Dois jornalistas estrangeiros que estavam em missão no Afeganistão para a Agência da ONU para Refugiados (Acnur) foram detidos em Cabul junto com colegas afegãos, informou a entidade nesta sexta-feira (11).
Esta prisão ocorre quase seis meses após a tomada de poder pelo Talibã no Afeganistão depois de uma ofensiva que derrubou um governo apoiado por países ocidentais.
"Dois jornalistas que estavam em missão com a Acnur e cidadãos afegãos que trabalhavam com eles foram detidos em Cabul. Estamos fazendo todo o possível para resolver a situação", disse o escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados no Twitter.
O jornalista freelance e ex-correspondente da BBC Andrew North, que trabalha regularmente no Afeganistão há duas décadas, está entre os detidos, segundo sua esposa Natalia Antelava.
"Andrew estava em Cabul trabalhando para a Acnur e tentando ajudar o povo do Afeganistão. Estamos muito preocupados com sua segurança e pedimos a todos com influência que ajudem a garantir sua libertação", afirmou ela no Twitter.
O governo talibã está estudando o caso, segundo seu porta-voz, Zabihullah Mujahid. "Recebemos informações sobre a situação e estamos tentando confirmar se eles foram detidos ou não", disse ele à AFP.
Desde que os talibãs voltaram ao poder em agosto, a ONU tenta coordenar a ajuda humanitária para milhões de pessoas que sofrem neste país empobrecido.
Conversas com os ocidentais
O governo dos radicais islâmicos busca desesperadamente uma legitimação em nível internacional, para aliviar uma séria crise econômica gerada pelo congelamento de fundos no exterior e uma queda na ajuda internacional, o que agrava a situação humanitária.
Nesta sexta-feira, o governo de Joe Biden informou que os Estados Unidos vão apreender 7 bilhões de dólares em ativos afegãos.
Até o momento, nenhum país reconheceu o governo talibã, mas uma delegação de Cabul viajou para a Noruega e Genebra para conversar com países ocidentais.
A segurança melhorou no país desde que os islâmicos tomaram o poder após a derrota das forças locais apoiadas pela Otan, mas o novo governo lançou uma dura repressão contra jornalistas.
Pelo menos 50 jornalistas afegãos foram presos pela polícia ou pelos serviços de inteligência do Talibã, de acordo com estudo recente da ONG Repórteres Sem Fronteiras.
As detenções são muitas vezes perpetradas com violência e os comunicadores chegam a passar quase uma semana detidos.
O Afeganistão é um dos países mais perigosos para jornalistas há décadas e vários repórteres foram mortos em crimes atribuídos aos talibãs nos meses anteriores à sua chegada ao poder.
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas, uma organização independente com sede em Nova York, disse que a prisão é um "triste reflexo de um declínio geral na liberdade de imprensa e um aumento nos ataques contra os jornalistas sob o regime talibã".
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