A invasão militar da Ucrânia pela Rússia deixou os mercados financeiros tensos, ontem, e a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) não conseguiu se descolar do mau humor global, como vinha ocorrendo nos últimos dias, assim como o dólar. Os investidores temem pesados impactos à economia brasileira, caso a guerra se estenda por um longo período. Em meio ao nervosismo, preferiram vender ações e correr em busca de proteção da moeda norte-americana. O dia, porém, terminou melhor do que começou, diante do pronunciamento do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de que não tem intenção de iniciar uma ofensiva militar contra o país de Vladimir Putin. Por enquanto, recorrerá a duras sanções econômicas.
O Índice Bovespa (Ibovespa), principal termômetro do mercado acionário brasileiro, chegou a tombar 2,6% nas primeiras horas da quinta-feira, mas fechou em queda de 0,37%, aos 111.592 pontos. Já o dólar, refletindo a aversão ao risco, voltou a subir, cotado a R$ 5,10, com alta de 2,02% — a maior elevação desde 8 de setembro de 2021. Na máxima do dia, bateu em R$ 5,16. Nos Estados Unidos, a Bolsa de Wall Street encerrou o dia com alta de 0,28%. A Nasdaq, das empresas de tecnologia, subiu 3,34%. O DAX, da Alemanha, recuou 3,93%. O Euro Stoxx 50, da União Europeia, caiu 3,64%. Em Paris, o CAC 40 ficou negativo em 0,10%. O índice russo Moex chegou a despencar 45%, e fechou com queda de 33%.
Analistas demonstram cautela nas análises sobre os rumos dos mercados daqui para frente. Segundo o economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, Eduardo Velho, os investidores já esperavam uma guerra desde o início das tensões, mas o conflito real não estava precificado. Agora, a ordem é avaliar o cenário. "Se a guerra for rápida, o petróleo voltará a preços palatáveis. Mas, caso se prolongue, resultará em mais inflação", afirmou. Ele explicou que a tendência é de alta dos juros e do dólar daqui para frente. "O impacto financeiro é a restrição de fluxo de capitais." Os bancos estiveram entre os que mais sofreram com a invasão russa na Ucrânia. As ações do Bradesco e do Itaú Unibanco caíram 3% e 1,7%, respectivamente.
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Trincheiras
Na avaliação do especialista em relações internacionais Wagner Parente, CEO da BMJ Consultores Associados, o mercado está muito otimista em relação ao conflito na Ucrânia. "Os operadores estão apostando em uma guerra rápida e acreditam que acabará em 30 dias. Mas o conflito pode demorar, como ocorreu na Líbia, e há chances de vermos uma guerra de trincheiras a médio prazo. E, quando perceberem isso, com certeza, a queda nas Bolsas será bem maior", alertou.
Para o economista José Luis Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) e do programa de doutorado em integração econômica da Universidade do País Basco (Espanha), tudo "vai depender do que a Rússia quiser". "A guerra pode ser rápida ou o começo de outras anexações", disse. Segundo ele, são muitos os riscos para a economia mundial. O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, assinalou que conflitos como o atual trazem maior aversão ao risco por parte de investidores em relação a mercado emergentes, como o Brasil. O especulador retorna para países de economias mais sólidas, como os EUA, na chamada fuga de capital".
Diante das incertezas em relação à economia global e da perspectiva de persistência da inflação, especialmente depois de o barril do petróleo ultrapassar US$ 100 — o que, para analistas, confirma o litro da gasolina acima de R$ 7 —, o secretário do Tesouro Nacional, Paulo Valle, tentou demonstrar tranquilidade. Ele afirmou que o Brasil "está bem posicionado" e criticou as propostas de criação de um fundo para compensar o congelamento do preço dos combustíveis.
"O Brasil está bem posicionado, e temos de aguardar para tomar ou não medidas adicionais", disse Valle, durante a apresentação do superavit primário recorde nas contas públicas em janeiro, de R$ 76,5 bilhões. No entender dele, ainda é cedo para avaliar os impactos da guerra no Leste Europeu. "Apenas 5% da dívida pública é externa e 95% (dos títulos emitidos) são em real. A participação de estrangeiros na dívida é de pouco mais de 10%, temos 100% de necessidade de financiamento em caixa e mais de US$ 350 bilhões em reservas internacionais", acrescentou.
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