Conflito

Putin considera reconhecer independência de região separatista da Ucrânia

A reunião do Conselho de Segurança presidencial, convocada às pressas, ocorre em meio a um aumento nos confrontos no leste da Ucrânia que as potências ocidentais acreditam que a Rússia poderia usar como pretexto para lançar um ataque

Agência Estado
postado em 21/02/2022 13:18 / atualizado em 21/02/2022 13:18
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

O presidente russo, Vladimir Putin, convocou nesta segunda-feira, 21, autoridades de alto escalão para considerar o reconhecimento da independência das regiões separatistas no leste da Ucrânia, uma medida que pode aumentar as tensões com o Ocidente em meio a temores de que o Kremlin possa lançar uma invasão do país vizinho nos próximos dias.

A reunião do Conselho de Segurança presidencial, convocada às pressas, ocorre em meio a um aumento nos confrontos no leste da Ucrânia que as potências ocidentais acreditam que a Rússia poderia usar como pretexto para lançar um ataque. Os bombardeios contínuos continuaram na segunda-feira no conflito entre as forças do governo ucraniano e os separatistas pró-Moscou nas regiões de Donetsk e Luhansk.

"Vamos decidir nossos passos futuros nessa direção, tendo em conta também a solicitação para o reconhecimento da soberania, e o pedido da Duma (câmara baixa do Parlamento russo) sobre o mesmo tema", disse Putin.

Mais cedo, os líderes das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Luhansk fizeram um pedido para que o Kremlin reconheça ambas como Estados independentes. Os pedidos foram exibidos em mensagens de vídeo exibidos pelo canal de televisão Rússia 24.

"Em nome de todos os povos da República Popular de Donetsk (RPD), pedimos que reconheça a República Popular de Donetsk como um Estado independente, democrático, social e de Direito", disse Denis Pushilin, líder dos separatistas da região.

"Estimado Vladimir Vladimirovich (segundo nome de Putin), com o fim de impedir a morte massiva dos habitantes da república, peço que reconheça a soberania e a independência da República Popular de Luhansk", disse Leonid Pasechnik, pedindo também que o líder russo estude a possibilidade de firmar um tratado de cooperação de amizade entre Rússia e a RPL.

Em comentários televisionados, Putin apareceu respondendo a uma avaliação de seu enviado especial para a Ucrânia, Dmitry Kozak, que disse acreditar que Kiev nunca implementaria os acordos de paz de Minsk. Putin disse que seu colega francês Emmanuel Macron lhe disse que a liderança da Ucrânia estava pronta para implementar o processo de paz e estava trabalhando em novas ideias para realizar eleições nas duas regiões separatistas.

O Kremlin inicialmente sinalizou sua relutância em reconhecer as regiões como independentes, argumentando que isso efetivamente quebraria um acordo de paz de 2015 para o leste da Ucrânia que marcou um grande golpe diplomático para Moscou, exigindo que as autoridades ucranianas oferecessem um "autogoverno" às regiões rebeldes. Mas Putin argumentou na segunda-feira que as autoridades ucranianas não mostraram interesse em implementar o acordo.

Ex-presidente da Rússia e atualmente parte do Conselho de Segurança russo, Dmitri Medvedev afirmou que Moscou "pode ter que reconhecer" a independência de Donetsk e Luhansk se a situação no leste ucraniano não melhorar - situação que ele considera pouco provável. Medvedev disse a Putin crer que a maioria dos russos apoia a independência das duas regiões, nas quais vivem cerca de 800 mil cidadãos russos.

Tentativas diplomáticas

A reunião do órgão de segurança russo ocorre depois que Macron costurou um encontro entre os presidentes dos EUA e da Rússia, em um último esforço para evitar uma possível invasão da Ucrânia. O Kremlin nega que a reunião já esteja marcada.

O conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse que o governo sempre esteve pronto para conversar para evitar uma guerra - mas também estava preparado para responder a qualquer ataque.

"Então, quando o presidente Macron perguntou ao presidente Biden no domingo se ele estava preparado em princípio para se encontrar com o presidente Putin, se a Rússia não invadisse, é claro que o presidente Biden disse que sim", disse ele ao programa Today da NBC na segunda-feira. "Mas todas as indicações que vemos no terreno agora em termos da disposição das forças russas é que elas estão, de fato, se preparando para um grande ataque à Ucrânia."

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse a repórteres na segunda-feira que Putin e Biden podem se encontrar se considerarem "viável", mas enfatizou que "é prematuro falar sobre planos específicos para uma cúpula". O gabinete de Macron disse que o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, devem estabelecer as bases para a possível cúpula quando se reunirem na quinta-feira. O líder francês tem tentado agir como intermediário para evitar uma nova guerra na Europa, e seu anúncio seguiu uma enxurrada de ligações de Macron para Putin, Biden, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson e o presidente ucraniano Volodmir Zelenski.

Tensões crescentes

Mesmo enquanto a diplomacia avançava, havia sinais de escalada no conflito mais amplo. A Rússia e sua aliada Belarus anunciaram no domingo que estavam estendendo a permanência das tropas russas em solo belarusso e os exercícios militares no país, o que poderia servir de palco para um ataque à capital ucraniana, Kiev, localizada a apenas 75 quilômetros ao sul da fronteira de Belarus.

A partir de quinta-feira, os bombardeios também aumentaram ao longo da tensa linha de contato que separa as forças ucranianas e os rebeldes separatistas apoiados pela Rússia na região do Donbass, no Leste da Ucrânia. Mais de 14.000 pessoas foram mortas desde que o conflito eclodiu em 2014, logo após Moscou anexar a Península da Crimeia na Ucrânia.

A Ucrânia e os rebeldes separatistas trocaram acusações pelas violações em massa do cessar-fogo com centenas de explosões registradas diariamente. O mundo está assistindo os combates com cautela desde que as autoridades ocidentais alertaram há semanas que a Rússia procuraria um pretexto para invadir - e que o conflito em Donbass poderia fornecer essa desculpa para uma invasão.

Na sexta-feira, autoridades separatistas anunciaram a retirada de civis (mais de 14 mil já foram retirados) e a mobilização militar diante do que descreveram como uma "iminente ofensiva ucraniana nas regiões rebeldes". Autoridades ucranianas negaram quaisquer planos de lançar um ataque.

Embora os separatistas apoiados pela Rússia tenham acusado as forças ucranianas de atirar em áreas residenciais, jornalistas da Associated Press que reportaram de várias cidades e vilarejos em território ucraniano ao longo da linha de contato não testemunharam nenhuma escalada do lado ucraniano e documentaram sinais de bombardeios intensificados pelos separatistas que destruíram casas e estradas.

Alguns moradores da principal cidade de Donetsk, controlada pelos rebeldes, descreveram bombardeios esporádicos das forças ucranianas, mas acrescentaram que não foi na mesma escala do conflito de quase 8 anos no Leste.

As autoridades separatistas disseram na segunda-feira que pelo menos quatro civis foram mortos por bombardeios ucranianos nas últimas 24 horas e vários outros ficaram feridos. Os militares da Ucrânia disseram que dois soldados ucranianos foram mortos no fim de semana e outro militar foi ferido na segunda-feira.

O porta-voz militar ucraniano, Pavlo Kovalchiuk, disse que os separatistas estavam "atirando de áreas residenciais usando civis como escudos". Ele insistiu que as forças ucranianas não estavam respondendo ao fogo.

Em outro sinal preocupante, Moscou também alegou que forças da Ucrânia cruzaram a região russa de Rostov. Os militares russos disseram que mataram cinco suspeitos de serem "sabotadores" que cruzaram a fronteira da Ucrânia e também destruíram dois veículos blindados. O porta-voz da Guarda de Fronteira ucraniana, Andrii Demchenko, descartou a alegação russa como "desinformação".

Em meio aos crescentes temores de invasão, o governo dos EUA enviou uma carta ao chefe de direitos humanos das Nações Unidas alegando que Moscou compilou uma lista de ucranianos a serem mortos ou enviados para campos de detenção após a invasão. A carta, noticiada pela primeira vez pelo The New York Times, foi obtida pela AP. Peskov, porta-voz do Kremlin, disse que a alegação era uma mentira e que essa lista não existe.

Ao longo da crise, os líderes da Ucrânia procuraram projetar calma - repetidamente minimizando a ameaça de uma invasão. O ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, disse na segunda-feira que a Rússia reuniu 147.000 soldados ao redor da Ucrânia, incluindo 9.000 em Belarus, argumentando que o número é claramente insuficiente para uma ofensiva na capital ucraniana. "A conversa sobre um ataque a Kiev do lado belarusso parece ridícula", disse ele, acusando a Rússia de usar as tropas de lá como uma tática de medo.

O principal diplomata da União Europeia, o chefe de política externa Josep Borrell, saudou a perspectiva de uma cúpula Biden-Putin, mas disse que o bloco de 27 países finalizou seu pacote de sanções para uso se Putin ordenar uma invasão. "O trabalho está feito. Estamos prontos", disse Borrell. Ele não forneceu detalhes sobre quem pode ser o alvo. (Com agências internacionais).

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