GUERRA

Entenda as implicações da exclusão da Rússia da rede Swift

Superada a resistência da Alemanha, potências ocidentais banem bancos russos do maior sistema de pagamentos internacional. O país é o segundo no ranking de usuários na plataforma

As potências ocidentais vão banir um seleto grupo de bancos russos da rede Swift, uma importante artéria do sistema financeiro internacional. Desde quinta-feira, os Estados Unidos defendiam a medida, mas a Alemanha, forte dependente da importação de gás da Rússia, resistia. Na noite de ontem, o porta-voz do governo alemão, Steffen Hebestreit, anunciou a anuência do país, que se juntou a EUA, Canadá, França, Itália, Grã-Bretanha e Comissão Europeia (CE).

Da Bélgica, a presidente da CE, Ursula von der Leyen, disse que "o mundo está mais determinado do que nunca a isolar a Rússia economicamente". Segundo ela, as sanções, planejadas em Bruxelas, são necessárias porque o exército russo está "cometendo atos bárbaros" e, em consequência, os aliados ocidentais vão "impor o preço mais alto possível por essas agressões, e isolar ainda mais o país do sistema financeiro e econômico internacional".

Criada em Bruxelas em 1973, a rede Swift (sigla de Sociedade de Telecomunicação Financeira Mundial) não movimenta dinheiro, mas é como uma "rede social" bancária. Por meio dela, milhares de instituições financeiras em mais de 200 países trocam informações sobre pagamentos, facilitando as transferências mundo afora. Em média, são 42 milhões de mensagens mandadas diariamente, sendo que metade dos pagamentos de valores altos que atravessam fronteiras passam por ela. Cerca de 300 bancos e organizações russas usam o sistema — a Rússia é o segundo no ranking de usuários da plataforma, atrás dos EUA.

Espinha dorsal

A remoção de Moscou da Swift seria como cortar a internet de um país. "Imagine todas essas organizações que operam on-line. Elas têm seus clientes, para os quais enviam informações e realizam transações. De repente, ficam com acesso zero a essa infraestrutura", explicou Markos Zachariadis, especialista em tecnologia financeira da Universidade de Manchester, na Inglaterra, citado pela rede CBS. "Você pode pensar na Swift como a espinha dorsal do setor de serviços financeiros. É a infraestrutura mais influente que temos em termos de volume e valor de dinheiro movimentado ao redor do mundo."

Banir os bancos da plataforma não é apenas um "castigo" para Moscou. Ao mexer com as finanças do país, o objetivo das potências ocidentais é limitar a capacidade de Vladimir Putin de financiar a máquina de guerra. Além disso, as movimentações da oligarquia russa ficariam muito reduzidas, provocando uma erosão na economia, explicou von der Leyen. A presidente da Comissão Europeia disse que Putin quer destruir a Ucrânia, "mas, ao fazê-lo, está também destruindo o futuro de seu próprio país".

Segundo o governo alemão, os países também decidiram restringir as possibilidades de o Banco Central vincular a taxa de câmbio do rublo às transações financeiras internacionais. As sanções vão atingir não apenas o Kremlin, mas indivíduos e entidades russas que apoiarem a guerra contra a Ucrânia. Outra medida acordada foi negar cidadania europeia para oligarcas aliados de Putin.

Na sexta-feira, a União Europeia e o Reino Unido já haviam anunciado o bloqueio dos bens de Putin e Sergey Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia. Todos os membros da câmara baixa do parlamento do país, a Duma, foram incluídos na lista de personae non gratae da UE, assim como 26 homens de negócio. O Canadá decidiu punir 58 oligarcas e instituições russas, enquanto o Japão determinou o congelamento de ativos e a suspensão de emissão de vistos para pessoas e organizações do país, assim como o bloqueio de bens e instituições financeiras.

As sanções apoiadas pela Europa, porém, não sairão sem um custo para os próprios países que a defendem, porque muitas nações do continente dependem da Rússia para importação de gás. Por isso, a França, que está na presidência rotativa do Conselho da União Europeia, anunciou a realização de uma reunião extraordinária do conselho de ministros europeus encarregados da energia, amanhã, em Bruxelas.

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