Em meio a invasão da Ucrânia pela Rússia, nesta quinta-feira (24/2), o presidente Jair Bolsonaro (PL) preferiu ainda não se manifestar. O vice-presidente Hamilton Mourão, no entanto, já declarou que o Brasil não apoia a decisão da Rússia. Para Rafael Duarte, professor do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário IESB, é preciso que Bolsonaro se manifeste sobre a questão. "É fundamental que o presidente se posicione nas próximas horas, não apenas pela relevância diplomática histórica do Brasil, mas sob pena de criar desgastes diplomáticos desnecessários", destaca.
Além disso, o professor ressalta que dependendo de como o Brasil se porte diante da crise, o país poderá sofrer consequências desagradáveis. "Imediatamente, o impacto econômico pelo aumento nos preços do petróleo e possível retomada da alta do dólar pode pressionar ainda mais o aumento da inflação. Politicamente, a depender da posição que o país tomar, impacta em articulações para futuros acordos e negócios de interesse do Brasil, como a adesão à OCDE, ingresso na Otan e até mesmo o acordo Mercosul-União Europeia", explica.
Há uma semana, Bolsonaro esteve na Rússia em viagem oficial e na ocasião disse que se "solidarizava" com a Rússia. A declaração não pegou bem. Como resposta, os Estados Unidos disseram que a fala "minava a diplomacia internacional".
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), criada em 1949, está no cerne do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Isso porque o país do leste europeu tem manifestado o desejo de se unir à aliança militar. A Rússia vê o movimento como uma ameaça.
A Otan tem imposto sanções econômicas à Rússia na tentativa de barrar a invasão, porém, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse em entrevista coletiva que o bloco não vai enviar tropas à Ucrânia. "O Secretário geral da Otan já respondeu, afirmando que estão em prontidão para o caso de escalada de hostilidades com os seus membros. Mas a Ucrânia não está ao abrigo dos acordos de defesa dessa organização", explica Rafael Duarte. O Brasil também não faz parte da Otan, porém, desde 2019 o país é considerado um aliado da organização.
Apesar dos temores da guerra, Rafael Duarte destaca que o conflito deverá ficar somente entre os dois países "A interdependência que existe hoje entre os países torna a guerra generalizada é vista uma alternativa em que todos perdem, sem exceção. Uma guerra mundial só ocorre quando as lideranças veem esta como a melhor solução para realizar seus interesses", esclarece.