A médica brasiliense Natália Werneck de Vasconcelos, 29 anos, tem motivos a mais para acompanhar o avanço das tropas russas no que consideram território inimigo. Isolados em abrigos subterrâneos, os amigos de faculdade da brasileira estão desesperados, convivendo com barulho ensurdecedor. Entre os anos de 2012 e 2016 e 2016 a 2021, ela cursou medicina em cidades da Rússia e da Ucrânia, respectivamente.
“Eu tenho orado muito a Deus, até porque não tem mais o que eu possa fazer além disso. Fico apreensiva porque mesmo se eles precisarem de dinheiro, não teria como eu mandar, pois os bancos estão fechados. Não teria como fazer uma transação on-line, por vários motivos de burocracia na Ucrânia”, desabafa a médica, ressaltando que permanece conversando em tempo real por aplicativos de mensagem com os amigos, que ainda contam com energia para carregar os celulares.
Patel Druvh e Ajmeer estão em Kharkiv, cidade do leste da Ucrânia que está sob ataque intenso nesta sexta-feira (25). Segundo o relato dos colegas de Natália, a tensão piora durante a noite — a diferença do fuso horário entre Brasília e a cidade ucraniana é de cinco horas.
“Meus amigos estão presos, ou dentro de casa ou dentro do metrô, onde não tem luz, não tem água. As pessoas têm tentado ajudar como podem. Sacar dinheiro está impossível, as coisas do mercado estão acabando, as pessoas já compraram tudo, a gasolina em alguns pontos da cidade acabou, e tem filas gigantescas”, relata a médica.
A brasiliense estudou na cidade russa de Kursk, na fronteira com a Ucrânia, tendo iniciado seus estudos em 2017 e permanecido no país por quatro anos. Nos cinco anos seguintes, ela estudou em Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, exatamente onde estão os amigos.
“Eles dizem que não precisam de dinheiro, só precisam achar um lugar seguro. Tem toque de recolher, mas estão em abrigos, como eu disse”, ressalta. Uma outra amiga de Natália, Catherine Chuchilina, filha do cônsul honorário do Brasil em Kharkiv, Sergei Kutsevlyak, está escondida em um metrô, junto à família, esperando o resgate de brasileiros em território ucraniano.
“Isso me deixa desesperada pois são pessoas maravilhosas que sempre estiveram dispostas a nos ajudar morando fora, foram anjos durante todos os anos que moramos lá. E vê-los nessa situação corta meu coração pois tem criança, tem idoso, tem de tudo”, lamenta a médica.
A consternação, contudo, não deixou a brasileira imobilizada. “Falo com eles o tempo todo e tenho tentado atender aos pedidos deles, como cobrar o resgate ou doar recursos para o exército ucraniano”.
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