Potências ocidentais estão ameaçando a Rússia com severas sanções econômicas para tentar impedir a invasão da Ucrânia.
O Senado dos EUA está montando uma lista de medidas que chama de "a mãe de todas as sanções" e o presidente americano, Joe Biden, diz que seu colega russo, Vladimir Putin, "nunca viu sanções como as que prometi que seriam impostas".
No entanto, diplomatas ocidentais estão se recusando a ser explícitos sobre penalidades específicas, para manter a Rússia na dúvida.
Na noite desta segunda-feira (21/2), Putin ordenou o envio de tropas a duas regiões controladas por rebeldes no leste da Ucrânia, Luhansk e Donetsk, após Moscou reconhecê-las como Estados independentes.
A Rússia disse que as tropas seriam para "manutenção da paz" nas regiões separatistas, que apoia desde 2014. Mas os EUA disseram que chamá-las de pacificadoras era "absurdo" e acusaram Moscou de criar um pretexto para a guerra.
O presidente da Ucrânia disse que seu país "não tem medo de nada nem de ninguém".
Na manhã desta terça-feira (22/2), o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse que vai revelar um "primeiro conjunto" de sanções econômicas contra a Rússia mais tarde. O premiê britânico disse que o Reino Unido "atingiria a Rússia com muita força". Ele acrescentou que "vamos fazer muito mais" se ocorrer uma invasão em grande escala da Ucrânia.
A expectativa é que ele apresente mais detalhes dessas medidas no Parlamento do Reino Unido.
Johnson disse que a Rússia violou a soberania da Ucrânia e "rasgou" a lei internacional, depois de enviar tropas para as regiões controladas pelos rebeldes.
Então, quais sanções o Ocidente pode estar planejando?
1. Restrições financeiras
Uma medida considerada seria excluir a Rússia do sistema conhecido como Swift — um serviço global de mensagens financeiras. É usado por milhares de instituições financeiras em mais de 200 países.
Isso efetivamente tornaria muito difícil para os bancos russos fazer negócios no exterior.
Essa sanção foi usada contra o Irã em 2012 e o país perdeu receitas de petróleo significativas e uma grande parte do comércio exterior.
No entanto, essa sanção teria um custo econômico para países como Estados Unidos e Alemanha, cujos bancos têm vínculos estreitos com instituições financeiras russas.
A Casa Branca diz ser improvável que essa medida seja tomada como uma resposta imediata a uma invasão da Ucrânia pela Rússia.
"Provavelmente, essa medida não estará no pacote de sanções inicial", disse o vice-conselheiro de segurança nacional dos EUA, Daleep Singh.
2. Operação com dólar
Os EUA poderiam proibir a Rússia de transações financeiras envolvendo dólares americanos. Essencialmente, qualquer empresa ocidental que permitisse que uma instituição russa negociasse em dólares enfrentaria penalidades.
Isso significaria que a Rússia seria extremamente limitada no que poderia comprar e vender em todo o mundo.
Isso pode ter um enorme impacto na economia da Rússia, já que a maior parte de suas vendas de petróleo e gás são liquidadas em dólares.
3. Dívida soberana
As potências ocidentais poderiam tomar medidas para bloquear ainda mais o acesso da Rússia aos mercados internacionais de dívida.
A capacidade das instituições e bancos ocidentais de comprar títulos russos já está restrita — essas restrições podem ser reforçadas.
Isso privaria o país do acesso ao financiamento de que precisa para que sua economia cresça. O custo dos empréstimos do país pode aumentar e o valor do rublo, a moeda russa, pode cair.
A Rússia preparou-se para isso reduzindo o montante da dívida detida por investidores estrangeiros.
4. Bancos na mira
Os EUA poderiam simplesmente colocar na chamada lista negra (blacklist, em inglês) alguns bancos russos e tornar quase impossível para qualquer pessoa no mundo realizar transações com eles.
Moscou teria que socorrer os bancos e fazer o que pudesse para evitar o aumento da inflação e a queda da renda.
No entanto, isso teria um grande impacto negativo para os investidores ocidentais com dinheiro nesses bancos russos.
5. Controles de exportação direcionados
O Ocidente poderia restringir a exportação de commodities-chave para a Rússia.
Os EUA poderiam, por exemplo, impedir que empresas vendessem quaisquer produtos que contenham tecnologia, software ou equipamento americano.
Isso poderia envolver, em particular, microchips semicondutores, usados em tudo - carros, celulares, máquinas e eletrônicos em geral.
Isso teria como alvo não apenas os setores de defesa e aeroespacial da Rússia, mas grandes setores de sua economia.
6. Restrições de energia
A economia da Rússia é extremamente dependente da venda de gás e petróleo no exterior. As vendas são uma grande fonte de receita para o Kremlin.
O Ocidente pode tornar ilegal que países e empresas comprem petróleo dos grandes gigantes russos da energia, como Gazprom ou Rosneft.
Os EUA poderiam usar sua força diplomática para impedir que um novo gasoduto sob o Mar Báltico da Rússia à Alemanha — chamado Nord Stream 2 — entre em operação. Ele já foi construído, mas ainda está aguardando aprovação regulatória.
O presidente Biden disse: "Prometo que seremos capazes de fazer isso"
Mas qualquer restrição ao gás russo aumentaria os preços em toda a Europa, muitos dos quais dependem da energia do leste.
7. Indivíduos como alvo
Novas sanções podem ser direcionadas a indivíduos, incluindo não apenas associados de Vladimir Putin, mas também o próprio presidente russo.
Isso provavelmente envolveria punir atos de hostilidade contra a Ucrânia ou ameaçar sua soberania ou integridade territorial.
Congelamentos de ativos e banimentos de viagens são as opções mais prováveis. Mas muitas dessas sanções já estão em vigor e ainda não tiveram o impacto esperado no comportamento dos russos.
A esperança das potências norte-americanas e europeias é que a elite russa pressione Putin se eles não puderem acessar sua riqueza em países estrangeiros e educar seus filhos em escolas e universidades ocidentais.
8. Restrições em Londres
Algumas sanções podem ser impostas para restringir a capacidade dos russos de investir e viver em Londres.
Tal é a escala do dinheiro russo em bancos e propriedades no Reino Unido que a capital foi apelidada de "Londongrad" (algo como "Londresgrado", em tradução livre).
O governo do Reino Unido afirma que está lidando com esse problema ao exigir que as pessoas informem a origem do dinheiro.
Algumas organizações dos EUA querem que a Casa Branca pressione o Reino Unido mais fortemente.
Dificuldades para o Ocidente
Os países ocidentais traçaram planos para sanções coordenadas e severas se a Rússia lançar uma invasão total da Ucrânia.
Mas e se Moscou fizer apenas uma "pequena incursão", nas palavras de Joe Biden?
Há também a possibilidade de que a Rússia possa manter suas tropas cercando a Ucrânia por meses a fio para ameaçá-la, enquanto lança ataques cibernéticos para enfraquecê-la.
Diplomatas americanos e europeus dizem que os países ocidentais estão menos unidos em como responder a esses cenários.
Alguns países que têm relações mais estreitas com a Rússia — como Hungria, Itália e Áustria — podem não estar dispostos a implementar sanções, exceto após um ataque total.
A Rússia também poderia mitigar o impacto das sanções ocidentais ao buscar apoio na China e em outros aliados.
A conclusão é que as sanções econômicas mais eficazes geralmente têm um preço alto para aqueles que as impõem. Nem todos no Ocidente estão dispostos a tomá-las.
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