A tensão na fronteira da Rússia com a Ucrânia segue elevada, mas observadores internacionais apontam que há uma janela de oportunidade para a diplomacia, aberta com declarações dos líderes dos principais atores da crise. Na conversa entre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o primeiro ministro inglês, Boris Johnson, ontem, por telefone, os dois deixaram claro que ainda há espaço para negociações com a Rússia.
"O primeiro-ministro e o presidente Biden se informaram mutuamente de suas recentes discussões com seus colegas dirigentes mundiais. Estiveram de acordo em que ainda resta uma oportunidade crucial para a diplomacia e para que a Rússia renuncie a suas ameaças contra a Ucrânia", disse o porta-voz de Boris Johnson, após a ligação telefônica.
Apesar das declarações, os Estados Unidos e seu principal aliado europeu mantêm o teor das ameaças de retaliação caso o presidente russo, Vladimir Putin, determine o avanço de tropas sobre a fronteira ucraniana.
Johnson e Biden reiteraram que uma invasão da Ucrânia "provocaria uma crise prolongada para a Rússia, com danos consideráveis tanto para a Rússia quanto para o (resto do) mundo". E destacaram que é preciso que os ocidentais "permaneçam unidos frente às ameaças russas, sobretudo impondo um conjunto importante de sanções se houver uma escalada na agressão russa" e que "os países europeus (devem) reduzir sua dependência do gás russo, uma medida que, mais do que nenhuma outra, afetaria o centro dos interesses estratégicos da Rússia".
No domingo, também por telefone, Biden e o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, "concordaram sobre a importância de continuar no caminho da diplomacia e da dissuasão".
Ontem, Zelensky recebeu o chanceler alemão, Olaf Scholz, para discutir a questão. Depois de três horas de reunião, Scholz declarou que a entrada da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não está na agenda. "A questão da adesão à aliança não existe, é, de alguma forma, curioso que o governo russo esteja fazendo algo que praticamente não está na agenda como objeto de grandes problemas políticos." A possibilidade de ingresso da Ucrânia na Otan é um dos pontos que o governo Putin considera inegociável.
Saiba Mais
- Mundo DNA de elefantes: uma nova arma contra o tráfico de marfim
- Mundo É 'absolutamente possível' que Putin aja com pouco ou nenhum aviso, diz Pentágono
- Mundo Alto Representante da União Europeia afirma que acordo nuclear 'está à vista'
- Mundo França retira necessidade de teste de covid-19 para entrada no país
Aceno russo
Moscou assegura que não age com intenção bélica, mas condiciona uma desescalada da tensão a "garantias de segurança" como, por exemplo, o compromisso de que a Ucrânia não integrará a Otan.
Em dois encontros, divulgados pelas emissoras de TV russas, Putin tratou da crise com o chefe da diplomacia, Serguei Lavrov, e com o ministro da Defesa, Serguei Shoigu.
Lavrov considerou que "há uma possibilidade" de "resolver os problemas" e que o caminho do diálogo "não se esgotou, mas também não pode durar indefinidamente". E enfatizou que a Rússia está pronta para "ouvir contrapropostas sérias". Em outro sinal de desescalada, pouco depois, Serguei Shoigu afirmou na audiência com Putin que os exercícios militares promovidos pela Rússia ao lado de Belarus estavam "terminando". "Alguns exercícios estão sendo realizados, uma parte está concluída, outra está terminando. E outros ainda estão em andamento devido a sua magnitude", disse Shoigu.
Em outra frente diplomática, o embaixador russo na União Europeia (UE), Vladimir Chizhov, disse ao jornal britânico The Guardian que seu país "não vai invadir a Ucrânia, a menos que nos provoquem a fazê-lo". E deu exemplos de ações que não seriam toleradas: "Se os ucranianos lançarem um ataque contra a Rússia, não deveria surpreender se contra-atacarmos. Ou, se começarem a matar descaradamente cidadãos russos de qualquer lugar, em Donbass ou em qualquer outro local", citando à região do leste da Ucrânia onde separatistas pró-russos lutam há oito anos contra as forças do governo de Kiev.
G7 sobe o tom
Os ministros das Finanças do G7 (grupo que reúne os países mais ricos do mundo) estão dispostos a impor "em um prazo muito curto" sanções econômicas e financeiras "com consequências importantes e imediatas para a economia russa", em caso de agressão militar contra a Ucrânia.
"Nossa prioridade imediata é apoiar os esforços destinados a fazer a situação avançar", informaram os ministros de Reino Unido, Estados Unidos, França, Canadá, Alemanha, Itália e Japão em um comunicado. "Mas qualquer agressão militar da Rússia contra a Ucrânia merecerá uma resposta rápida e eficaz", garante o G7, presidido atualmente pela Alemanha.
Ontem, o chanceler alemão, Olaf Scholz, antes de embarcar para Kiev, pediu à Rússia "sinais imediatos de desescalada" na crise com a Ucrânia. Ele classificou a situação como "muito, muito grave". Na quarta-feira, Scholz irá a Moscou, se encontrar com o presidente Putin.
Nesse jogo de morde-assopra entre Rússia e países da Otan, o ministério da Defesa do Reino Unido informou que enviará um "pequeno número" de tropas para a Lituânia (país membro da Otan que não faz fronteira com Rússia e Ucrânia). "Em espírito de solidariedade, o Reino Unido enviará um pequeno número de militares para apoiar a Lituânia com inteligência, vigilância e reconhecimento. Essa implantação ajudará a reforçar a capacidade da Lituânia de lidar com pressões ao longo de sua fronteira com Belarus", disse o ministério no Twitter.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.