Incomodados com a falta de clareza do Brasil sobre o ataque à Ucrânia, embaixadores da União Europeia, de países das Américas e do Japão cobraram, ontem, uma "condenação veemente" do presidente Jair Bolsonaro. E alertaram: "ignorar a situação" pode gerar futuras ameaças a outras nações.
Douglas Koneff, encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, não usou de meias palavras para deixar claro que a omissão de Bolsonaro é prejudicial. "Não é tempo de ficar no muro. Todos os países devem condenar o ataque. A voz do Brasil importa. Temos confiança de que o Brasil vai fazer o correto", cobrou.
A reunião entre os embaixadores precedeu um encontro deles com representantes do Ministério das Relações Exteriores (MRE). O representante da União Europeia, Ignacio Ybañez, avisou: o Brasil, por ser membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, não pode se esconder na neutralidade. "Estamos passando uma mensagem muito clara ao governo brasileiro, que tem a responsabilidade grande por estar no Conselho de Segurança", alertou.
"Esse não é só um problema europeu, é um problema internacional. Se ignorarmos, agora, uma agressão como essa, no futuro o mesmo pode ocorrer na Ásia ou na América Latina", argumentou o embaixador japonês, Teiji Hayashi
Heiko Thoms, representante da Alemanha, foi enfático ao afirmar que Bolsonaro deve ser explícito. "Precisamos de uma condenação clara e unânime de todas as nações membros da ONU, incluindo o Brasil", cobrou.
Sanções comerciais
Mas, nos bastidores do Itamaraty, a postura permanece sendo de condenar os ataques, mas sem fechar diálogo com Moscou. Isso porque o temor é que uma condenação veemente pode levar o presidente Vladimir Putin a mandar suspender acordos bilaterais e impor sanções às mercadorias brasileiras que fazem parte da pauta comercial entre os dois países.
Bolsonaro, porém, não deu qualquer indício de que vá abandonar a postura que adotou até agora. Sua única manifestação foi, na live da última quinta-feira, ao lado do chanceler Carlos França, uma crítica irritada com a opinião do vice-presidente Hamilton Mourão — que condenou a invasão, comparou Putin ao ditador nazista Adolf Hitler e que não basta impor sanções econômicas aos russos, mas que se deve agir militarmente contra eles.