Apesar de uma série de conversas entre líderes mundiais, o mundo assiste a mais um dia sem avanços diplomáticos para amenizar o clima de tensão criado em razão de um possível ataque russo à Ucrânia. O presidente Vladimir Putin conversou, ontem, separadamente, com os colegas dos Estados Unidos, Joe Biden, e da França, Emmanuel Macron, e segue negando a intenção de invadir o país vizinho. Putin, porém, subiu o tom e acusou os Estados Unidos de estarem fazendo uma "especulação provocativa".
"A histeria atingiu seu auge", declarou o assessor diplomático de Putin, Yury Ushakov, pouco depois do telefonema entre o presidente americano e o líder russo. Segundo Ushakov, durante a conversa, que durou cerca de uma hora, Biden e Putin concordaram em "manter os contatos em todos os níveis". Em um comunicado, a Casa Branca informou que o presidente americano advertiu o russo sobre os "custos severos" que o país enfrentaria se invadisse a Ucrânia.
Ainda de acordo com o documento, Biden "deixou claro que, se a Rússia empreender uma invasão, os Estados Unidos, com os seus parceiros, responderão decisivamente e imporão custos rápidos e severos". Na conversa, o presidente americano também reforçou que atacar a Ucrânia "provocaria um sofrimento humano generalizado e diminuiria a posição da Rússia".
Putin havia conversado anteriormente com Emmanuel Macron. O presidente francês advertiu que "um diálogo sincero não é compatível com uma escalada militar" na Ucrânia, especificou o Palácio do Eliseu. Foi nesse telefonema mais longo, com 1 hora e 40 minutos de duração, que Putin criticou a postura adotada pelos americanos, segundo o Kremlin. O presidente russo reclamou das "entregas em larga escala de armamento moderno" a Kiev e assegurou que esse gesto cria "condições para possíveis ações agressivas das forças ucranianas" no leste do seu país.
Kiev, por sua vez, não descarta a ocorrência de confrontos, mas se queixa do clima de pânico que está sendo construído em relação à crise. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, advertiu sobre os efeitos internos da crise internacional. Segundo ele, esse clima de ataque iminente "está causando pânico" na população e não os está ajudando. A população foi às ruas, ontem, em defesa do país e para mostrar unidade em meio aos avisos dos EUA de uma iminente invasão russa. Entre os cartazes, havia frases do tipo "Permaneço tranquilo" e "Amo a Ucrânia".
Retiradas
Temendo o acirramento na região, alguns países começam a tomar medidas para proteger os seus cidadãos. Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Holanda, Canadá, Noruega, Austrália, Japão e Israel estão entre os países que pediram que seus cidadãos deixem a Ucrânia. A própria Rússia admitiu que está reduzindo seu pessoal diplomático em Kiev, argumentando que se deve às provocações "ucranianas" e dos países ocidentais. Moscou tem negado reiteradamente que queira atacar a antiga república soviética, mas exige certas garantias na questão da segurança. Entre elas. que a Otan não admita entre seus membros a Ucrânia, um ponto inegociável para o Ocidente.
Há uma expectativa de que o tráfego aéreo comercial também comece a ser comprometido nos próximos dias. Ontem, a companhia aérea holandesa KLM suspendeu os voos para o país. Em comunicado, a empresa informou que a decisão foi tomada após uma análise sobre segurança de voo ter emitido um "alerta vermelho" para essa conexão aérea. "Não haverá mais voos no espaço aéreo ucraniano até novo aviso", complementou.
Também ontem, os Estados Unidos ordenaram a retirada de quase todos os soldados que mantinham estacionados na Ucrânia para "reposicioná-los em outros lugares da Europa", informou o porta-voz do Pentágono, John Kirby. Na última sexta-feira, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, disse que a ofensiva é uma "possibilidade muito, muito real", e que as autoridades americanas não descartam que o governo russo tome essa decisão antes do fim dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, marcado para o próximo dia 20.