Governo brasileiro defende "solução negociada" na crise entre Rússia e Ucrânia

Correio Braziliense

postado em 23/02/2022 06:00

(crédito: AFP)

Em meio a críticas sobre como tem se posicionado na crise entre Moscou, Kiev e líderes do Ocidente, o governo brasileiro divulgou uma nota defendendo "a imediata desescalada" da tensão e "uma solução negociada" para o conflito. Em nota, o Itamaraty defende que a solução do problema tem que levar "em consideração os legítimos interesses de segurança da Rússia e da Ucrânia e a necessidade de respeitar os princípios da Carta das Nações Unidas."

O texto reproduz a declaração do embaixador Ronaldo Costa Filho, representante do país na ONU, feita durante a reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas no fim da noite de segunda. O encontro de emergência durou uma hora e meia e foi um dos desdobramentos do anúncio feito pelo presidente Vladimir Putin em que ele reconheceu a independência de duas repúblicas separatistas no leste da Ucrânia. Na reunião de emergência, a maioria dos países membro condenou a decisão. A presidência rotativa do Conselho é ocupada atualmente pela Rússia.

A manobra de Putin acirrou a crise internacional e pode, segundo especialistas, favorecer uma investida militar no resto da Ucrânia, considerando que os confrontos estão cada vez mais acirrados na área separatista e que o presidente russo tem alegado que poderá mandar forças militares para garantir a paz na região. A estimativa é de que haja 150 mil soldados russos no local.

A nota do Itamaraty não faz referência a Putin, que recebeu, na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro. Após o encontro, o brasileiro disse que o colega russo queria a "paz" e indicou que o Brasil era solidário com qualquer país que buscasse solucionar os conflitos de forma pacífica. A viagem, porém, foi criticada pela Casa Branca.

Segundo a secretária de imprensa do governo americano, Jen Psaki, a visita a Putin deixou o Brasil em posição contrária à da comunidade global. "Invadir um outro país, tentar tirar parte do seu território e aterrorizar a população certamente não está alinhado com valores globais e, então, acho que o Brasil parece estar do outro lado de onde está a maioria da comunidade global", justificou Psaki.

Ameaça aos direitos humanos

A Organização das Nações Unidas alertou ontem sobre “um risco crescente de violações dos direitos humanos” com a escala militar na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia. A alta comissária para os direitos humanos da instituição, Michelle Bachelet, se declarou, em comunicado, “profundamente preocupada” com os desdobramentos dos confrontos na região, assim como com a possibilidade de violações do direito humanitário internacional. “Peço a todas as partes que acabem com as hostilidades e abram uma caminho para o diálogo e não para a violência", escreveu. Os confrontos no leste da Ucrânia causaram mais de 14 mil mortos desde 2014, após a anexação da Crimeia por Moscou.