O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse nesta quarta-feira (23), na abertura da Assembleia Geral da organização, que o mundo enfrenta "um momento de perigo" com a crise na Ucrânia.
Para Guterres, "a decisão da Rússia de reconhecer a chamada 'independência' das regiões de Donetsk e Lugansk - e ações subsequentes - são violações da integridade territorial e soberania da Ucrânia e incompatíveis com os princípios da Carta da ONU".
Mais tarde, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, tomou a palavra, enfatizando que aquele país não era uma ameaça para a Rússia. "A Ucrânia nunca planejou, nem planeja, nenhuma operação militar em Donbas", disse ele sobre as alegações russas de ações militares de Kiev na região leste, onde esses enclaves separatistas pró-Rússia estão localizados.
Kuleba pediu à ONU que tome "medidas concretas e rápidas" para impedir a escalada, que ele diz ser alimentada pelo avanço militar das tropas russas. "O início de uma guerra em grande escala na Ucrânia será o fim da ordem mundial como a conhecemos", alertou, enfatizando: "Queremos a paz!"
Crise dos refugiados
A Ucrânia está cercada ao norte, sul e leste por 150.000 soldados russos, no que as potências ocidentais consideram uma estratégia de "invasão" de Moscou.
A Rússia anunciou a mobilização de tropas, que descreveu como "corpos de paz", em direção aos dois enclaves separatistas, cuja disputada independência Moscou reconheceu nesta terça-feira e que considera estarem sendo atacados por Kiev.
A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, sublinhou que "se a Rússia continuar nesse caminho, poderá - segundo nossas estimativas - criar uma nova crise de refugiados, uma das maiores do mundo atual, com até 5 milhões de pessoas deslocadas pela guerra escolhida pela Rússia e sua pressão sobre os vizinhos da Ucrânia".
Segundo a americana, "como a Ucrânia é um dos maiores fornecedores mundiais de trigo, particularmente para o mundo em desenvolvimento, as ações da Rússia podem fazer com que os preços dos alimentos subam rapidamente e causem uma fome ainda mais desesperadora do que em lugares como Líbia, Iêmen e Líbano".
Antes, seu colega russo, Vassily Nebenzia, afirmou que a situação atual é resultado do "golpe de 2014", que levou a uma mudança de poder na Ucrânia com a saída forçada de um governo pró-Rússia. Desde então, Kiev realiza uma "repressão" contra a minoria de língua russa na Ucrânia, denunciou, evocando inclusive o termo "genocídio", usado pelo presidente russo, Vladimir Putin, em seus últimos discursos.
Pressão sobre Moscou
As ações de Moscou foram recebidas com uma onda de sanções anunciadas por Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e União Europeia. Na Assembleia da ONU, a maioria dos oradores, representando todos os continentes, criticou, alguns mais abertamente do que outros, as recentes decisões e ações da Rússia.
A reunião da Assembleia Geral, com a participação de todos os 193 membros da ONU, é uma sessão anual para discutir os "territórios temporariamente ocupados da Ucrânia", realizada desde a anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014.
Nesta quarta-feira, a Ucrânia denunciou um ataque cibernético em massa que afetou os principais sites do governo.
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