Nas primeiras 24 horas depois do primeiro tiro russo nos ucranianos, Moscou limpou o cofre. Raspou o caixa, ou melhor, os caixas eletrônicos: foram sacados 111 bilhões de rublos pelos moscovitas, o equivalente a 1,330 bilhão de dólares. Poderia ter sido mais, mas a pontaria dos canhões acertou a cotação. E a moeda russa caiu perto de 30 por cento nessas primeiras horas. E, embora na maior parte da Europa os mercados tenham reagido e o ouro voltado a subir, a corrida aos caixas dá inequívoca demonstração de que os russos temem a aventura bélica de Putin e não estão assim tão confiantes no comportamento do líder. Muito menos se ele acertou nas decisões ou está com a razão.
Numa guerra a primeira vítima é a verdade, diziam os clássicos jornalísticos da cobertura de conflitos. A vida ficou ainda mais difícil nesta, que inaugurou a cobertura intensa das redes sociais com toda a sua parafernália de meios e técnicas de contar, ou inventar, o que está a acontecer. Essa guerra trouxe mais: a certeza de que a solidariedade é gesto forte, porém, só e desarmado, ineficaz e frustrante. O presidente Zelenski foi a vítima e chora em Kiev faz mais de dois dias. A União Europeia, a OTAN e os EUA, hipotecam total solidariedade, mas não podem tecnicamente fazer nada. Exército pequeno, pouco armado e sem reforços. Derrota a vista para breve, foi o que, secretamente, informou o presidente Biden ao Congresso dos Estados Unidos nessa tarde pré carnavalesca.
Putin está forte e bem armado, ganhando a guerra. Pensa que conta o apoio dos chineses, o que é verdade pelo menos por agora. Tão forte pensa estar Putin que já está rosnando para a Suécia e a Finlândia. Os dois países, neutros reconhecidos e formais, pediram proteção aos europeus. A Rússia foi bem avisada: não mexa com os nórdicos ou bálticos, pois pode dar uma grande confusão. A neutralidade dos dois é relativa, bem como ambíguo foi o comportamento deles durante a segunda guerra mundial. Mas agora eles contam com apoio na Europa.
Por fim, uma nova incógnita a ser muito bem acompanhada nos próximos dias: o comportamento da Turquia. Mar Negro, Mar Mediterrâneo, Estreito de Bósforo. E um presidente, Tayyip Erdogan, com fama de hábil e de aprontar situações delicadas para todos os parceiros, árabes, europeus, russos, norte-americanos. Um conflito de maior ou menor duração ditará os próximos gestos desse ator político profissional. Vem mais, muito mais por aí.
*Correspondente Luiz Recena, com fontes financeiras e políticas de Moscou e agências europeias
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