A invasão da Rússia à usina de Chernobyl, onde fica o depósito de resíduos nucleares, pode significar um perigo a mais para a humanidade. Segundo Inácio Loiola Pereira Campos, ex-professor de Energia Nuclear da UFMG e delegado da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, os efeitos seriam bastante longos e provocariam desastres, como o que ocorreu em 1986, quando um acidente nuclear em Chernobyl provocou mortes e contaminação em toda a Europa. Atualmente, a usina está desativada.
“É muito pouco provável que a Rússia faça um bombardeio à usina, porque o efeito deletério é enorme. Mas a sociedade normalmente não tem noção do estrago que isso pode provocar. Chernobyl foi uma marca e deixou sequelas no mundo todo. A consequência perdura por muito tempo. Foi um acidente nuclear muito sério”, afirma Inácio.
Segundo ele, as batalhas próximas à usina seriam prejudiciais para os combates dos dois lados. “As pessoas que trabalharam para conter a radiação faleceram rapidamente. Em Chernobyl, há uma cava rasa de concreto, logo não é factível destruí-la. O mundo inteiro iria contra. Levaria uma autodestruição na parte nuclear, com ataques de um lado e do outro”, complementa.
As forças russas chegaram em Chernobyl depois de cruzar a fronteira da Belarus com a Ucrânia. Autoridades do país invadido dizem que essa pode ser uma das ameaças mais sérias à Europa, justamente pela enorme quantidade de resíduos nucleares prejudiciais à saúde.
Zona da Exclusão
A região ao redor da antiga usina não é habitável e é conhecida como Zona de Exclusão. Curiosamente, a área é uma das mais procuradas pelos turistas na Ucrânia, apesar do alto teor de radioatividade.
Para ter acesso ao local, porém, visitantes precisariam de autorização do governo, concedida após o contato com uma das agências que fazem as visitas turísticas à região.
“A usina de Chernobyl não é ativa desde o acidente, há algumas décadas. Lá, é um cemitério numa região inabitável. Se as pessoas chegarem lá, terão doenças, mutações, o que as leva à morte. Não é razoável ao ser humano entrar nessa seara. É uma destruição mútua”, afirma o ex-professor da UFMG.