A invasão da Ucrânia pela Rússia entrou nesta segunda-feira (28/2) no seu quinto dia com o primeiro encontro entre representantes de Kiev e Moscou em Belarus para discutir um armistício entre os dois países.
Os dois lados ainda não tinham se reúnem reunido desde que o começo da guerra, mas as expectativas de um cessar-fogo não eram altas.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, havia dito antes do encontro que seu país queria um cessar-fogo imediato e a retirada das tropas russas do seu território.
O Kremlin afirmou, por sua vez, que não anteciparia sua posição — os negociadores russos falaram apenas em fechar um acordo que seja do interesse de ambos os lados.
Mas o próprio Zelensky disse mais cedo não acreditar que as discussões produzam resultados. E declarou que as "próximas 24 horas serão cruciais" para o país.
Agora, ambos os lados retornarão às suas capitais para consultas antes de uma segunda rodada de negociações, que pode ocorrer nos próximos dias, segundo a agência de notícias Reuters.
A BBC News Brasil apresenta a seguir os acontecimentos mais recentes e importantes do conflito e as perspectivas do que está por vir.
Capital segue sob controle ucraniano, mas russos se aproximam
Kiev, a principal cidade do país ainda permanece nas mãos da Ucrânia, mas as tropas russas vêm se aproximando e estão posicionadas a somente 30 km de distância.
O toque de recolher foi suspenso na manhã de segunda-feira (28/2), quando milhares de pessoas puderam deixar seus abrigos subterrâneos, como porões e estações de metrô, onde a maioria da população procurou se proteger.
Mas, apenas meia hora depois, as sirenes de ataque aéreo soaram, e elas precisaram voltar correndo.
O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, chegou a dizer que a capital estava "cercada" por tropas russas e que a retirada de civis da cidade era um desafio porque todas as rotas de saída estavam bloqueadas.
Após a repercussão da entrevista, dada à agência de notícias AP, Klitschko escreveu em um post no Telegram não ser aquela a situação: "Publicações russas na internet espalham informações atribuídas a mim de que Kiev está supostamente cercada e a evacuação de pessoas é impossível. Não acreditem em mentiras! Confie apenas em informações de fontes oficiais".
Batalhas estão sendo travadas em outras cidades do país
A cidade de Chernihiv, no nordeste da Ucrânia, enfrentou fortes bombardeios das tropas russas durante a noite de domingo (27/2), e um edifício residencial foi atingido por um míssil.
A cidade permanece, no entanto, sob controle ucraniano até o momento.
Relatórios sinalizam que militares russos tomaram a cidade de Berdyansk, no sul do país.
Também foram registradas explosões nesta manhã em Kharkiv, no leste do país, onde dezenas de civis foram mortos e centenas ficaram feridos, segundo as autoridades ucranianas.
Kharkiv é a segunda maior cidade ucraniana. O governo local declarou que os militares conseguiram recuperar o controle após ataque de tropas russas.
A situação é bastante fluida, no entanto, e é difícil verificar de forma independente quem está controlando a cidade de fato.
Alguns civis também disseram à BBC que Kharkiv está sob controle ucraniano e que o conflito nas ruas está diminuindo.
Anton Herashchenko, conselheiro do ministro do Interior de Kiev, escreveu no Facebook que as tropas russas atacaram áreas residenciais com mísseis.
Não é possível dizer neste momento exatamente quantos civis já foram mortos.
A alta-comissária de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, informou mais cedo que pelo menos 102 civis morreram, e outras 304 pessoas ficaram feridas.
"A maioria destes civis foi morta por armas explosivas com uma ampla área de impacto, incluindo bombardeios de artilharia pesada e sistemas de multilançamento de foguetes e ataques aéreos. Os números reais são, eu receio, consideravelmente mais altos", afirmou Bachelet.
Europa envia armas à Ucrânia
A União Europeia está tomando a medida sem precedentes de enviar armas para a Ucrânia, fechar o espaço aéreo para aeronaves russas e proibir os meios de comunicação estatais russos.
Será a primeira vez em sua história que o bloco comprará armamentos para entregar a uma nação em guerra.
Ao anunciar a medida, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também divulgou uma série de novas sanções contra a Rússia, entre elas o fechamento do espaço aéreo europeu também para aeronaves de Belarus, que ajudou na invasão russa.
A Suécia anunciou o envio de 5 mil lançadores de mísseis antitanque, 5 mil coletes, 5 mil capacetes e 135 mil pacotes de ração militar à Ucrânia.
Segundo a primeira-ministra do país, Magdalena Andersson, esta é a primeira vez que a Suécia manda armas para uma região em conflito desde a invasão soviética à Finlândia em 1939.
Baixas nas forças russas
A Ucrânia divulgou uma estimativa de perdas russas que teriam sido provocadas pelos ucranianos até agora.
A BBC não conseguiu verificar de forma independente essas alegações — e a Rússia não divulgou números de vítimas.
Segundo post publicado no domingo no Facebook da vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Malyar, os russos perderam: 4,3 mil soldados, 27 aviões, 26 helicópteros, 146 tanques, 706 veículos blindados de combate, 49 canhões, 1 sistema de defesa aérea Buk, 4 sistemas de lançamento de foguetes múltiplos Grad, 30 veículos, 60 veículos de abastecimento, 2 drones e 2 barcos.
Rússia reprime protestos
A polícia russa prendeu no domingo mais de 900 pessoas que protestavam contra a invasão da Ucrânia em 44 cidades, de acordo com dados divulgados por um grupo de monitoramento independente.
O grupo OVD-Info diz que 4 mil manifestantes antiguerra foram detidos na Rússia desde que o conflito começou, há quatro dias.
A BBC não conseguiu verificar de forma independente esses números.
Os protestos de hoje coincidiram com o sétimo aniversário do assassinato do político da oposição e crítico de Putin, Boris Nemtsov.
ONU faz reunião de emergência
O Conselho de Segurança das Nações Unidas anunciou uma reunião de emergência da Assembleia-Geral da ONU para discutir a invasão russa à Ucrânia.
O encontro marcado para segunda-feira (28/2) deve reunir as visões dos 193 países-membros sobre o tema.
A Rússia é membro permanente do Conselho de Segurança - Estados Unidos, França, Reino Unido e China são os outros quatro - e, portanto, tem poder de veto.
O país de fato votou contra a realização da reunião, mas, por conta de uma das resoluções da organização de cooperação internacional, sua posição não teve poder de veto nesta ocasião.
Rússia deixa arsenal nuclear a postos
No domingo, Vladimir Putin, anunciou que está colocando as forças nucleares do país em alerta máximo.
A ação foi um protesto contra "declarações agressivas" sobre a Ucrânia por líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar liderada pelos Estados Unidos, e contra sanções econômicas aplicadas contra a Rússia.
União Europeia alerta para crise humanitária
A União Europeia declarou que o continente está diante de uma crise humanitária de grandes proporções.
O bloco estima que até 7 milhões pessoas tenham sido desalojadas até agora com a invasão do território ucraniano.
"Estamos testemunhando o que pode vir a se tornar a maior crise humanitária no nosso continente europeu em muitos, muitos anos", afirmou em coletiva de imprensa Janez Lenar?i?, comissário europeu para ajuda humanitária e gerenciamento de crises.
Segundo ele, estimativas preliminares apontam que 18 milhões de ucranianos podem ser afetados do ponto de vista humanitário e que cerca de 4 milhões deixem o país.
Dados da ONU apontam que, até o momento, 368 mil pessoas entraram em nações vizinhas vindas da Ucrânia.
Brasileiros fogem da Ucrânia
O Itamaraty informou que 80 brasileiros conseguiram até o momento sair da Ucrânia e entrar nos países vizinhos, especialmente Polônia e Romênia.
"Ainda constam cerca de 100 brasileiros, registrados na lista da embaixada brasileira em Kiev, que permanecem em solo ucraniano", afirmou o comunicado divulgado na noite de domingo.
Estima-se que, no total, haja 500 brasileiros no país.
Ainda segundo o Itamaraty, há funcionários da embaixada brasileira em Chernivtsi, perto da fronteira ucraniana com a Romênia.
"Diplomata da embaixada do Brasil na Romênia também se deslocou para a fronteira para auxiliar o traslado, em ônibus providenciado pela Embaixada, de brasileiros para a capital Bucareste."
Bolsonaro: 'Brasil será neutro no conflito'
Em coletiva dada à imprensa do Guarujá, em São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) declarou que o Brasil adotaria um posicionamento neutro no conflito, para evitar "prejuízos para o Brasil".
"O Brasil depende de fertilizantes", declarou o presidente.
Segundo o portal G1, Bolsonaro disse ter falado por duas horas ao telefone com Putin e afirmou que o povo ucraniano "confiou em um comediante".
"O comediante que foi eleito presidente da Ucrânia, o povo confiou em um comediante para traçar o destino da nação. Eu vou esperar o relatório da ONU para emitir a minha opinião."
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