HISTÓRIA

Rússia x Ucrânia: o que é ataque de bandeira falsa e quando foi usado na História

O conflito no leste da Ucrânia se intensificou, com vários incidentes suspeitos

BBC
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postado em 22/02/2022 08:38
 (crédito:  Reuters)
(crédito: Reuters)

À medida que o conflito no leste da Ucrânia se intensifica, a Grã-Bretanha e os EUA suspeitam que a Rússia esteja planejando ataques de "bandeira falsa" com o objetivo de criar um pretexto para uma invasão.

Separatistas apoiados pela Rússia já acusaram os militares da Ucrânia de uma série de ataques altamente duvidosos, e agora estão pedindo que os civis saiam das áreas ocupadas.

O que é uma bandeira falsa?

Uma bandeira falsa é uma ação política ou militar realizada com a intenção de culpar um oponente pelo ocorrido.

No passado, algumas nações fizeram isso por meio de encenações de um ataque real e culpando o inimigo logo na sequência, como pretexto para ir à guerra.

O termo foi usado pela primeira vez no século 16 para descrever como os piratas hasteavam a bandeira de uma nação amiga para enganar os navios mercantes, que se aproximavam da embarcação sem saber que corriam risco.

Como você vai ver a seguir, os ataques de bandeira falsa têm uma longa história.

Invasão alemã da Polônia, 1939

Na noite anterior à invasão da Polônia pela Alemanha, sete soldados alemães da SS (organização paramilitar ligada ao Partido Nazista) fingiram ser poloneses e invadiram a torre de rádio da cidade Gleiwitz, no lado alemão da fronteira.

Torre de rádio Gleiwitz, na fronteira germano-polonesa
NurPhoto via Getty Images
A torre de rádio Gleiwitz foi invadida por tropas da SS disfarçadas em 1939

Eles transmitiram uma mensagem curta para dizer que a estação estava agora em mãos polonesas.

Os soldados também deixaram para trás o corpo de um civil, vestido como um soldado polonês, para fazer parecer que ele havia sido morto no ataque.

Adolf Hitler fez um discurso no dia seguinte citando o ataque de Gleiwitz e outros incidentes orquestrados de forma semelhante para justificar a invasão da Polônia.

Eclosão da Guerra Russo-Finlandesa, 1939

Naquele mesmo ano, a vila russa de Mainila ficou sob fogo de artilharia. Ela ficava perto da fronteira e a União Soviética usou o suposto ataque para quebrar seu pacto de não agressão com a Finlândia, dando início à chamada Guerra de Inverno.

Passadas algumas décadas, os historiadores concluíram que o bombardeio da vila não foi realizado pelo exército finlandês, mas foi um ataque realizado pela própria agência de segurança estatal soviética NKVD.

Boris Yeltsin, o primeiro presidente da Federação Russa, admitiu em 1994 que o conflito foi uma guerra criada pelos soviéticos.

Incidente no Golfo de Tonkin, 1964

A data de 2 de agosto de 1964 ficou marcada por uma batalha naval entre um destróier norte-americano e torpedeiros norte-vietnamitas no Golfo de Tonkin, na costa do Vietnã.

Os dois lados sofreram danos em seus navios e baixas nas tripulações.

À época, a Agência de Segurança Nacional dos EUA afirmou que, dois dias depois da batalha, outro conflito semelhante aconteceu.

É provável, no entanto, que o segundo ataque dos norte-vietnamitas nunca tenha acontecido.

O capitão de um destróier naval dos EUA informou inicialmente que estava sendo cercado e alvejado por torpedeiros inimigos. Mas, depois, ele disse que, devido ao mau tempo e à baixa visibilidade, ele não tinha certeza de que estava realmente sob risco.

Documentos que perderam a confidencialidade em 2005 sugerem que a marinha norte-vietnamita não estava atacando o navio dos EUA naquela data. O objetivo era salvar dois dos barcos danificados na batalha anterior, de 2 de agosto.

No entanto, o então presidente americano Lyndon B. Johnson e sua equipe decidiram acreditar na versão inicial dos eventos e apresentaram os incidentes ao Congresso como dois ataques não provocados às forças dos EUA pelo Vietnã do Norte.

Isso levou à Resolução do Golfo de Tonkin, que permitiu que o presidente Johnson iniciasse bombardeios no Vietnã do Norte e aumentasse muito o envolvimento militar dos EUA na Guerra do Vietnã.

"Homenzinhos verdes" na Crimeia, 2014

Nos primeiros dias da anexação da Crimeia pela Rússia, começaram a aparecer nas ruas pessoas vestidas e armadas exatamente como soldados russos, mas sem a insígnia do país nos uniformes.

O Kremlin insistiu que eram membros de "grupos de autodefesa" locais que queriam a devolução do território, antes sob domínio da Ucrânia, à Rússia.

Militares armados esperam perto de veículos do exército russo do lado de fora de um posto de guarda de fronteira ucraniano na cidade de Balaclava, na Crimeia, em 1º de março de 2014.
Reuters
Os "homenzinhos verdes" da Crimeia não usavam identificação, mas seus uniformes e armas eram russos

Representantes do governo russo ainda disseram que eles compraram as roupas e os equipamentos em lojas.

Jornalistas russos passaram a chamar essas pessoas de "homens educados", enquanto os moradores locais da Crimeia preferiram o termo "homenzinhos verdes", numa dupla referência à cor dos uniformes e à origem não confirmada deles.

Fronteira da Caxemira, 2020

A Índia e o Paquistão frequentemente se acusam mutuamente de realizar ataques de bandeira falsa ao longo da disputada fronteira da Caxemira para provocar um conflito militar.

Em 2020, o Ministério das Relações Exteriores do Paquistão acusou tropas indianas de atirar em um veículo que continha observadores da Organização das Nações Unidas (ONU) no lado paquistanês da fronteira, considerando que a ONU poderia pensar que as tropas paquistanesas eram as responsáveis pelo ataque.

Soldado da fronteira monta guarda na fronteira da Caxemira
NurPhoto via Getty Images
Índia e Paquistão frequentemente se acusam de ataques de bandeira falsa na fronteira da Caxemira

Os representantes do governo paquistanês disseram que a Índia estava tentando semear a discórdia entre o país e a comunidade internacional. O primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, chegou a classificar a medida como "imprudente".

A Índia negou a acusação e, por sua vez, culpou o Paquistão por não manter seu próprio lado da fronteira seguro.


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