Empenhado na busca de uma saída diplomática para a crise em torno da Ucrânia, o presidente da França, Emmanuel Macron, acredita que o caminho para aplacar as tensões pode estar na implementação plena dos Acordos de Minsk. Celebrados em 2014 e 2015, os compromissos visam a um cessar-fogo no leste ucraniano, região onde separatistas pró-russos e forças do país se enfrentam há quase uma década. Em Kiev, após reunião com o presidente Volodymir Zelensky, Macron assegurou ter conseguido um "duplo compromisso" dos governos de Ucrânia e Rússia de respeitar os acordos.
Um dia antes de se reunir com Zelensky, o líder francês, cujo país preside atualmente a União Europeia (UE), esteve em Moscou, onde conversou por mais de cinco horas com o presidente russo, Vladimir Putin. Na última etapa da viagem diplomática, Macron seguiu da capital ucraniana para Berlim, para um jantar de trabalho com o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, e o presidente da Polônia, Andrzej Duda.
Os três líderes europeus reafirmaram unidade para "evitar uma guerra na Europa". Antes do jantar, Duda disse acreditar que ainda é possível "evitar a guerra", enquanto Macron pediu "um diálogo exigente com a Rússia" como "a única forma de alcançar a paz na Ucrânia".
A presença de dezenas de milhares de militares russos na fronteira reforça nos países ocidentais — com reação mais incisiva dos Estados Unidos — o temor de uma invasão da Ucrânia pela Rússia, que já anexou a Crimeia em 2014 e apoia os separatistas, num conflito que já deixou mais de 13 mil mortos e persiste, apesar do protocolo de paz de Minsk. Mediados pela França e pela Alemanha, os acordos nunca foram respeitados integralmente.
Ainda em Kiev, Macron, após a reunião com Zelensky, Macron disse acreditar em "soluções práticas concretas" para obter uma desescalada. "Não podemos subestimar o momento de tensão que estamos vivendo. Não podemos resolver essa crise em algumas horas de conversas", advertiu, no entanto.
Saiba Mais
Promessas
O presidente francês disse ter conseguido promessas de Putin para aplacar a tensão na região. "Disse-me que não seria a causa da escalada", relatou Macron. Zelensky, por sua vez, declarou que espera a realização, em breve, de uma cúpula com os dirigentes russo, francês e alemão sobre o processo de paz no leste da Ucrânia, com uma primeira reunião de conselheiros prevista para amanhã, em Berlim.
Emmanuel Macron foi o primeiro líder ocidental de alto nível a se reunir com Putin desde que as tensões se intensificaram em dezembro. Olaf Scholz também visitará Kiev e Moscou na próxima semana. Após a visita do francês, o líder russo considerou que "algumas ideias" apresentadas poderiam "estabelecer as bases de avanços em comum". Os dois devem conversar novamente.
Putin nada disse sobre as tropas russas concentradas na fronteira com a Ucrânia. Ele voltou a denunciar a negativa do Ocidente de ceder e pôr fim à política de ampliação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e retirar seus contingentes militares do leste da Europa.
Porém, segundo o Palácio do Eliseu, o chefe do Kremlin aceitou considerar as propostas de Macron. Entre elas, o compromisso de que nenhuma das partes tomará novas iniciativas, o início de um diálogo sobre o dispositivo militar russo e de conversas de paz sobre o conflito da Ucrânia.
Na segunda-feira, o governo ucraniano tinha insistido em três "linhas vermelhas": nenhum compromisso sobre a integridade territorial da Ucrânia, nenhuma negociação direta com os separatistas e nenhuma ingerência em sua política externa. No campo militar, a Rússia também se comprometeria a retirar suas tropas de Belarus, uma vez concluídas as manobras, em fevereiro.
"Ninguém nunca disse que as forças russas vão permanecer em território bielorrusso", assinalou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. "Tratam-se de manobras conjuntas e, obviamente, isso supõe que as tropas voltarão a suas bases ao fim desses exercícios", acrescentou.
No entanto, mais ao sul, seis navios de guerra russos deixaram o Mediterrâneo rumo ao Mar Negro no âmbito de manobras marítimas anunciadas no mês passado, uma área de tensão porque é limítrofe com Ucrânia, Rússia, a anexada península da Crimeia e vários países da Otan.
Kiev prevê a realização de manobras militares em larga escala entre 10 e 20 de fevereiro com drones de combate comprados da Turquia e mísseis antitanque fornecidos por Washington e Londres, em paralelo às manobras russo-bielorrussas.
Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido também enviaram reforços militares ao Leste da Europa. Um primeiro destacamento de cerca de 100 soldados americanos chegou à Romênia.