O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou nesta quinta-feira (3/3) sua candidatura à reeleição nas presidenciais de abril, em meio a temores de seus adversários de que a ofensiva russa na Ucrânia ofusque a campanha e abra o caminho para um segundo mandato.
"Sou candidato para criar com vocês uma resposta francesa e europeia única aos desafios do século", escreveu Macron em uma "Carta aos franceses", publicada em vários veículos de comunicação na primeira página.
A tradição manda que os presidentes em exercício esperem até o último momento para anunciar se disputarão a reeleição, mas esse conflito obrigou o atual inquilino do Palácio do Eliseu, sede da Presidência francesa, a adiar seus planos até a véspera do prazo final.
Macron havia vinculado o anúncio a uma melhora na situação sanitária e a sua mediação para diminuir a crise entre Moscou e Kiev. O primeiro objetivo foi alcançado. No segundo caso, a Rússia invadiu a Ucrânia.
Apesar do fracasso diplomático, o líder centrista continua liderando as pesquisas, seguido pelos candidatos de extrema direita Marine Le Pen e Éric Zemmour, da candidata da direita tradicional, Valérie Pécresse, e do esquerdista Jean-Luc Mélenchon.
As últimas pesquisas dão ao presidente entre 25% e 28% das intenções de voto no primeiro turno marcado para 10 de abril, à frente de Le Pen (16% a 17%), Zemmour (14%), Pécresse (12% a 13%) e Mélenchon (10,5% a 12,5%).
Em 2017, Macron se tornou o presidente eleito mais jovem da França, aos 39 anos, e agora pode ser o primeiro a renovar seu mandato desde o conservador Jacques Chirac (1995-2007) no segundo turno de 24 de abril, de acordo com as pesquisas.
A campanha eleitoral é, no entanto, atípica. Inicialmente liderada pela política migratória e depois pelo medo da perda do poder de compra, agora está praticamente monopolizada pela guerra na Ucrânia.
Isso faz seus rivais temerem que o presidente evite discutir o conteúdo da campanha eleitoral.
Macron "deve um balanço [sobre seu mandato] aos franceses", enfatizou Le Pen.
Na terça-feira (1º), o presidente do Senado, o direitista Gérard Larcher, alertou para o risco de uma "crise de legitimidade" de um possível novo mandato de Macron, sem um debate real sobre seu balanço e projeto.
"Logicamente, não poderei fazer campanha como gostaria, devido ao contexto", escreveu Macron na carta, comprometendo-se, no entanto, a "explicar" seu projeto "com clareza".
"Trabalhar mais"
Os avisos não são triviais. Macron era quase um novato político quando foi eleito em 2017, meses depois de servir como ministro da Economia de seu antecessor, o socialista François Hollande. Seu impulso reformista colidiu com uma série de protestos sociais.
A crise dos "coletes amarelos" no meio do mandato foi a mais importante. Este protesto das classes populares obrigou-o a reverter o aumento dos preços dos combustíveis e, desde então, tem tido o cuidado de limitar o aumento da energia.
Durante uma entrevista em dezembro passado sobre seu mandato, o líder liberal, que teve de deixar para trás alguns de seus postulados para tirar o país da recessão econômica causada pelo coronavírus em 2020, reconheceu que um único mandato não era suficiente.
Sua aposta para os próximos cinco anos passa por obter a "independência" da França com investimentos maciços nos setores industrial e energético, especialmente no setor nuclear, potencializando a transição ecológica e digital.
O Tribunal de Contas já avisou o governo, porém, que terá de fazer reformas estruturais e cortes para sanar as contas públicas, sobretudo quando o Executivo prevê uma dívida de 113% do Produto Interno Bruto (PIB) e um déficit de 5% no final do ano.
Macron já antecipou que, entre seus planos, está retomar a polêmica reforma da Previdência, paralisada pela pandemia de coronavírus e que pode provocar novas manifestações multitudinárias.
"Não há independência sem força econômica. Portanto, devemos trabalhar mais e continuar baixando os impostos que pesam no trabalho e na produção", reiterou em sua carta, na qual evoca as linhas gerais de seu projeto de governo.
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