COVID-19

Fim da pandemia? Os países que retiram restrições mesmo com casos ainda altos

Reino Unido, França, Holanda, Dinamarca, Espanha, Áustria, Finlândia, Bélgica, Grécia e Suécia estão entre os países que estão flexibilizando regras e buscando um "novo normal"

Depois de semanas com recordes diários de casos e aumento no número de hospitalizações e mortes, alguns países europeus estão flexibilizando regras de combate à pandemia de coronavírus diante de uma aparente tendência de queda no número de infecções.

Reino Unido, França, Holanda, Dinamarca, Espanha, Áustria, Finlândia, Bélgica, Grécia e Suécia estão entre os países que estão flexibilizando regras e buscando um "novo normal" para lidar com a pandemia — com normas que não obriguem as pessoas a viverem isoladas.

Em alguns lugares, como na Holanda, sequer houve uma tendência de queda clara no contágio, mas as autoridades estão sob pressão para reabrir a economia — com muitos setores argumentando que neste momento os problemas gerados por lockdown e restrições são piores do que os criados pelo vírus.

Na terça-feira (1/2), a Organização Mundial da Saúde (OMS) manifestou preocupação com o possível relaxamento de medidas contra o vírus, sem citar países específicos.

"Estamos preocupados que uma narrativa tenha se consolidado em alguns países que, por causa das vacinas e devido à alta transmissibilidade e menor gravidade da ômicron, a prevenção da transmissão não é mais possível e não é mais necessária. Nada poderia estar mais longe da verdade", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

A OMS também alertou que como a variante ômicron é mais infecciosa, contamina mais pessoas - e isso está levando a um aumento no número de mortes. A entidade fez um apelo para os países continuarem realizando testes e sequenciamento do vírus.

Os países têm justificado o relaxamento das medidas alegando que há mais gente vacinada com a terceira dose — que é tida como mais eficaz para combater a variante ômicron. Além disso, muitos países estão adotando "passaportes de vacina" — ou seja, a exigência de comprovantes de vacina para que as pessoas frequentem determinados ambientes.

Boa parte dos países já vacinaram com terceira dose mais de 40% da sua população — chegando a mais de 60% em alguns casos. No Brasil, mais de 20% das pessoas já receberam a terceira dose.

"Estamos um pouco mais confiantes em dizer que podemos relaxar algumas dessas restrições e permitir que as pessoas voltem à vida o mais normal possível", disse o ministro da Saúde da França, Olivier Véran.

Ainda assim, vários países ainda estão no pico de infecções diárias de coronavírus: como França (média de 338 mil novos casos por dia, nos últimos sete dias), Alemanha (153 mil), Holanda (62 mil), Dinamarca (45 mil), Áustria (33 mil) e Bélgica (51 mil). Alguns países já observaram uma queda desde o pico em janeiro, como Itália, Espanha e Reino Unido.

Confira as novas medidas tomadas por alguns países nos últimos dias.

Dinamarca

EPA
Pessoas visitando mercados públicos e lojas não precisam mais usar máscaras na Dinamarca

Em 18 de dezembro, a Dinamarca havia decretado um lockdown parcial, diante da escalada de casos de ômicron.

Um mês depois, no dia 17 de janeiro, quando a Dinamarca registrou o recorde de casos de coronavírus em um só dia (28.780), as autoridades reabriram cinemas, teatros, museus e outros espaços. Eventos esportivos também foram reabertos ao público, mas ainda com capacidade limitada.

Na segunda-feira (31/1), o governo flexibilizou ainda mais as medidas, declarando que a covid-19 "não deve mais ser considerada como doença socialmente grave" depois desta data.

Agora, máscaras não são mais exigidas em transporte público. Restaurantes podem ficar abertos até a hora que quiserem e não existe mais limite de público para eventos. Passaportes de vacina não estão mais sendo exigidos na maioria dos lugares. Uma das poucas restrições que ainda existe é a de uso de máscaras em lares de idosos.

Na Dinamarca, 85% da população recebeu duas doses da vacina, e 61% receberam a terceira dose de reforço — um dos maiores percentuais do mundo.

Reino Unido

Reuters
Uso de máscaras segue sendo obrigatório em alguns lugares, como no transporte público em Londres

O Reino Unido foi um dos países mais afetados pela variante ômicron. Em poucos dias em dezembro, a média de casos novos de covid-19 saltou da casa de 50 mil por dia para mais de 200 mil. O número de hospitalizações e mortes também subiu, mas em proporção menor.

O governo britânico implementou um "plano B" de combate à ômicron, com a volta de medidas que já haviam sido relaxadas, como o uso obrigatório de máscaras. O Reino Unido intensificou sua campanha para incentivar as pessoas a receberem a terceira dose da vacina e se testarem com frequência. Testes de antígeno são distribuídos gratuitamente para a população.

No Reino Unido, 77% das pessoas receberam duas doses da vacina — e 54% receberam o reforço.

As regras variam no Reino Unido de acordo com a região — mas todas elas têm sido flexibilizadas neste ano. O uso de máscaras ainda é obrigatório no transporte público em alguns lugares (como em Londres e no País de Gales).

O governo está encorajando que todos voltem ao trabalho presencial.

França

EPA
França foi palco de protestos contra passaporte de vacinas, como neste realizado no dia 29 de janeiro

Fevereiro será o mês da reabertura da França, de acordo com novas regras que entrarão em vigor ao longo do mês. Quase todas as atividades voltarão ao normal. A partir de quarta-feira (2/2), estádios podem operar com capacidade máxima novamente

No entanto, a maioria das atividades exigirá apresentação de comprovante de vacina. O uso de máscaras em lugares fechados também é obrigatório. O governo abandonou a recomendação de que as pessoas trabalhem de casa. As casas noturnas reabrirão na metade do mês.

Segundo as autoridades, o próximo passo para dar fim às restrições contra a pandemia seria abandonar o passaporte de covid, mas ainda não há previsão para que isso aconteça.

Na França, 76% das pessoas receberam as duas doses da vacina — e 47% receberam o reforço.

Holanda

EPA
Bares, restaurantes, teatros e museus ficaram fechados durante a última onda de covid na Holanda

A Holanda foi um dos países que impôs algumas das maiores restrições durante o surto de ômicron em dezembro. Bares, restaurantes e museus foram fechados.

Os casos diários de covid ainda estão aumentando na Holanda, mas o governo do primeiro-ministro Mark Rutte está sendo pressionado por diversos setores econômicos para permitir uma reabertura.

Trabalhadores e empresários do setor de bares e restaurantes se revoltaram com o fato de que apenas algumas atividades — como academias de ginástica, lojas, salões de beleza e trabalhadores do sexo — tinham recebido em janeiro permissão para voltarem a operar. Alguns museus e teatros chegaram a funcionar como salões de beleza por um dia, como forma de protesto contra o governo.

A reabertura será gradual. Casas noturnas permanecerão fechadas e eventos esportivos e culturais só poderão ser realizados com capacidade limitada, de até 1.250 pessoas.

Cerca de 90% dos holandeses foram vacinados — e 48% receberam a terceira dose.

Espanha

Desde 29 de janeiro, a Espanha voltou a permitir que as pessoas frequentem bares e restaurantes sem restrições. Nem mesmo a comprovação de vacinação é mais necessária.

As pessoas podem voltar a se encontrar livremente — sem a restrição de até dez pessoas em ambientes fechados.

A estratégia é parte do esforço do governo de Pedro Sánchez para começar a tratar a covid-19 como uma gripe e não como uma epidemia, como tem sido até agora.

A ideia é deixar de tratar a covid como uma crise e adotar um modelo de "controle", como o que acontece com outras doenças, como sarampo.

A Espanha tem um dos maiores índices de vacinados da Europa — 82% das pessoas receberam duas doses, e 46%, a terceira.

Áustria

A partir de sábado (5/2), lojas e restaurantes poderão voltar a funcionar até meia-noite na Áustria.

O país havia adotado uma quarentena para pessoas não-vacinadas. Agora o lockdown foi encerrado para todos — vacinados ou não.

Mas a Áustria se tornou o único país europeu a obrigar todos seus cidadãos a se vacinarem. A obrigação vai entrar em vigor na quinta-feira (3/2) e expirará em janeiro de 2024, podendo ser encerrada antes, se a pandemia permitir. As autoridades só começarão a verificar o estado de vacinação das pessoas a partir de meados de março.

Aqueles que se recusarem a tomar vacina contra covid enfrentarão multas que variam de 600 a 3.600 euros (R$ 3,5 mil a R$ 21 mil). Algumas pessoas podem obter isenção da obrigação, entre elas mulheres grávidas.

Cerca de 72% dos austríacos são totalmente vacinados — 48% com a dose de reforço.

Outros países

A Finlândia disse que seu sistema de saúde ainda está sob pressão, com grande número de hospitalizações, mas que houve uma queda nos casos mais graves. Por isso, o país está aumentando o horário permitido para abertura de restaurantes. Bares ainda precisam fechar até 18h.

A Grécia voltou a permitir que restaurantes e bares tenham música, também com horários mais flexíveis. O uso de máscaras segue sendo obrigatório em supermercados e transporte público, e eventos esportivos seguirão limite de capacidade de público.

Medidas semelhantes foram adotadas pela Bélgica, onde 89% das pessoas receberam duas doses da vacina e mais de 65% receberam a terceira.

A Suécia relaxou algumas medidas, reduzindo de sete para cinco dias o isolamento necessário para quem vive com alguém que testou positivo para covid. O país vem enfrentando escassez de trabalhadores essenciais, como policiais e funcionários do setor de saúde.

Na Alemanha, onde o número de casos segue em alta, empresários têm pedido que o governo estabeleça uma data para pôr fim a algumas restrições. O próprio ministro das Finanças, Christian Lindner, disse que é necessário abrir um diálogo para reabertura da economia.

Pressões semelhantes acontecem na Suíça, onde um estudo indica que 40% das empresas do país estão sofrendo com falta de funcionários devido à covid.


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