Leste europeu

Otan, Ucrânia e Rússia: entenda o que motivou o conflito no leste europeu

Especialistas explicam como a história do país e sua antiga relação com a Rússia vai muito além do interesse de entrar para a Otan

Criada durante a Guerra Fria, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) é uma aliança militar comandada pelas potências do Ocidente. Em 1949, tinha 12 membros e servia como uma frente militar contra a União Soviética (URSS), que seis anos mais tarde criou uma organização própria — o Pacto de Varsóvia.


Considerado como um dos estopins da invasão russa à Ucrânia, a possível entrada da Ucrânia na Otan não vem de hoje. Virgílio Caixeta Arraes, professor de história contemporânea na Universidade de Brasília (UnB), explica que durante o processo de fragmentação da URSS, a Ucrânia conseguiu se tornar independente, mas precisou concordar com algumas medidas, como permanecer alinhada com a Rússia, ou seja, sem se aproximar excessivamente do Ocidente, considerar entrar na Otan ou até mesmo na União Europeia. “Em 1994, a Ucrânia entregou as armas nucleares que tinha, em troca da integridade territorial”.


O professor pontua ainda que mesmo tendo que estar alinhada com a Rússia, a Ucrânia manteria a autoridade como país de se aproximar do Ocidente, caso quisesse. “Mas, ao mesmo tempo, parte da Rússia vai questionar isso, alegando questões de segurança”, explica ele.


Só que, com a queda do governo ucraninano, que tinha ideais mais próximos da Rússia, em 2014, a Ucrânia passou a se aproximar mais uma vez do Ocidente e então a retaliação da Rússia foi retomar a região da Crimeia. “E agora a tentativa de entrada mais uma vez da Otan. E isso seria só mais um pretexto para o Putin”.


Além disso, há também o precedente da entrada de ex-membros da antiga União Soviética na Otan, como Estônia, Letônia e Lituânia. A partir disso, já havia um incômodo russo sobre a entrada de países próximos à ele na Organização. Isso porque houve um pacto formal, que não foi assinado, de que os EUA não iriam abordar países da antiga URSS para entrar na Otan.


É importante frisar que entrar na Otan significaria ter uma defesa coletiva — presente no artigo 5º do Tratado — ou seja, uma garantia de proteção militar em caso de ataques.

 


No entanto, segundo Argemiro Procópio Filho, professor titular de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), a Ucrânia teria muito a perder ao se junta-se a Otan e estreita-se as relações com a Rússia.


“Uma das grandes fontes de renda da Ucrânia são os gasodutos da Rússia e o petróleo russo que passa no território ucraniano. E se ela [Ucrânia] entrasse na Otan os russos iriam fechar essa torneira”, explica o professor Argemiro. “Você não pode brigar com vizinho, vizinho você não escolhe. Ainda que você não goste dele, você tem que se dar bem com ele. A tua paz vai defender o vizinho. A vizinhança, em termos de relações internacionais, é estratégica. Ter boas relações com vizinhos é essencial para você”, ele afirma.


Caminhando para o fim?


Para Argemiro, seria necessário, por parte da Ucrânia, adquirir uma postura de neutralidade entre a Otan e a Rússia, para que o conflito chegue em algum tipo de resolução. “Primeiro passo para a paz é ter paz com o vizinho”.


No entanto, Virgílio Caixeta Arraes, professor de história contemporânea na Universidade de Brasília (UnB), explica que agora que já houve uma invasão por parte da Rússia, é muito mais complexo de se resolver o conflito. “Agora isso é uma questão mundial”, relata. Mas o professor concorda que deve existir um distanciamento entre Ucrânia e Otan para que o conflito encontre alguma resolução.

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