O rei e a rainha da Jordânia mantêm contas bancárias secretas no valor de centenas de milhões de dólares, de acordo com um grande vazamento de dados de um dos maiores bancos da Suíça. Os dados sobre milhares de contas bancárias mantidas no Credit Suisse a partir da década de 40 foram publicados por um consórcio de meios de comunicação no domingo.
Segundo o jornal britânico The Guardian, o rei Abdullah II, um dos monarcas mais antigos do mundo, possuía pelo menos seis contas no Credit Suisse, incluindo uma que valia 230 milhões de francos suíços (US$ 251 milhões), enquanto sua mulher, Rania, mantinha outra conta. Algumas das contas datam de 2011, ano em que revoltas populares conhecidas como Primavera Árabe reverberavam no Oriente Médio.
Os dados também revelaram contas mantidas pelos filhos de Hosni Mubarak, o presidente deposto do Egito durante os protestos, e os magnatas dos negócios que prosperaram durante seu governo de 20 anos. Outras contas estavam ligadas a chefes de espionagem de Egito, Jordânia e Iêmen que cooperaram com os EUA e foram acusados de abusos de direitos humanos.
Há muito tempo, os cidadãos do Oriente Médio desconhecem as informações sobre as finanças das elites de seus países. Agora, o vazamento de dados do banco Credit Suisse abriu um olho mágico para a riqueza privada de uma série de nomes dessa elite, levantando novas questões sobre a capacidade desse grupo de transformar cargos públicos em lucro privado em países onde a falta de transparência cria aberturas para corrupção.
As revoltas de mais de uma década atrás levaram à derrubada de líderes na Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen, e uma guerra brutal e prolongada estourou na Síria. A Jordânia, um dos estados de segurança mais eficientes da região, conseguiu evitar uma ameaça de uma oposição nascente, por meio da supressão de dissidências e promessas de dias melhores.
Mas na década seguinte, uma economia em dificuldades, níveis persistentes de pobreza, alto desemprego, cortes no bem-estar e medidas de austeridade aparentemente sempre presentes continuaram a provocar ressentimento em todo o país, de acordo com o Guardian. Uma queixa em particular tem sido a justaposição entre a aparente riqueza do rei e a constante rotina sofrida pela maioria dos cidadãos apenas para sobreviver. Quando o FMI concordou em resgatar a Jordânia, com a condição de que seu povo apertasse os cintos coletivos, o rei estava movimentando enormes quantias entre suas contas suíças.
Os dados do Credit Suisse contêm detalhes de 18 mil contas bancárias vazados para o jornal Süddeutsche Zeitung por um denunciante que disse que as leis suíças de sigilo bancário eram "imorais". Os dados foram compartilhados com o Guardian e 47 outros meios de comunicação como parte de uma investigação global chamada segredos de Suisse.
Advogados do rei Abdullah e da rainha Rania disseram que não houve irregularidades por parte dos clientes e prestaram contas sobre a origem de seus fundos, que eles disseram estar em conformidade com a legislação tributária aplicável. O rei Abdullah não é obrigado a pagar impostos na Jordânia, onde o monarca está isento por lei. Seus advogados disseram que uma grande parte dos fundos do banco suíço deriva da herança de seu pai, o rei Hussein, e não há leis de imposto sobre herança na Jordânia.
"A Casa Real da Jordânia acompanhou as reportagens recentemente publicadas sobre as contas bancárias do rei Abdullah II, que contêm informações imprecisas, antigas e enganosas usadas para difamar Sua Majestade e a Jordânia e para distorcer a verdade", informou a monarquia, em um comunicado. O texto afirma que alguns dos saldos mencionados na investigação são contabilizados várias vezes. "Qualquer tentativa de vincular os fundos dessas contas a fundos públicos ou ajuda externa é uma calúnia infundada."
O Guardian lembrou que as revelações chegam em um momento desconfortável para o rei Abdullah e sua família, seis meses depois que o monarca apareceu com destaque no vazamento do maior tesouro de dados offshore de todos os tempos, o Pandora Papers, que revelaram que ele havia adquirido um portfólio de propriedades de luxo de US$ 100 milhões que se estendia de Malibu, na Califórnia, a Belgravia, no centro de Londres.
A resposta da monarquia jordaniana a essas novas revelações sobre a fortuna de Abdullah II no exterior segue a mesma linha dada à investigação do Pandora Papers. Na ocasião, ela assegurou que não era segredo que o rei tinha propriedades e que essa informação era distorcida e exagerada. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)