Guerra

Nova 'cortina de ferro' recai sobre a Europa com a invasão russa da Ucrânia

Para o secretário de Estado americano, Antony Blinken, o líder do Kremlin não quer apenas "reconstituir o império soviético", mas também "restabelecer a esfera de influência" da Rússia nos países que antes formavam o bloco soviético e que agora integram a Otan

Agência France-Presse
postado em 26/02/2022 09:38
 (crédito: Carolyn Kaster / POOL / AFP)
(crédito: Carolyn Kaster / POOL / AFP)

Uma nova "Guerra Fria", um país ameaçado de ser "varrido do mapa" e o espectro de um "apocalipse" nuclear. Com a invasão russa da Ucrânia, a Europa voltou a encarar de frente a divisão entre blocos e a guerra.

"Há uma nova cortina de ferro separando a Rússia do mundo civilizado", declarou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.

De 1945 até a queda do Muro de Berlim em 1989, a Europa ficou dividida entre o "Leste" soviético e o "Oeste" ocidental.

"De Szczecin (Polônia) no Báltico a Trieste (Itália) no Adriático, uma cortina de ferro caiu sobre o continente", disse o ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill em março de 1946.

E agora, 75 anos depois, o presidente e comandante-em-chefe da Rússia, Vladimir Putin, não esconde seu objetivo na Ucrânia: depor seus líderes pró-ocidentais e fazer com que esta ex-república soviética retorne à zona de influência de Moscou.

"Esta é uma tentativa de mudar à força as fronteiras na Europa, talvez até mesmo varrer um país inteiro do mapa", denunciou o chanceler alemão, Olaf Scholz.

"O que Putin quer é a submissão da Ucrânia e aparentemente continuará sua ofensiva até o fim", opinou o chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian.

"Ponto de inflexão" 

A ofensiva russa leva o continente de volta às suas horas mais sombrias do século XX: da ofensiva da Alemanha nazista contra a URSS em 1941 à divisão da Europa ditada na conferência de Yalta em 1945.

A invasão da Ucrânia constitui "um ponto de inflexão na história da Europa e do nosso país", com "consequências profundas e duradouras nas nossas vidas" e "na geopolítica do nosso continente", previu o presidente francês, Emmanuel Macron.

Se Moscou "engolir" a Ucrânia, a Otan e a Rússia ficarão cara a cara, na fronteira dos Estados Bálticos e da Polônia até Bulgária e Romênia.

Em ambos os lados desta linha, tropas e armas pesadas voltarão a ficar frente a frente. Os Estados Unidos e a Otan anunciaram o envio de milhares de soldados para seus aliados no Leste Europeu, todos saídos do manto da antiga União Soviética.

Com o reforço de 7.000 homens anunciado na quinta-feira, os Estados Unidos terão 90.000 soldados na Europa. A França enviará 500 soldados para a Romênia e a Itália disse que está pronta para enviar mais 3.400 soldados para o Leste Europeu.

E Belarus, outra ex-república soviética de onde a Rússia lançou o ataque à Ucrânia, pode se tornar um "satélite" de Moscou após um referendo constitucional no domingo, que pode permitir que o Kremlin estacione forças, incluindo infraestrutura nuclear.

"Esfera de influência" 

"A guerra contra a Ucrânia terá uma montanha de repercussões em todo o eixo que vai do Báltico ao Mar Negro", diz Jean-Sylvestre Mongrenier, especialista do Institut Thomas More, na França.

"A pressão sobre a Polônia e os países bálticos será muito mais forte. Podemos facilmente imaginar Putin exigindo passagem livre da Lituânia para acessar o enclave de Kaliningrado, por exemplo", aponta.

Para o secretário de Estado americano, Antony Blinken, o líder do Kremlin não quer apenas "reconstituir o império soviético", mas também "restabelecer a esfera de influência" da Rússia nos países que antes formavam o bloco soviético e que agora integram a Otan.

"Se chegarmos a uma ameaça além das fronteiras da Ucrânia, (Putin) encontrará algo mais poderoso em seu caminho. É o artigo 5 da Otan: um ataque contra um é um ataque contra todos", disse Blinken, referindo-se à obrigação de assistência mútua entre os membros da aliança.

Por sua parte, o presidente russo prometeu "consequências terríveis" a todos aqueles que tentarem impedir seus planos, referindo-se ao arsenal nuclear russo.

"Vladimir Putin precisa entender que a Aliança Atlântica também é uma aliança nuclear", respondeu o ministro francês Le Drian, lembrando a política Leste-Oeste de dissuasão nuclear na Guerra Fria.

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