Poderio militar discrepante

O ataque praticamente simultâneo à Ucrânia por terra, mar e ar é um dos indicadores do poderio militar russo e também de que Kiev terá um trabalho árduo para resistir. Há discrepâncias significativas entre o arsenal dos dois países. Enquanto Moscou tem, por exemplo, quase 16 mil veículos blindados, o país vizinho tem 3,3 mil. (veja arte). "As diferenças são gigantes quando falamos em números totais de tudo aquilo que compõe um Exército. A Ucrânia pode se defender por um tempo, mas, dificilmente, vencerá os russos", avalia o especialista militar em Rússia e União Europeia Claudio Lucchesi.

Para o também jornalista, devido à característica cultural dos povos daquela região, dificilmente haverá uma rendição, e a diferença bélica culminará em um cenário de violência. "Os soldados ucranianos vão morrer com honra", acredita Lucchesi. Só de soldados, Moscou tem 900 mil militares na ativa. Kiev, 196,6 mil. Antes do início da invasão à Ucrânia, a estimativa é de que 150 mil homens russos estavam próximos às regiões separatistas.

Além da diferença entre o número de soldados na ativa e na reserva, Lucchesi lembra que a Rússia tem um padrão de ataque complexo, de quebra de força tradicional, que confunde operações militares de praxe. "Eles enviaram tropas especiais para ocupar locais estratégicos, como o principal aeroporto internacional da Ucrânia (Kiev-Boryspil) e entradas e saídas e zonas de escoamento", explica.

Quanto à possibilidade de uma eventual cooperação com países da região para ajudar Kiev na luta contra a invasão russa, Lucchesi não aposta em grandes reforços. "A Turquia vendia drones à Ucrânia ates. Essa será a ajuda militar que eles terão. A Geórgia poderá ajudar com equipamentos de guerra, como a Ucrânia os ajudou no passado. Mas ambos os países não sairão em conflito com a Rússia", justifica.

Experiência americana

A decisão do presidente Joe Biden de não enviar tropar para o campo de batalha pode ser positiva, na avaliação do especialista. Apesar de bem guarnecidos, os russos têm desvantagens quando se trata do poderio militar dos Estados Unidos. "O calcanhar de Aquiles de Vladimir Putin é a inexperiência em guerras", ilustra. "Os americanos, por se comportarem como a polícia do mundo, estiveram em conflitos no Oriente Médio, na América Latina, na Ásia e por aí vai. Os generais dos EUA têm a experiência que os russos não têm", completa.

Biden tem afirmado que pode mudar de ideia caso algum país integrante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) seja atingido. Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia estão entre as nações próximas aos países em guerra. Assim como a Belarus, um dos aliados da Rússia. Ainda assim, Lucchesi avalia que não há informações suficientes para afirmar que os russos deram início ao ataque a Kiev pelo país parceiro. "São aliados, mas tudo isso é especulativo. Nesses tempos de fake news, precisamos confirmar antes de acusar uma nação", justifica.