediram abertamente um cessar-fogo ou o fim dos combates.
Embora não seja considerada provável nesta etapa, a possibilidade de que Putin seja derrubado em uma revolta popular ou até em um golpe de Estado não foi descartada.
"A segurança pessoal dele é muito boa e será muito boa até que deixe de ser", afirmou Eliot Cohen, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede em Washington.
"Isto aconteceu muitas vezes na história soviética e russa", acrescentou.
3) Êxito militar russo
Dada a superioridade bélica russa, seu poderio aéreo o o uso devastador da artilharia, analistas militares ocidentais projetam que as tropas de Moscou prosseguirão com o avanço.
Um grande comboio de veículos foi estabelecido fora de Kiev, antes do que se antecipa como o ataque à capital.
O presidente francês Emmanuel Macron concluiu que "o pior está por vir", depois de conversar com Putin na quinta-feira.
Putin "quer controlar toda a Ucrânia", disse um assessor de Macron à imprensa.
Porém, mesmo que as tropas russas consigam derrubar o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e dobrar a resistência ucraniana em outras cidades, Putin terá que encarar o desafio de ocupar um país de 40 milhões de habitantes.
"Entrar em uma cidade não é o mesmo que retê-la", escreveu o historiador militar britânico Lawrence Freedman, professor del King's College de Londres.
4) O conflito se prolonga
A Ucrânia tem fronteiras com quatro países da ex-União Soviética que são integrantes da Otan, organização que considera um ataque contra um membro um ataque contra todos.
A nostalgia de Putin pela União Soviética e seu compromisso de proteger as minorias russas nos Estados bálticos gera dúvidas sobre suas ambições territoriais.
Depois da Ucrânia, alguns especulam que Putin poderia ter como alvo a Moldávia, que fica entre a Ucrânia e a Romênia.
Poucos esperam que Putin ataque um membro da Otan, o que representaria o risco de uma guerra nuclear, mas outras provocações são possíveis.
"A neutra Suécia permanece vigilante ante as intenções russas com a ilha de Gotland no mar Báltico", escreveu o analista Bruno Tertais para o Instituto Montaigne, um centro de estudos francês.
Charap advertiu para os "riscos de um acidente, incidente e erro de cálculo que saia do controle em uma guerra Otan-Rússia", como poderia ser o caso de um míssil desviado ou de um ciberataque.
5) Confronto com a Otan
Tal guerra sempre foi considerada impossível devido à existência de armas nucleares, que representam a destruição mútua assegurada.
Estados Unidos e Rússia abriram uma "linha para evitar conflito", na qual podem trocar informações militares rapidamente para reduzir a possibilidade de um mal-entendido.
O mesmo sistema foi usado na Síria, onde as tropas dos dois países atuam em lados opostos da guerra civil desde 2015.
Putin, no entanto, ordenou que as forças russas de dissuasão nuclear permaneçam em alerta. O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, advertiu que "a Terceira Guerra Mundial poderá apenas ser uma guerra nuclear".
Analistas ocidentais afirmam que as advertências devem ser observadas como uma forma de dissuadir Estados Unidos e Europa de considerar iniciativas como uma zona de exclusão aérea na Ucrânia.
"Estos anúncios são destinados predominantemente ao público ocidental para fazer com que sintamos medo e insegurança", comenta Gustav Gressel, analista do Conselho Europeu de Relações Exteriores.
"Eles usam a dissuasão nuclear como uma forma de operação de informação. Não há substância", completa.
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