Retorno

Jogadores que estavam na Ucrânia desembarcam no Brasil: ‘dias difíceis’

Grupo de atletas do Shaktar Donetsk e Dínamo de Kiev chegou junto a outros brasileiros que conseguiram fugir da guerra; o meia Pedrinho falou sobre o medo de não reencontrar mais a família e a ajuda que receberam da UEFA

Jéssica Gotlib
postado em 01/03/2022 12:50
Todas as vezes que eu falava com meus pais me despedia porque não sabia se seria a última vez, disse Pedrinho -  (crédito: Globo Esporte/Reprodução)
Todas as vezes que eu falava com meus pais me despedia porque não sabia se seria a última vez, disse Pedrinho - (crédito: Globo Esporte/Reprodução)

Quase uma semana depois do primeiro ataque da Rússia à Ucrânia e cinco dias depois de um pedido público e coletivo de ajuda, jogadores brasileiros desembarcaram no país junto a seus familiares. Eles estavam entre as pessoas que chegaram ao aeroporto de Guarulhos, São Paulo, na manhã desta terça-feira (1º/3).

Na saída do voo, o meia-atacante Pedro Victor, o Pedrinho, contou que o pior momento foi no sábado (26/2), porque a notícia que chegava até eles era de que os russos estavam fechando o cerco contra a capital Kiev e, talvez, o grupo não pudesse deixar o hotel em estava.

“Ficamos três dias pensando no que fazer, se pegávamos o trem, carro. Era complicado, tinham muitas crianças e o que nos motivava era protegê-las. Pegamos um trem no último dia. Teve um alerta que as coisas iam piorar muito e que se não saíssemos em cinco minutos não íamos mais conseguir sair”, contou em entrevista coletiva ainda no aeroporto.

Pedrinho disse que, num primeiro momento, pensava principalmente na vontade de se reunir novamente com a família que ficou no Brasil. Conforme o tempo foi passando, ele relata que só conseguia desejar que a esposa, a filha e as outras crianças da delegação de brasileiros conseguissem fugir do conflito.

“Foram dias difíceis. Nós achávamos, por algum momento, que não íamos conseguir”, declarou. Ele também lembrou que faltou comida para em alguns dias e que isso foi difícil para as crianças. Mas o mais desafiador, segundo Pedrinho, foi não ter uma perspectiva de como sair da situação. “Não sabíamos o que fazer, não tínhamos como reagir, então creio que essa foi a maior dificuldade. Não ter um plano, não ter uma saída e ficar refém daquilo dia após dia”, contou.

Ajuda

Perguntado sobre a existência de alguma ajuda do governo brasileiro, o meia informou que “a situação foi muito complicada”. “Muitos governos, como o de Portugal, reagiram muito rápido, tiraram suas pessoas de lá e nós ficamos lá três dias no sufoco, complicado. Claro, no final, eles tiveram alguma influência, para te falar a verdade, não sei explicar muito bem em qual momento. Mas, no começo, a gente ter passado por tudo isso, eles poderiam ter reagido melhor”, ponderou.

O jogador também revelou que os brasileiros foram auxiliados pela União das Associações Europeias de Futebol (UEFA) para conseguir transporte para fora da Ucrânia. “A UEFA nos ajudou bastante com transporte, com ônibus, hotel, para que a gente pudesse seguir em segurança”, lembrou.

Ele finalizou dizendo que é muito cedo para falar sobre pretensões de voltar a jogar na Ucrânia ou mesmo na Europa. “Tudo aconteceu agora. O que eu mais quer, agora, é estar com a minha família, meus pais. Todas as vezes que eu falava com eles, sempre me despedia porque não sabia se seria a última vez. Quero chegar em casa, esfriar a cabeça, poder estar com a minha filha porque são cenas lamentáveis. Desejo que ninguém passe por isso”, encerrou.

Mais de 30 jogadores no futebol da Ucrânia

Outros atletas como o ex-Corinthians Maycon e o zagueiro Marlon Santos também chegaram ao país nesta terça. “Sensação de terror e de desespero a cada momento. Escutávamos barulhos de caças e barulho de bombas. Era uma situação horrível. Mas teve pessoas que se dispuseram a arriscar, como o Junior Moraes, que conseguiu ir atrás de alimentos, fraldas pra crianças e aí ficamos mais tranquilos e nos unimos para mantermos a calma e conseguir uma solução para sair daquele local”, disse Marlon ao desembarcar no Rio de Janeiro.

A situação mais delicada era de Junior Moraes, que vive na Ucrânia há mais de uma década e tem nacionalidade local. Ele poderia ter sido convocado pelo exército ucraniano, mas conseguiu cruzar a fronteira. Só na primeira divisão do campeonato local de futebol estão inscritos 33 atletas brasileiros. Ainda há outros que jogam nas demais categorias.

Não há informações sobre quantos deles conseguiram sair do país.

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