A crise provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia resultará em um choque nos preços dos combustíveis e dos alimentos, porque os dois países do Leste Europeu são importantes exportadores de petróleo e de commodities, como trigo, cevada e milho. Logo, o Brasil não sairá ileso dessa conjuntura desfavorável. O crescimento econômico, que já está fraco, minguará de vez. E o bolso da população sentirá a peso da carestia.
Analistas alertam para as turbulências que devem se seguir a esse novo conflito geopolítico. O primeiro impacto da guerra ocorreu sobre o dólar que, na véspera, chegou a ficar abaixo de R$ 5, mas encerrou o pregão de ontem com alta de 2,02%, cotado a R$ 5,10. Com a ofensiva russa, o barril de petróleo tipo Brent foi negociado acima de US$ 100 pela primeira vez desde 2014 — bateu em US$ 105 —, cotado, no fim do dia, a US$ 99. Assim, a gasolina e o diesel deverão ficar mais caros nas bombas, porque os preços definidos pela Petrobras acompanham o do óleo no mercado internacional, além da variação da moeda norte-americana.
Especialistas destacam que os bloqueios marítimos gerados pela guerra entre Moscou e Kiev afetarão diretamente o comércio mundial de trigo. Rússia e Ucrânia são, respectivamente, o primeiro e o terceiro maiores exportadores do produto do planeta. Juntos, os dois país produzem 14% do trigo global e respondem por 29% de todas as exportações do cereal. Como o Brasil é um dos maiores importadores do mundo, o efeito na mesa dos brasileiros começará pelo pãozinho, estendendo-se por produtos como macarrão, biscoitos, rações animais e cerveja.
Na avaliação do advogado e economista Alessandro Azzoni, professor de direito da Universidade Nove de Julho (Uninove), a alta nas cotações preços do petróleo e a dificuldade nas exportações de commodities provocarão um efeito cascata nos preços em geral. "A Ucrânia produz 16% da soja mundial e 12% de milho. Se o escoamento desses produtos for afetado, o custo de rações para animais sobe e impacta as proteínas animais, ou seja, as carnes. Além disso, há um agravante sobre o gasoduto russo que abastece a Europa. Desta forma, podemos ter um aumento da energia elétrica na região e, com isso, o processo inflacionário no bloco provocará queda no consumo, reduzindo a demanda por produtos exportados pelo Brasil", disse.
José Luis Oreiro, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), ressaltou que essa crise deverá afetar ainda os preços dos fertilizantes importados pelos agricultores brasileiros, deixando os alimentos mais caros. "O que podemos prever para o Brasil é a manutenção da inflação em patamares elevados (está em 10% ao ano), ao contrário da expectativa do Banco Central, que previa um recuo da carestia a partir de abril. Provavelmente, a instituição vai prolongar o aperto monetário e elevará a taxa básica de juros (Selic) para até 14% ao ano. Então, seja por elevação da inflação, seja por meio dos juros, isso impacta negativamente o consumo de bens duráveis e investimentos", alertou ele, que prevê um quadro perverso, composto por carestia, crédito caro e recessão. (Cristiane Noberto e Deborah Hana Cardoso)
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