Crise internacional

Biden está convencido da invasão à Ucrânia

Presidente dos EUA diz que tem "todas as razões para acreditar" que Moscou escolheu atacar o país vizinho, incluindo a capital, Kiev. O aumento dos confrontos na fronteira e a evacuação de civis russos também sinalizam o acirramento das tensões

Para o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a investida diplomática para aliviar o clima de tensão entre Moscou e líderes do Ocidente não surtiu efeito. Em coletiva na noite de ontem, o líder americano disse "estar convencido" de que Moscou já "tomou uma decisão": partirá para uma investida militar contra a Ucrânia nos próximos dias e com planos, inclusive, de atacar a capital do país vizinho, Kiev. "Neste momento, estou convencido de que ele tomou a decisão. Nós temos razões para acreditar nisso", disse Biden. O aumento de tropas russas e de confrontos na região fronteiriça, assim como a participação de Vladimir Putin, prevista para hoje, em exercícios militares das forças nucleares intensificam os sinais de que há pouca disposição para o diálogo.

Segundo Biden, Moscou segue procurando pretextos para dar início à invasão. O mais recente é acusar Kiev de ter aumentado os bombardeiros nas áreas fronteiriças. Os ucranianos, porém, "não estão mordendo a isca", disse o presidente americano. "Eles não escolheriam um confronto com mais de 190 mil soldados em sua fronteira", justificou. No começo da semana, Biden falava na presença de cerca de 150 mil soldados. O número, portanto, estaria aumentando, em contraponto a um anúncio feito no início da semana pelo  Kremlin de que iniciaria operações para o recuo das tropas.

Secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg avalia que, hoje, há "a maior concentração de tropas desde o fim da Guerra Fria na Europa" e diz que "não há nenhuma dúvida de que a Rússia poderia passar ao ataque sem qualquer forma de advertência". Preocupado com o aumento das tensões na região, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou, também ontem, que seria "catastrófico" se a crise entre Rússia e Ucrânia degenerasse em uma guerra.

Guterres está reunido, em Munique, com líderes mundiais para uma série de reuniões sobre defesa e segurança. Entre os participantes da conferência anual, estão a vice-presidente americana, Kamala Harris; o secretário de Estado americano, Antony Blinken, os principais chefes da diplomacia da União Europeia e Stoltenberg, da Otan. Biden conversou com Kamala, Blinken e o representante da Otan antes de conceder a entrevista na noite de ontem, em que enfatizou, também, que, "até que Moscou ataque, a diplomacia é sempre uma possibilidade".

Bombas e tiros

Moscou admite um "agravamento da situação" em Donbass, a região em que o Exército ucraniano enfrenta há oito anos as forças separatistas, mas culpa a Ucrânia pela situação atual. "Tudo o que Kiev tem que fazer é ir para a mesa de negociações com os representantes dos (separatistas) e conversar", afirmou Putin ao receber o presidente de Belarus, seu aliado Alexander Lukashenko.

O aumento do confronto armado, porém, é evidente, segundo observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE, na sigla em inglês). Houve um aumento significativo de disparos, com 189 violações do cessar-fogo na região de Donetsk na quinta-feira, em comparação com 24 no dia anterior. Em Lugansk, por sua vez, foram 402 violações na quinta e 129 na quarta, de acordo com a entidade.

Ontem, o barulho das bombas era facilmente perceptível em Stanytsia Luganska, uma localidade ucraniana controlada por forças governamentais nas proximidades da linha de frente, segundo jornalistas da agência France-Presse de notícias (AFP) que estavam no local. A ordem para que civis russos sejam evacuados da região também é interpretada como um sinal da decisão de Moscou de partir para uma ofensiva militar. Putin ordenou o pagamento de um auxílio de 10.000 rublos (cerca de US$ 129) a cada evacuado dessas regiões, e as emissoras de televisão russas exibiram imagens de evacuações de crianças em um orfanato.